Veterano russo faz continência: Putin enfatizou importância do cessar-fogo bilateral e de negociações diretas (AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de junho de 2014 às 18h07.
Um líder separatista ucraniano declarou nesta segunda-feira que os rebeldes pró-russos respeitarão um cessar-fogo provisório e vão tentar dialogar com o novo presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, pondo fim a dez semanas de combate no leste do país.
Esse anúncio inesperado acontece um dia depois de a Rússia, acusada pelos ocidentais de querer desestabilizar a Ucrânia fornecendo armas à rebelião, destacar que considera necessário um cessar-fogo duradouro para o início de um diálogo entre as autoridades de Kiev e os rebeldes separatistas.
Ameaçado com novas sanções por Washington, o presidente russo, Vladimir Putin, enfatizou a importância do cessar-fogo bilateral e de negociações diretas entre as duas partes.
Os serviços de segurança ucranianos confirmaram que os combates nas regiões industriais de Slaviansk e Donetsk, palco dos mais intensos combates registrados nas últimas semanas, perderam intensidade no final da tarde desta segunda-feira.
"Em resposta ao cessar-fogo declarado por Kiev, nós nos comprometemos também com um cessar-fogo de nossa parte", afirmou Olekasnr Borodai, da autoproclamada República Popular de Donetsk, citado pela agência de notícias Itar-Tass.
"Este cessar-fogo terminará em 27 de junho", acrescentou.
Esperança de negociações
"Nós esperamos iniciar durante este período de cessar-fogo consultas sobre a realização de negociações para uma solução pacífica para o conflito", insistiu Borodai.
O presidente pró-ocidental ucraniano decretou um cessar-fogo unilateral de uma semana na sexta-feira passada para permitir que os rebeldes entreguem suas armas e o início de um diálogo com os insurgentes.
Os combates entre as tropas ucranianas e os insurgentes, que proclamaram sua independência nas duas regiões do leste, deixaram 375 mortos desde abril, ameaçando a unidade desta ex-república soviética, após a anexação da Crimeia à Rússia em março.
O cessar-fogo anunciado por Kiev tinha sido rejeitado pelos insurgentes, e, desde então, as autoridades ucranianas registraram mais de 20 ataques rebeldes.
Mas Vladimir Putin, pressionado pelos líderes ocidentais, fez um apelo para que a trégua unilateral fosse respeitada. Ele também expressou apoio ao plano de paz de Kiev, exigindo direitos aos habitantes de língua russa do leste do país e um diálogo "substancial" com os rebeldes.
"Da mais alta prioridade"
Em uma conversa por telefone com Barack Obama nesta segunda sobre os meios de acabar com a crise na Ucrânia, Putin "enfatizou que um real cessar-fogo e o início de negociações diretas entre as partes em conflito são as prioridades para a normalização da situação nas regiões do sudeste da Ucrânia", segundo o Kremlin.
A pressão sobre a Rússia aumentou consideravelmente nas últimas horas, com o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, ressaltando que esta "é uma semana crucial para a Ucrânia".
O presidente americano também ameaçou Moscou com novas sanções, caso não impeça a passagem de armas e combatentes na Ucrânia, de acordo com a Casa Branca.
Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) também exigiram nesta segunda-feira que a Rússia apoie o plano de paz apresentado pelo presidente ucraniano e que não interfira em sua aplicação, sob pena de maiores sanções.
O plano de paz de Poroshenko representa "uma chance importante para a desescalada", afirmaram após reunião em Luxemburgo.
Para que o processo tenha chances de avançar, "precisamos que a Rússia embarque", insistiu o novo ministro das Relações Exteriores ucraniano, Pavlo Klimkin.
Soldados ucranianos cercados
Ainda nesta segunda-feira, soldados ucranianos foram cercados pelos rebeldes após uma tentativa de retomada do posto fronteiriço de Izvarino, perto de Lugansk, em uma situação que ilustra a disputa pelo controle da fronteira.
"Eles não têm chance de escapar: estão cercados, não têm água nem comida", afirmou à AFP Alexander, um líder rebelde local de 54 anos.
O plano de paz de Kiev inclui a criação de uma zona tampão de 10 km ao longo da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia e um corredor para os mercenários russos, que lhes permita voltar à Rússia após entregarem suas armas.
Também faz referência à descentralização do poder e à proteção da língua russa por meio de emendas à Constituição.