Eleitores fazerm fila para votar nas eleições gerais do Quênia: até o embaixador dos Estados Unidos no Quênia, Robert Godec, foi conferir com seus próprios olhos a interminável fila que se formou ao redor do recinto. (REUTERS/Siegfried Modola)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Nairóbi - Com muita paciência após esperar em longas filas, milhões de quenianos votaram maciçamente nesta segunda-feira nas eleições gerais, cinco anos depois da violência pós-eleitoral que sacudiu o país e causou cerca de 1,3 mil mortos.
Os pleitos são os primeiros que acontecem no país desde que o Quênia - como publicou hoje o jornal local "Daily Nation" - "quase se desintegrou após as disputadas eleições de (dezembro de) 2007".
Aquelas eleições foram eclipsadas por graves distúrbios que demoliram a reputação do país como modelo de democracia estável na África Oriental.
Após esse episódio dramático, mais de 14 milhões de eleitores registrados estavam hoje convocados às urnas com o fim de escolher seu presidente para os próximos cinco anos, assim como deputados, senadores, governadores e representantes locais.
Apesar dos erros técnicos que atrasaram a abertura de vários colégios eleitorais, o dia transcorreu em paz, sob a atenta vigilância de quase cem mil policiais.
Horas antes do início do processo eleitoral, no entanto, pelo menos 14 pessoas, entre elas seis policiais, morreram em vários ataques supostamente perpetrados pelo radical Conselho Republicano de Mombaça (MRC) nessa cidade litorânea do sul do Quênia.
No entanto, o chefe da missão de observação eleitoral da União Europeia, o ex-primeiro-ministro esloveno Alojz Peterle, qualificou o fato de "isolado", e ressaltou que o dia foi "eminentemente tranquilo" e as pessoas votaram "de forma paciente e pacífica".
O ataque de Mombaça, no entanto, parece não ter afetado às eleições, pois vários cidadãos guardaram pacientemente em longas filas para exercer seu direito ao voto.
"Foi cansativo. Passamos quase sete horas na fila, mas, no final, conseguiremos votar", comentou à Agência Efe a comerciante Joan Momanyi, visivelmente cansada, mas muito esperançosa, no Colégio de Educação Primária Moi, em pleno centro de Nairóbi.
Até o embaixador dos Estados Unidos no Quênia, Robert Godec, foi conferir com seus próprios olhos a interminável fila que se formou ao redor do recinto.
"Hoje é um grande dia para o Quênia. Pelo que vemos, a participação dos cidadãos é muito alta, sinal claro que os quenianos sabem que este dia é importante", disse Godec à Efe.
A maioria dos 30 mil centros eleitorais fecharam, como estava estipulado, às 17h locais (13h de Brasília), mas alguns seguiram abertos para atender eleitores atrasados.
Um dos centros de votação que chamou mais atenção da mídia foi a escola do bairro de Kibera (sudoeste de Nairóbi) onde votou o primeiro-ministro, Raila Odinga, candidato favorito à presidência.
"Tenho muita confiança que vamos ganhar. Os quenianos querem a mudança, e a emoção com a qual vieram votar é um sinal claro disso", ressaltou Odinga.
Mais tarde, o outro presidenciável com boas possibilidades de triunfo, o vice-primeiro-ministro, Uhuru Kenyatta, depositou seu voto na cidade de Gatundu, ao norte de Nairóbi.
"A paz e a unidade do país é o mais importante. Encorajo os quenianos a serem pacíficos e a esperar e aceitar os resultados", afirmou Kenyatta.
A candidatura do vice-primeiro-ministro causou polêmica porque está acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes contra a humanidade supostamente cometidos durante a violência pós-eleitoral de cinco anos atrás.
As enquetes, lideradas ligeiramente pelo primeiro-ministro, não deixam claro se o poder ficará nas mãos de Odinga ou Kenyatta, e indicam que nenhum obterá maioria absoluta, o que obrigará a realização de um segundo turno no dia 11 de abril.
Outros seis candidatos, entre eles uma mulher, também concorrem à presidência, mas com opções de vitoria quase nulas.
O atual presidente, Mwai Kibaki, que pediu que seus compatriotas votassem em paz para evitar distúrbios, não concorre ao pleito por ter esgotado o máximo de dois mandatos determinado pela Constituição.
Kibaki ganhou por pouco as eleições de 2007, embora Odinga - candidato também naquele ano - lhe tenha acusado de fraude e seus seguidores - a maioria da tribo lúo, como ele - provocaram uma onda de violência replicada por partidários de Kibaki, da tribo kikuyu.
A crise terminou com a assinatura de um acordo em fevereiro de 2008, que possibilitou um Governo de coalizão com Odinga como primeiro-ministro e Kibaki de presidente.
Cinco anos depois, a calma de hoje foi um alívio para muitos quenianos que querem ver expatriado para sempre o fantasma da violência, embora reste comprovar se os perdedores aceitarão desta vez com esportividade o veredicto das urnas.