Reino Unido: entenda como é escolhido o primeiro-ministro britânico (Sarmento Matos/Bloomberg/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 20 de outubro de 2022 às 11h59.
Última atualização em 20 de outubro de 2022 às 12h14.
A premiê britânica Liz Truss anunciou na manhã desta quinta-feira, 20, sua renúncia ao cargo de primeira-ministra. Agora, o Reino Unido terá seu terceiro primeiro ministro em menos de três meses. Truss havia assumido em setembro após outra renúncia, do então premiê Boris Johnson.
Durante discurso nesta manhã, Truss apresentou sua renúncia após críticas a seu programa de corte de impostos sem apresentar fonte dos recursos, o que gerou instabilidade generalizada nos mercados nas últimas semanas (veja aqui).
Mesmo com a saída da premiê, o cargo continua na mão de sua legenda, o Partido Conservador. Por ter conseguido a maioria das cadeiras no Parlamento na última eleição, em 2019, o líder do Partido Conservador, escolhido internamente, se torna automaticamente o premiê do Reino Unido (veja abaixo como a eleição funciona).
O presidente do comitê do Partido Conservador, responsável por organizar a escolha do novo líder, Sir Graham Brady, confirmou que um novo líder - e premiê - para a legenda deve ser escolhido até o dia 28 de outubro.
Ainda não está claro quem é o favorito interno para a disputa e como será de fato a escolha. As apostas têm se concentrado no ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, que havia perdido para Truss na última eleição interna, após a saída de Boris Johnson em agosto. Outra cotada é a atual líder da Câmara dos Comuns (um equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil), Penny Mordaunt.
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Mas surpresas e novos nomes podem surgir nos próximos dias. O próprio Boris Johnson, que renunciou em meio a escândalos envolvendo aliados e popularidade em baixa, aparece nas casas de apostas, embora a chance seja remota.
O partido terá sobretudo o desafio de buscar uma rápida unanimidade em torno de um dos nomes, sem que eleições internas prolongadas tenham de ser realizadas como da última vez (na disputa que elegeu Truss após a renúncia de Johnson em julho, a eleição interna no partido levou mais de um mês).
Uma demora na escolha do novo líder conservador pode intensificar os pedidos por uma eleição geral vindos da oposição, o Partido Trabalhista, à esquerda.
Ter uma eleição geral, isto é, com participação de todos os eleitores britânicos, poderia mudar a composição do Parlamento, eventualmente tirando a maioria atual do Partido Conservador (e seu direito de escolher o premiê). Nas pesquisas, os trabalhistas são hoje favoritos para vencer uma eventual eleição. Pelo calendário, o Reino Unido só teria uma nova eleição geral em 2025.
O troca troca na liderança do Partido Conservador tem dado munição para que os trabalhistas peçam uma nova votação. O atual líder dos trabalhistas, Keir Starmer, disse em comunicado após a renúncia de Truss que "após 12 anos de fracasso dos conservadores, o povo britânico merece muito mais do que esta porta giratória do caos". O Partido Conservador está no poder desde 2010.
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A saída de Truss é somente um novo capítulo nas crises internas que têm tomado o governo britânico sob batuta dos conservadores.
Em agosto, o então premiê Boris Johnson, que estava no cargo desde 2019, renunciou em meio a escândalos envolvendo aliados e a insatisfação popular com a presença do governante em festas durante o lockdown na pandemia. A inflação britânica, que é a maior em 40 anos e segue pressionada com a guerra na Ucrânia, também tem ajudado a minar a popularidade dos governos.
O espectro político no Reino Unido tem como partidos principais o Partido Conservador à direita e o Partido Trabalhista à esquerda. Por ser um sistema parlamentarista, o partido que ganha o maior número de cadeiras nas eleições gerais escolhe o primeiro-ministro.
A última eleição geral foi em 2019, quando os conservadores, liderados por Boris Johnson, ganharam maioria das cadeiras.
Assim, mesmo que ocorram trocas internas, como no caso de Truss e Johnson, o Partido Conservador têm direito a seguir escolhendo internamente o premiê britânico até 2025, quando acaba o atual mandato no Parlamento e ocorrem novas eleições gerais.
Nas eleições internas do partido, que foram usadas para escolher Liz Truss como premiê, não participou toda a população britânica: votaram somente os filiados do Partido Conservador, pouco menos de 200 mil partidários.
Os conservadores estão no poder desde 2010, primeiro com David Cameron (até 2016) - que renunciou após a vitória do Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia -, depois com Theresa May (até 2019) e por fim com o próprio Johnson.
O último premiê trabalhista foi Gordon Brown (2007-10), que sucedeu o também trabalhista Tony Blair, que ficou no cargo por uma década (1997-2007).
Quando Boris Johnson renunciou, o Partido Trabalhista (de oposição) tentou forçar a antecipação de novas eleições gerais, antes de 2025. Na época, a pressão não foi suficiente e o Partido Conservador terminou escolhendo internamente a nova premiê. A tendência é que a pressão por novas eleições gerais, e não só internas dos conservadores, ganhe nova tração com a saída de Truss.
O Reino Unido é composto por Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, e a premiê eleita terá de governar regiões que somam mais de 67 milhões de pessoas. Os britânicos terminaram 2021 como a quinta maior economia do mundo, com produto interno bruto (PIB) de mais de US$ 3 trilhões. O sistema de governo é uma monarquia parlamentarista, com o rei Charles III sendo somente chefe de Estado e o premiê, chefe de Governo, tomando as decisões políticas e econômicas na prática.
A saída de Truss vem diante da rejeição a um pacote econômico de amplo corte de impostos, que tinha fonte incerta de recursos e gerou instabilidade na economia. Embora tenha sido revertido logo após o anúncio, o plano foi mal recebido nos mercados e entre os membros do próprio partido de Truss.
Nos últimos dias, membros de sua equipe econômica também haviam renunciado, e a pressão para que a premiê deixasse o cargo cresceu.
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Em discurso nesta manhã, Truss afirmou que já ofereceu a renúncia ao rei Charles III e continuará como premiê até que um novo mandatário seja eleito.
"Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional", disse. "Definimos uma visão para uma economia com impostos baixos e alto crescimento que tiraria vantagem das liberdades do Brexit. Mas reconheço que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador."