Quem governa a Bolívia? As indefinições após a renúncia de Evo
Carta de Evo, que governou a Bolívia por 13 anos, ainda precisa de aprovação do Congresso — ou seja, ele pode até voltar ao poder
Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2019 às 06h06.
Última atualização em 11 de novembro de 2019 às 06h36.
São Paulo — Qual o futuro político da Bolívia, um dos países de maior crescimento econômico e também de maior clivagem social da América Latina? O país começa a semana sem saber quem é o chefe do executivo após o presidente Evo Morales renunciar no domingo após 13 anos no poder.
Evo foi reeleito em outubro num pleito considerado ilegal pela Organização dos Estados Americanos. Renunciou após perder apoio do exército e da polícia e com ondas de protestos nas ruas.
Sua saída antes de assumir um novo mandato joga a Bolívia na incerteza. Sua carta ainda precisa de aprovação do Congresso — ou seja, ele pode até voltar ao poder. Pela Constituição, a linha de sucessão teria o vice-presidente e os presidentes da Câmara e do Senado. Mas todos renunciaram ao cargo, o que deve levar o governo para o decano do Congresso. A senadora de oposição Jeanine Añez anunciou que vai assumir a presidência e convocar novas eleições.
O papel dos militares também é uma incógnita. De que forma se envolverão na transição? Ontem, o ex-presidente denunciou que a polícia tem instrução para prendê-lo, e que grupos violentos assaltaram sua residência.
Evo deve se dedicar, a partir desta segunda-feira a seu outro cargo, o de presidente das seis federações de produtores de coca do Chapare, região em que começou a carreira política e onde se instalou, ontem. Luis Fernando Camacho, uma espécie de líder dos protestos contra o governo, pediu, na noite de ontem, que a greve e os bloqueios na estrada continuem enquanto o Congresso não vaticinar a renúncia.
Evo diz que não vai deixar o país, apesar de 20 de seus mais próximos aliados políticos terem recebido asilo do México, que estendeu o convite ao ex-presidente. Ele deixa o país com crescimento econômico na casa dos 4%, mas marcado por forçar mudanças constitucionais para se manter no poder. “Evo manipulou as normas jurídicas sobre reeleição”, diz o jurista Carlos Ari Sundfeld. “Quando as normas jurídicas básicas viram chiclete, a confiança vai embora — e uma hora ou outra as normas e os manipuladores acabam cuspidos”.
Alonso Gurmendi, analista político e professor da Universidade do Pacífico, publicou no Twitter que Evo deixa a marca das reformas, mas também do autoritarismo. Os próximos dias vão mostrar se a Bolívia está preparada para retomar a normalidade institucional.