Manifestantes entram em confronto com a polícia perto de um carro blindado da polícia durante um protesto contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro em Caracas. (Federico Parra/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 30 de julho de 2024 às 13h49.
Última atualização em 30 de julho de 2024 às 15h05.
Ao menos quatro pessoas morreram nos violentos protestos que eclodiram na segunda-feira, 29, após a controversa reeleição do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e que foram reprimidos pelas autoridades, antes de novas manifestações convocadas nesta terça tanto pelo chavismo quanto pela oposição.
A ONG Foro Penal relatou a primeira morte no estado de Yaracuy (noroeste), e depois a Encuesta Nacional de Hospitales, uma rede que monitora a crise hospitalar, informou mais três mortes e 44 feridos, a maioria por arma de fogo. O Ministério da Defesa relatou 23 militares feridos.
As autoridades também detiveram cerca de 50 pessoas, incluindo o líder opositor Freddy Superlano, no que a oposição chamou de uma “escalada repressiva”.
Um dia depois de o Conselho Nacional Eleitoral, alinhado ao oficialismo, ter declarado a vitória de Maduro para um terceiro mandato de seis anos (com 51% dos votos), milhares de pessoas saíram às ruas para protestar.
A polícia usou gás lacrimogêneo e balas de borracha na segunda-feira para dispersar os protestos, enquanto tiros foram ouvidos em algumas áreas.
“Lamentavelmente, nas últimas horas tivemos relatos de pessoas mortas, dezenas de feridos e de detidos. Instamos as forças de segurança a respeitar a vontade expressada em 28 de julho e a parar a repressão às manifestações pacíficas”, escreveu na rede social X o candidato opositor Edmundo González, que denuncia fraude e reivindica vitória.
Liderada por María Corina Machado, a oposição diz ter provas de que venceu o pleito, enquanto a comunidade internacional pressiona para uma recontagem transparente dos votos. Machado convocou "assembleias de cidadãos" nesta terça em frente à sede das Nações Unidas em Caracas e também em todas as cidades do país.
Por outro lado, Maduro, que denuncia um golpe de Estado "de caráter fascista e contrarrevolucionário", convocou "uma grande marcha até Miraflores", o palácio presidencial, "para defender a paz".
As Forças Armadas, que são a principal sustentação do governo, expressaram "lealdade aboluta e apoio incondicional" a Maduro, declarou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que respaldou a tese de um golpe contra o governo.
“Atuaremos com contundência, em perfeita união cívico-militar-polícia, para preservar a ordem interna em todo o território nacional”, afirmou em uma mensagem transmitida pela televisão.
Maduro é “nosso comandante-em-chefe, ele foi legitimamente reeleito pelo poder popular e proclamado pelo Poder Eleitoral para o período presidencial 2025-2031”.
Detido nesta terça-feira, Freddy Superlano é uma figura importante do partido Voluntad Popular (VP), do líder exilado Leopoldo López, acusado de terrorismo.
O VP mostrou um vídeo do momento da prisão, que foi efetuada por agentes vestidos de preto e armados.
Familiares esperavam do lado de fora do comando da Guarda Nacional — um componente militar com funções de ordem pública — onde estão detidas várias mulheres desde os protestos de segunda-feira, incluindo menores de idade.
"Minha filha é menor de idade, tem 16 anos, está com uma amiga que tem 25 anos, elas saíram ontem por volta das 11 ou 12 horas para dar uma volta e foram detidas (...) não estavam participando de manifestações", disse à AFP uma mulher de 50 anos, que pediu anonimato.
"Estou muito preocupada, minha filha é estudante, é música, é uma moça de família", acrescentou.
Um médico de 32 anos também aguardava informações sobre um familiar que foi preso no protesto.
"Nós saímos (...) pelo nosso direito de voto, que nos foi tirado nas eleições presidenciais do dia 28 de julho. Infelizmente, estamos sofrendo uma perseguição deste governo", disse o homem, que também preferiu não revelar seu nome por motivos de segurança.
A oposição já havia reportado a prisão de cerca de 150 pessoas durante a campanha.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) denunciou nesta terça que as eleições presidenciais de domingo sofreram "a manipulação mais aberrante", segundo comunicado do secretário-geral Luis Almagro.
Machado afirmou na segunda-feira que tinha em sua posse cópias de 73% das atas de apuração que comprovariam a suposta fraude, projetando uma vitória de González com 6,27 milhões de votos ante 2,75 milhões de Maduro.
A divulgação das atas de votação também é uma exigência da comunidade internacional, que questiona a reeleição de Maduro, incluindo Colômbia e Brasil, além dos Estados Unidos.
O governo venezuelano expulsou o pessoal diplomático da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, em resposta ao que considera "ações intervencionistas" desses países.
Seis colaboradores de María Corina Machado estão refugiados há seis semanas na embaixada argentina. A líder de oposição denunciou um cerco policial à sede diplomática.