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Quase mil mulheres morreram no Paquistão por crimes de honra

A maioria das vítimas, mais de 600, foi assassinada após ser acusada de manter relações sexuais fora do casamento


	Mulheres paquistanesas: os criminosos foram na maioria dos casos parentes próximos, geralmente o marido, um irmão ou o pai da vítima (Zohra Bensemra / Reuters)

Mulheres paquistanesas: os criminosos foram na maioria dos casos parentes próximos, geralmente o marido, um irmão ou o pai da vítima (Zohra Bensemra / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de abril de 2013 às 11h04.

Islamabad - Quase mil mulheres morreram no ano passado no Paquistão por causa dos chamados "crimes de honra", quase sempre realizados por seus próprios parentes, revelou nesta quinta-feira um relatório da Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP).

De acordo com o relatório anual do organismo, 913 mulheres - 99 delas menores de idade - morreram nesse tipo de ataque, embora o documento alerte que o número pode ser maior, já que se suspeita que muitos casos passem despercebidos.

A maioria das vítimas, mais de 600, foi assassinada após ser acusada - frequentemente sem provas - de manter relações sexuais fora do casamento, e quase 200 morreram por ter se casado sem o consentimento da família.

Os criminosos foram na maioria dos casos parentes próximos, geralmente o marido, um irmão ou o pai da vítima.

O relatório analisa exaustivamente a situação dos direitos humanos no país e denuncia violações em diversos crimes, como as desaparições de pessoas a mãos das agências de segurança ou a violência contra as minorias religiosas.

"Além dos dados, o que nos preocupa muito são as tendências, cada vez mais negativas", afirmou durante a apresentação do relatório o secretário-geral da HRCP e veterano defensor dos direitos cívicos no país asiático, I. A Rehmán.


"O ano de 2012 foi um ano em que nossa democracia foi submetida a uma enorme pressão, com um Poder Judiciário que tentou defender alguns direitos, mas que se viu obrigado a aceitar suas limitações", lamentou Rehmán.

Asma Jahangir, advogada que presidiu a Comissão e ativista de destaque, atribuiu a má situação dos direitos humanos no Paquistão a "um ambiente" caracterizado pela "má administração do país" e pelo "peso de instituições não escolhidas pelo povo".

"Vemos como a violência de todo tipo não para de crescer em nosso país", afirmou Jahangir, que denunciou que "o terrorismo baseado em explorar uma determinada visão religiosa se nutre de uma crescente religiosidade dos cidadãos".

"É hora de assumirmos também nossa responsabilidade em todo esse problema", reivindicou a ex-presidente da HRCP, que lembrou que, por exemplo, muitos justificam o terrorismo no Paquistão pelos ataques com aviões espiões dos Estados Unidos.

"Morreu muito mais gente no Paquistão por ataques terroristas do que por drones", lembrou Jahangir, e acrescentou que "o terrorismo já existia no Paquistão muito antes de haver aviões espiões".

As constantes denúncias de Jahangir contra o aparato de segurança do país e contra o discurso fundamentalista que permeia a sociedade paquistanesa lhe renderam várias ameaças de morte, e no ano passado seu entorno lançou um alerta para promover sua proteção.

Apesar de tudo, Jahangir se mostrou otimista sobre o avanço dos direitos humanos em seu país, "já que ninguém pode parar o povo quando (ele) começa a reivindicar seus direitos", e deu como exemplo o progresso das mulheres nas últimas décadas. 

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