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Quase 70 ganhadores do Nobel pedem que Milei reverta cortes de orçamento na ciência

Redução de investimentos em ciência faz parte do projeto do governo argentino de forte ajuste econômico, para alcançar o déficit zero.

Javier Milei, presidente da Argentina (Luis ROBAYO / AFP/Getty Images)

Javier Milei, presidente da Argentina (Luis ROBAYO / AFP/Getty Images)

Estadão Conteúdo
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Agência de notícias

Publicado em 6 de março de 2024 às 20h46.

Em carta ao presidente da Argentina, Javier Milei, 68 laureados com o prêmio Nobel de diversas disciplinas manifestaram preocupação com os ajustes adotados por seu governo no setor da ciência e pediram que ele restabeleça os valores orçamentários. A redução de investimentos em ciência, bem como em outras áreas, faz parte do projeto de Milei de forte ajuste econômico cujo objetivo é alcançar o déficit zero.

"Congelar os programas de pesquisa e reduzir o número de estudantes de doutorado e de jovens pesquisadores causará a destruição de um sistema que levou muitos anos para ser construído e que exigiria muitos mais para ser reconstruído", alertaram os cientistas em carta distribuída por Richard Roberts Nobel de Medicina de 1993.

Como parte de seu plano de redução do déficit fiscal, o governo de Milei manteve para 2024 o mesmo orçamento que o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (Conicet) teve em 2023, o que, em um contexto de 254% de inflação nos últimos 12 meses, o deixaria falido.

"Tememos que a Argentina esteja abandonando seus cientistas, estudantes e futuros líderes da ciência. Nos preocupa que a dramática desvalorização dos orçamentos do Conicet e das Universidades Nacionais reflita não só uma dramática desvalorização da ciência argentina, como também uma desvalorização do povo argentino e do futuro da Argentina", afirmaram os ganhadores do Nobel.

A carta, dirigida também ao chefe do gabinete, Nicolás Posse, ao presidente do Conicet, Daniel Salamone, a deputados e senadores, enumera uma longa lista de contribuições de cientistas argentinos em diversos temas.

"Se não fosse pela ciência argentina, as causas do câncer de pulmão e do diabetes permaneceriam um mistério por décadas. Se não fosse pela ciência argentina, não teríamos o conhecimento e a tecnologia que permitem a um país com chuvas modestas alimentar a sua população e o mundo. Se não fosse a ciência argentina, não teríamos elementos-chave para a nossa compreensão do universo, desde o desenvolvimento de um simples vírus até seus átomos", continua a carta.

Os ganhadores do Nobel, a maioria nas áreas de Medicina, Economia, Física e Química, questionaram os impactos econômicos da medida de Milei: "Qualquer economia moderna como a Argentina deve ser capaz de gerar novas tecnologias focadas e aplicar outras estrangeiras em contextos locais. Seríamos ingênuos se não entendêssemos que qualquer país que dependa apenas deste último perderia a sua independência econômica. Mas sem uma infraestrutura para a ciência, um país cai no desamparo e na vulnerabilidade. Sem desenvolver tecnologia própria para avançar ou formar pessoas ou desenvolver a infraestrutura necessária para o conhecimento científico e tecnológico dos problemas nacionais e regionais, em que situação ficaria a Argentina?"

Por fim, destaca que "todos esses avanços foram consequência do apoio governamental à pesquisa básica".

Milei defende plano de ajuste

Na terça-feira, 5, Milei havia defendido seu plano econômico, prevendo uma desaceleração da inflação nos próximos meses. Falando a produtores agrícolas reunidos na feira agroindustrial Expoagro, o presidente argentino disso que há consenso de que o indicador do mês de fevereiro ficará em torno de 15%, quase cinco pontos menos do que em janeiro.

O aumento de preços em dezembro foi de 25,5% e em janeiro de 20 6%, enquanto o aumento anual atingiu 254,2%. O Instituto Nacional de Estatística e Censos divulgará a taxa de fevereiro na próxima semana.

A inflação é a principal preocupação dos argentinos, segundo pesquisas de opinião. No âmbito do seu plano ortodoxo, o governo Milei realizou uma desvalorização do peso de mais de 50% logo após tomar posse em 10 de dezembro, o que acelerou a inflação. Ele também implementou uma desregulamentação de preços que foi controlada e eliminou subsídios a determinados setores como transporte público e energia.

Estas medidas, que segundo o presidente eram necessárias para corrigir distorções na economia, dispararam o valor dos alimentos e de outras necessidades básicas, bem como dos transportes, da eletricidade, dos serviços privados de saúde e de educação.

A inflação, por sua vez, desencadeou a pobreza, que segundo o governo afeta seis em cada 10 argentinos, aumentando a agitação social e as exigências de aumentos salariais e ajudas estatais.

Desmaios durante visita

Também nesta quarta, Milei se viu no meio de uma situação inusitada durante uma visita à escola onde estudava, quando dois alunos desmaiaram e o presidente culpou a esquerda.

Pela primeira vez após assumir o cargo, Milei frequentou a escola Cardenal Copello, no bairro Villa Devoto, em Buenos Aires e durante mais de uma hora revisou anedotas de sua infância e juventude diante dos alunos e defendeu seu plano de ajuste econômico.

No meio de sua apresentação, o presidente relembrou sua experiência na universidade na década de 1970 com um professor "bastante canhoto" (esquerdista), quando um aluno que o acompanhava no palco desmaiou.

"Como veem, mencionar os comunistas é tão perigoso que sempre gera problemas", afirmou o presidente em tom de piada após o aluno desmaiar, provocando risos na plateia.

O jovem se recuperou após receber atendimento do médico que acompanha o presidente

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