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Protestos contra reforma tributária deixam ao menos 19 mortos na Colômbia

Denúncias de violência policial no país chegaram aos assuntos mais comentados do Twitter nesta terça-feira, 4; ONU condena 'uso excessivo da força'

Manifestantes enfrentam a polícia durante manifestação contra a reforma tributária proposta pelo presidente colombiano Ivan Duque, em Bogotá (AFP/AFP)

Manifestantes enfrentam a polícia durante manifestação contra a reforma tributária proposta pelo presidente colombiano Ivan Duque, em Bogotá (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 4 de maio de 2021 às 09h47.

Última atualização em 4 de maio de 2021 às 15h41.

O ministro da Fazenda da Colômbia, Alberto Carrasquilla, renunciou nesta segunda-feira (3), após apresentar um projeto frustrado de reforma tributária, que provocou seis dias de protestos em massa e distúrbios que deixaram 19 mortos e mais de 800 feridos.

"Minha continuidade no governo dificultaria a construção rápida e eficiente dos consensos necessários" para executar uma nova proposta de reforma, informou em um comunicado.

Carrasquilla será substituído pelo economista José Manuel Restrepo, atual ministro do Comércio, anunciou o presidente Duque no Twitter.

Os distúrbios que se seguiram aos protestos deixaram 19 mortos, segundo balanço da Defensoria do Povo. O ministério da Defesa contabilizou 846 feridos entre civis e policiais. Algumas ONGs acusam a polícia de atirar contra a população.

As autoridades prenderam 431 pessoas durante os distúrbios e o governo ordenou o envio de militares para as cidades mais afetadas.

O ministro da Defesa, Diego Molano, garantiu que os atos de violência foram "premeditados, organizados e financiados por grupos dissidentes das Farc" que se afastaram do acordo de paz assinado em 2016, e pelo ELN, a última guerrilha reconhecida na Colômbia.

Pressionado pelas manifestações nas ruas, o presidente Duque ordenou no domingo a retirada da proposta que era debatida com ceticismo no Congresso, onde um amplo setor a rejeitava por punir a classe média e ser inadequada em meio à crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.

O presidente propôs a elaboração de um novo projeto que descarta os principais pontos de discórdia: o aumento do ICMS sobre serviços e mercadorias e a ampliação da base de contribuintes com imposto de renda.

As manifestações continuam

Embora em menor afluência, nesta segunda-feira os manifestantes protestaram nas ruas de Bogotá, Medellín (noroeste), Cali (sudoeste) e Barranquilla (norte).

Os organizadores convocaram uma nova marcha para quarta-feira, apesar de já estarem em vigor nas principais capitais medidas que limitam a mobilidade para conter a terceira onda da pandemia.

O governo apresentou a reforma tributária ao Congresso em 15 de abril como uma medida para financiar os gastos públicos na quarta maior economia da América Latina.

Mas as críticas vieram tanto da oposição política quanto de seus aliados, e o descontentamento logo se espalhou pelas ruas.

Embora os protestos tenham transcorrido de forma pacífica em sua maioria, eles foram seguidos por vários distúrbios e confrontos com as forças públicas.

Houve atos de vandalismo em 69 estações de transporte, 36 caixas eletrônicos, 94 bancos, 14 pedágios e 313 estabelecimentos comerciais, segundo cifras oficiais.

Violência policial

Com os militares nas ruas, o alerta se acendeu. O diretor para as Américas da ONG Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, confirmou a morte de uma pessoa nas mãos de um policial em Cali, uma das cidades mais afetadas pelos distúrbios.

De acordo com a ONG Temblores, 940 casos de abusos policiais ocorreram nos últimos dias e são investigadas "as mortes de oito manifestantes supostamente agredidos por policiais".

Em setembro de 2020, treze jovens morreram em manifestações contra a violência policial na Colômbia. Outros 75 sofreram ferimentos por balas, supostamente disparadas por soldados.

O governo culos distúrbios atuais "organizações criminosas (que) quiseram se mimetizar nos protestos".
Embora o acordo de paz tenha reduzido significativamente a violência, um conflito de seis décadas persiste na Colômbia que envolve dissidentes das Farc, rebeldes do ELN e gangues de tráfico de drogas de origem paramilitar.

Contra Duque

O projeto de reforma tributária de Duque visava arrecadar cerca de 6,3 bilhões de dólares entre 2022 e 2031, para resgatar a economia.

Em seu pior desempenho em meio século, o Produto Interno Bruto (PIB) do país despencou 6,8% em 2020 e o desemprego subiu para 16,8% em março.

Quase metade dos 50 milhões de habitantes está no setor informal e a pobreza atinge 42,5% da população.

A iniciativa gerou inquietação contra o governo. Desde 2019 o chamado Comitê Nacional de Desemprego tem convocado inúmeras mobilizações para pedir a Duque uma mudança de rumo.

“As pessoas nas ruas estão exigindo muito mais do que a retirada da reforma tributária”, disseram os líderes da manifestação em um comunicado.

Com índices de aprovação em vermelho (33%), Duque reclama do "vandalismo" que irrompeu nas ruas e dos protestos em meio a um pico mortal da pandemia.

A Colômbia é o terceiro país da América Latina com o maior número de infecções por covid-19 (2,8 milhões), atrás do Brasil e da Argentina.

Em termos de mortes (74.700), só é superado na região pelo gigante sul-americano e pelo México.
Em proporção à sua população, é o quarto com mais mortes e o sexto com o maior número de infectados no continente.

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