Mundo

Promotora brasileira comanda operação contra advogado de Trump

Promotora federal é Tatiana Roesler Martins, de 41 anos, graduada pela Universidade de Yale e promovida para o cargo em junho

Michael Cohen: pernambucana está à frente da unidade de corrupção responsável pela operação de busca e apreensão na residência, escritório e quarto de hotel do advogado de Donald Trump (Lucas Jackson/Reuters)

Michael Cohen: pernambucana está à frente da unidade de corrupção responsável pela operação de busca e apreensão na residência, escritório e quarto de hotel do advogado de Donald Trump (Lucas Jackson/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 19 de abril de 2018 às 09h15.

Última atualização em 19 de abril de 2018 às 15h48.

Uma pernambucana está à frente da unidade de corrupção responsável pela operação de busca e apreensão na residência, escritório e quarto de hotel de Michael Cohen, advogado do presidente Donald Trump, no dia 9.

A promotora federal é Tatiana Roesler Martins, de 41 anos, graduada pela Universidade de Yale e promovida para o cargo em junho, quando seu chefe, Andrew Goldstein, foi recrutado pelo procurador especial, Robert Mueller, para a equipe de investigadores sobre a interferência russa na eleição de 2016.

A operação do FBI, autorizada pelo subsecretário de Justiça, Rod Rosenstein, colocou a unidade no epicentro de um terremoto político. Trump, segundo o Washington Post, ficou tão nervoso ao saber da investigação que não conseguia se concentrar nas opções militares oferecidas por seus generais para o ataque à Síria, na Sexta-feira.

Localizado em São Paulo, o ex-promotor do Distrito Sul Nicholas Lewin falou sobre Tatiana, com quem trabalhou até outubro do ano passado, quando deixou a carreira pública para fundar um escritório com dois colegas.

Lewin, veterano de processos contra a Al-Qaeda, descreve sua ex-colega como "uma promotora zelosa, agressiva, justa, que seguirá provas onde quer que seja".

O padrasto de Tatiana é Sérgio Lira, médico imunologista e pesquisador do hospital Mount Sinai, de Nova York. "Ela entrou na minha vida quando tinha 3 anos", lembra Sérgio, que viveu com Marina Roesler, mãe de Tatiana, até 2007.

Eles mantêm uma relação próxima. Sérgio ressalta a discrição de Tatiana, que mencionava estar "sobrecarregada" por suas funções, mas não dava sinais da importância que teriam para a investigação.

Independência

Além do temor de ter documentos e comunicações com seu advogado expostos a escrutínio legal, Trump entende a gravidade da entrada no jogo do Distrito Sul, grupo de promotores federais ao qual pertence Tatiana. O Distrito Sul é conhecido em Washington pelo apelido de Sovereign District (Distrito Soberano), pela independência de seus promotores.

O tribunal do Distrito Sul, onde Cohen e a atriz pornô Stormy Daniels se encontraram, na segunda-feira, é a corte em funcionamento contínuo mais antiga dos EUA, aberta em 1789.

A história do Distrito Sul é contada no livro The Mother Court: Tales that Mattered in America's Greatest Trial Court ("A Corte Mãe: Histórias Importantes no Mais Importante Tribunal Americano", em tradução livre), do ex-promotor federal James Zirin, que defende, em conversa com a reportagem, a operação de busca de documentos do advogado do presidente como "seguindo a letra da lei".

Zirin ecoa outros admitidos na rarefeita equipe de promotores que inspirou a série Billions, do canal a cabo Showtime. "O dia em que me ofereceram o cargo de promotor foi o mais importante da minha vida profissional."

O salário mensal inicial é de R$13.700, sem décimo terceiro. Não há penduricalhos nem auxílio moradia, mas passar pelo Distrito Sul é um carimbo no passaporte para a respeitabilidade jurídica, uma possível carreira política ou um posto confortável em escritórios de advocacia.

Série de TV

De Paris, onde desfruta sua aposentadoria, Robert Hammel, ex-promotor do Distrito Sul nos anos 80, sob o lendário Rudolph Giuliani, que depois foi prefeito de Nova York durante o 11 de Setembro, lembra que a independência do Distrito é uma fonte constante de atrito como o Poder Executivo, em Washington.

"O presidente Ronald Reagan tentou impor restrições ao que podíamos investigar, em casos de previdência social, e Rudolph Giuliani ignorou", lembra Hammel. O Distrito Sul inspirou a série Billions, baseada, em parte, na caçada do promotor Preet Bhahara a um administrador de fundos de hedge de Nova York, Stephen Cohen.

Bharara não conseguiu mandar Cohen para a cadeia e foi demitido por Donald Trump em março de 2017. Agora, tem uma carreira como comentarista na CNN e anfitrião de podcasts.

O Distrito Sul tem um papel histórico na jurisprudência americana, em casos como o desastre do Titanic e, nos anos 30, o processo do governo para censurar a publicação de Ulisses, de James Joyce.

James Zarin lembra que o caso marcou a diferença da definição entre pornografia e obscenidade e liberou a publicação de Ulisses, considerado um romance seminal do século 20.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:AdvogadosDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Processos judiciais

Mais de Mundo

Trump nomeia apresentador da Fox News como secretário de defesa

Milei conversa com Trump pela 1ª vez após eleição nos EUA

Juiz de Nova York adia em 1 semana decisão sobre anulação da condenação de Trump

Parlamento russo aprova lei que proíbe 'propaganda' de estilo de vida sem filhos