Projeto de israelense questiona fotos no Memorial do Holocausto
Projeto questiona o comportamento das pessoas no Memorial do Holocausto, aberto para o público desde 2005
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 11h00.
Última atualização em 24 de janeiro de 2017 às 11h09.
"Eu vi nos últimos anos um fenômeno interessante no Memorial do Holocausto: muitas pessoas usam o monumento como um pano de fundo para suas fotos do perfil no Facebook, Instagram, Tinder ou Grindr. Eu peguei essas selfies e combinei com imagens de campos de concentração."
É assim que Shahak Shapira, o israelense que mora em Berlim, na Alemanha, descreve o Yolocaust, projeto lançando por ele para questionar o comportamento das pessoas no lugar conhecido também como Memorial dos Judeus Mortos na Europa, aberto para o público desde 2005.
Localizado na capital alemã, o memorial é composto por 2.711 blocos de concreto em uma área de 19.000 metros quadrados. Em um anexo subterrâneo estão os nomes de todas as vítimas judias conhecidas do Holocausto.
O Youlocaust, cujo nome é uma mistura de "Holocausto" com a expressão "you only live once" (só se vive uma vez), explora a "cultura comemorativa" no momento, de acordo com a descrição do projeto.
"Cerca de 10 mil pessoas visitam o memorial todos os dias. Muitos deles tiram fotos engraçadinhas, pulam, andam de skate ou de bicicleta", diz o texto.
As imagens foram coletadas de perfis no Facebook, Instagram, Tinder e Grindr sem a permissão dos usuários. O site informa, contudo, que as pessoas nas imagens podem enviar um email e pedir para que as fotos sejam retiradas.
A iniciativa tem repercutido nas redes sociais.
https://twitter.com/asgardiana/status/822481333058490370
https://twitter.com/gueibs/status/822080254160289792
https://twitter.com/TGSNTtv/status/821799698814144512
"Memorial da Vergonha"
Shapira dedicou o projeto a Bernd Höcke, a quem chama de "meu neo-nazista preferido". Höcke é um dos líderes da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido populista de direita fundado em 2013.
Um dia antes do lançamento do Youlocaust, Höcke, afirmou que "os alemães são as únicas pessoas no mundo que colocaram um monumento da vergonha no coração de sua capital". O memorial fica a uma quadra ao sul do Portão de Brandemburgo e de lá é possível ver o parlamento alemão.
De acordo com o The Guardian, Shapira afirmou que o lançamento do projeto um dia após a declaração de Höcke foi coincidência e que tem coletado as fotos há mais de um ano. Segundo o jornal, o israelense tem 28 anos e vive em Berlim há 14 anos.
Com a crise migratória na Europa, a AfD tem ganhado popularidade com um discurso crítico a imigrantes, especialmente aos seguidores do Islamismo. Nas eleições regionais de março de 2016, o partido conquistou mais de 10% dos votos em três estados.
Culpa
Em entrevista à Spiegel Online em 2005, o arquiteto americano que criou o projeto do memorial, Peter Eisenman afirmou que não se trata de um momento sobre culpa, na interpretação dele.
"Eu sempre pensei que este monumento era sobre tentar superar esta questão de culpa. Sempre que venho aqui [em Berlim], eu chego me sentindo um americano. Mas quando vou embora, eu me sinto um judeu. E por que isto? Porque os alemães saem do seu caminho - porque eu sou judeu - para me fazer sentir bem. E isso me faz sentir pior. Não consigo lidar com isso. Parem de me fazer sentir bem. Se você é anti-semita, tudo bem. Se você não gosta de mim pessoalmente, tudo bem. Mas lide comigo como um indivíduo, não como um judeu."
Ele também tem uma visão flexível sobre o comportamento das pessoas no ambiente.
"Quando você entrega um projeto para os clientes, eles fazem com ele o que eles querem - é deles e eles ocupam o seu trabalho. Você não pode dizer-lhes o que fazer com ele. (…) As crianças vão jogar pique-pega no campo. Haverá modelos e filmes serão filmados lá. (…) O que posso dizer? Não é um lugar sagrado."
Este conteúdo foi originalmente publicado no portal HuffPost Brasil.