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Primeiras eleições no Zimbábue sem Mugabe têm alta participação

Após ter monopolizado a presidência desde 1980, Mugabe, de 94 anos, foi forçado a deixar o cargo em novembro por seu próprio partido

Eleições no Zimbábue: recorde de 23 candidatos disputam as presidenciais (Siphiwe Sibeko/Reuters)

Eleições no Zimbábue: recorde de 23 candidatos disputam as presidenciais (Siphiwe Sibeko/Reuters)

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AFP

Publicado em 30 de julho de 2018 às 20h10.

Os zimbabuanos votaram em massa nesta segunda-feira (30) nas primeiras eleições gerais desde a queda do presidente Robert Mugabe, depois de quase quatro décadas no poder, em um pleito cercado de suspeitas de fraude.

Um recorde de 23 candidatos disputam as presidenciais, organizadas ao mesmo tempo que as eleições legislativas e municipais.

Mas a corrida presidencial se concentrava no presidente em fim de mandato,Emmerson Mnangagwa, ex-aliado de Mugabe e líder do partido governista ZANU-PF, e o opositor Nelson Chamisa, representante do Movimento pela Mudança Democrática (MDC).

Após ter monopolizado a Presidência desde a independência do Zimbábue, em 1980, Mugabe, de 94 anos, foi forçado a deixar o cargo em novembro por seu próprio partido, com o apoio dos militares.

As seções eleitorais fecharam, conforme o previsto, às 19H00 locais (14H00 de Brasília), e foi iniciada a apuração, em alguns centros à luz de velas ou lampiões a gás. Os resultados estão previstos para antes de 4 de agosto.

Nestas eleições históricas, "houve uma alta participação, em especial dos jovens", declarou à AFP o líder dos observadores da União Europeia (UE), Elmar Brok, que não informou, ao final do dia, o registro de casos de violência.

Os observadores notaram, no entanto, falhas nas operações eleitorais, especialmente a "completa desorganização" da votação em dois bairros pobres de Harare, enquanto "tudo aconteceu corretamente nos bairros mais abastados".

"Agora deve-se verificar se foi uma tendência" ou casos isolados, acrescentou Brok.

Desde o amanhecer se formaram longas filas em frente a muitas seções eleitorais em Harare.

"Tenho esperança em um novo Zimbábue", que "dê oportunidades iguais a todos", declarou Lalita Mtetwa, graduada de 30 anos e desempregada. "Temos milhões de pessoas com educação e sem trabalho que vivem na pobreza, só os ricos estão melhor", criticou.

"Votei em Mnangagwa", disse Robina Mayobongwe, de 80 anos, que chegou em uma carroça puxada por um burro. "Não se pode confiar nos jovens. Vão devolver o país aos colonizadores", acrescentou.

Intervenção surpresa de Mugabe

Mugabe, que votou acompanhado da esposa e sob os flashes dos fotógrafos em Harare, não quis fazer comentários.

No entanto, apareceu na véspera de surpresa para chamar os eleitores a tirar do poder seu partido e dar apoio a Chamisa, de 40 anos, que assumiu recentemente a liderança do MDC, após a morte de seu dirigente histórico, Morgan Tsvangirai, eterno adversário de Mugabe.

Mas o favorito é Mnangagwa, de 75 anos, membro da elite do ZANU-PF, que se apresenta como o homem da renovação para o Zimbábue, uma nação do sul da África mergulhada em uma grave crise econômica pela gestão de Mugabe.

Na segunda-feira, Mnangagwa comemorou que "a campanha fosse pacífica, assim como a votação", um elemento chave que poder ajudá-lo a conquistar a confiança da comunidade internacional.

Chamisa, por sua vez, denunciou as "tentativas deliberadas de censurar" votos na área urbana, reduto tradicional do MDC.

Mas se disse confiante nos resultados. "Não tenho nenhuma dúvida de que no fim do dia deveremos ter uma voz categórica para a mudança", disse.

A brecha entre os dois candidatos diminuiu recentemente: Mnangagwa contava com 40% das intenções de voto, contra 37% de Chamisa, segundo consulta publicada há dez dias pelo grupo Afrobarometer.

Se nenhum candidato conseguir a maioria absoluta, está prevista a organização de um segundo turno em 8 de setembro.

Durante toda a campanha, Mnangagwa prometeu o auge de uma "nova democracia" e bilhões de dólares em investimentos para recuperar a economia, arruinada pela crise e por catastróficas reformas de seu antecessor. Mas sua credibilidade é posta em dúvida por quem o acusa de ter sido um dos executores da repressão de Mugabe.

A oposição denunciou irregularidades na preparação das eleições e Chamisa assegurou que a votação estaria comprometida pela fraude.

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