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'Primavera árabe' completa um ano e continua com novos desafios

A continuidade se dá por eleições que levaram os islamitas a obter destaque no mapa político, após acabar com regimes autoritários

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 16 de dezembro de 2011 às 09h19.

Redação Central - A longa 'Primavera árabe' continua um ano após surgir na Tunísia, com processos eleitorais que levaram os islamitas a obter destaque no mapa político, após acabar com regimes que foram vítimas de seu próprio autoritarismo.

O estopim para o movimento foi a morte do jovem tunisiano Mohammed Bouazizi. Ele jogou fogo contra seu próprio corpo em 17 de dezembro de 2010, farto de uma vida sem expectativas e de humilhação, e morreu em 4 de janeiro.

As grandes manifestações pacíficas posteriores, convocadas pelos jovens através das redes sociais em praças árabes, entre elas a emblemática Tahrir do Cairo, para reivindicar mais liberdades abriram uma nova página na história, que ainda não foi fechada.

Tunísia: 'Revolução dos jasmins'.

Começou após a imolação de Bouazizi, com protestos cada vez maiores na capital.

A revolução acabou no dia 14 de janeiro, quando o presidente Zine el Abidine Ben Ali abandonou o poder e fugiu à Arábia Saudita, após permanecer 23 anos no Governo, nos quais ganhou quatro eleições com porcentagens de inclusive 99,91% dos votos.

As revoltas duraram cerca de 10 dias e deixaram um saldo de 347 mortos. O processo culminou com a realização de eleições no dia 23 de outubro, que contaram com a participação de 54,1% dos eleitores.

O ganhador foi o movimento islamita conservador Al-Nahda, liderado por Hammadi Jebali, que obteve 89 das 217 cadeiras na Assembleia Constituinte.

No dia 13 de dezembro, tomou posse o novo presidente, Moncef Marzouki, do centrista Conselho pela República, e no dia 14 Jabali foi designado primeiro-ministro.


Egito: 'Revolução 25 janeiro'.

Os protestos começaram no dia 25 de janeiro, quando milhares de manifestantes no Cairo e em outras cidades egípcias convocados pela internet pediram reformas ao regime de Hosni Mubarak. Os manifestantes não queriam que Mubarak se candidatasse às eleições, dirigisse a transição ou colocasse seu filho Gamal como sucessor.

Mubarak delegou o poder no dia 11 de fevereiro a uma Junta Militar, foi hospitalizado em abril por uma 'crise cardíaca', e desde então aparece em uma maca nos julgamentos empreendidos contra ele.

As revoltas iniciais se prolongaram durante 18 dias e pelo menos 846 pessoas morreram, segundo um relatório da Anistia Internacional (AI).

A primeira fase das eleições aconteceu nos dias 28 e 29 de novembro em nove províncias do país, entre elas Cairo e Alexandria com uma taxa de participação de 52%.

O Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político dos Irmãos Muçulmanos, foi o claro vencedor no início das eleições legislativas egípcias, com 40% dos votos, seguido pelos salafistas do partido Al Nour (muçulmanos ultraconservadores) com 20%.

Líbia: Revolução e guerra civil.

As manifestações começaram de forma pacífica nos dias 15 e 16 de fevereiro em Benghazi, a segunda cidade líbia, pela detenção de um ativista de direitos humanos e para reivindicar mudanças democráticas ao líder do país, Muammar Kadafi, no poder durante 42 anos.

Em 27 de março, a Otan iniciou uma campanha militar sobre a Líbia, semanas depois que as forças leais ao regime começaram a encurralar os grupos de insurgentes do país.

A guerra durou oito meses. A revolta se transformou em guerra civil e terminou com o anúncio rebelde em 20 de outubro da morte de Kadafi em Sirte, sua cidade natal.

As vítimas do conflito foram calculadas em 25 mil mortos e o dobro de feridos, segundo o presidente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafá Abdel Khalil.

O CNT governa o país desde então, e foram convocadas eleições, previstas inicialmente para junho de 2012.


Síria: Revolução ainda inconclusa.

As manifestações começaram no dia 15 de março quando milhares de pessoas se concentraram nas principais cidades em resposta à uma convocação por Facebook com o slogan 'Uma Síria sem tirania, nem lei de emergência' (que está em vigor desde 1963).

Em 21 de abril, o presidente Bashar al Assad revogou o estado de emergência, que outorgava amplos poderes às forças de segurança para reprimir os manifestantes.

No entanto, a repressão dos protestos foi brutal, e quase nove meses depois, a Organização das Nações Unidas cifrou os mortos em mais de 5 mil, mais de 300 deles menores de idade. A comunidade internacional mantém fortes sanções econômicas contra o regime.

A alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Navy Pillay, advertiu que o país se encaminha a uma guerra civil.

Iêmen: Revolução.

As manifestações começaram no dia 27 de janeiro para exigir que o presidente Abdullah Saleh não se apresentasse como candidato para a reeleição no país mais pobre da península arábica.

A repressão das manifestações causou centenas de mortos e feridos durante meses.

Finalmente, já no exílio, o presidente Saleh assinou no dia 23 de novembro em Riad uma iniciativa de reconciliação nacional que prevê uma transição de dois anos durante os quais serão preparadas a Constituição e as eleições.

Bahrein: Revolta.

As manifestações começaram no dia 14 de fevereiro protagonizadas pela maioria xiita contra a minoria sunita que governa o país e o monarca Hamad bin Isa al-Khalifa, e pedir a instauração de uma monarquia parlamentar com uma Constituição que permita ao povo escolher um Governo e um Parlamento independentes.

As revoltas deixaram um saldo de mais de 40 mortos. As autoridades destruíram no dia 18 de março o monumento na Praça da Pérola, em Manama, que levou esse nome depois de se transformar em símbolo dos protestos antigovernamentais.


Marrocos: Protestos do 'Movimento 20 de fevereiro'.

Começaram em meados de fevereiro com manifestações convocadas nas redes sociais para reivindicar uma Constituição democrática, na qual o rei seja soberano, mas não controle o poder Executivo.

O rei Mohammad VI respondeu com a reforma da Constituição e novas normas para reforçar a figura do primeiro-ministro como 'presidente de um poder executivo efetivo'.

Uma nova Carta Magna foi aprovada no dia 1º de julho em plebiscito com 98,5% dos votos e uma taxa de participação de 73,46%.

Foram realizadas eleições no dia 25 novembro. O Partido Justiça e Desenvolvimento (PJD), islamita, saiu vitorioso com 107 das 295 cadeiras do Parlamento. No dia 29 de novembro, o rei Mohammad VI nomeou o secretário-geral do PJD, Abdelilah Benkirán, como primeiro-ministro.

Jordânia: Protestos.

As manifestações começaram no dia 28 de janeiro, e ainda continuam para pedir reformas políticas e econômicas em várias cidades do país.

O rei Abdullah II acabou com o Executivo do primeiro-ministro Samir Rifai no dia 1º de fevereiro, e ele foi substituído por Maaruf Bakhit.

Os protestos continuaram e no dia 17 de Outubro o soberano destituiu Bakhit e lhe substituiu no cargo por Amre Jasawneh, ex-juiz do Tribunal Penal Internacional, e lhe encarregou de acelerar as reformas políticas.

No dia 18 de novembro, milhares de jordanianos saíram às ruas das principais cidades para pedir ao novo primeiro-ministro que cumpra suas promessas de acelerar as reformas e lutar contra a corrupção, assim como uma nova lei eleitoral que garanta uma representação proporcional no Parlamento.

Argélia: Protestos.

Os protestos começaram no dia 12 de fevereiro para pedir que o Governo revogasse o 'estado de emergência' que regia o país há 19 anos.

Esta lei tinha sido decretada no dia 9 de fevereiro de 1992 por pressão do Exército, após a tentativa de insurreição pela Frente Islâmica de Salvação (FIS), em protesto pela anulação das eleições legislativas, cuja primeira rodada tinha conquistado por maioria.

Os recentes protestos se diluíram após o fim do estado de emergência no dia 24 de fevereiro.

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