O presidente francês Jacques Chirac decidiu se envolver na disputa pela bolsa européia ao declarar que uma "solução franco-germânica" com a bolsa alemã, a Deutsche Börse, seria melhor do que a fusão recém-anunciada da Euronext com a bolsa de valores de Nova York (NYSE).

O comentário do presidente pode colocar ainda mais polêmica na compra da Euronext, cujo centro de operações fica em Paris, pela NYSE por 10 bilhões de dólares, e até estimular uma contraproposta da Deutsche Börse - já que alguns acionistas da bolsa européia criticaram a operação por ter sido realizada com "pressa demais". Ainda que o governo francês não tenha direito de vetar a negociação, a pressão política poderia trazer dores de cabeça à Euronext, grupo sediado na Holanda que opera as bolsas de Paris, Amsterdã, Bruxelas, Lisboa e o mercado de futuros de Londres.

"Não esconderei o fato de que sou a favor de uma solução franco-germânica por razões de princípio, e eu lamentarei se esta solução não for adotada por fim", afirmou Chirac, de acordo com o jornal britânico Financial Times. Angela Merkel, primeira-ministra alemã, preferiu mostrar mais discrição, dizendo que qualquer fusão pode ser uma "decisão puramente econômica".

Apesar de alguns analistas apontarem que a declaração de Chirac foi meramente política, e não necessariamente de caráter intervencionista, os comentários do presidente francês refletiram uma preocupação crescente nos círculos financeiros da França de que a Euronext pode ter se apressado em uma fusão com a NYSE sem examinar todas as possibilidades de um acordo com a Deutsche Börse.

A fusão acertada entre a bolsa de Nova York e a européia ainda precisa passar pelo crivo dos acionistas da Euronext e da agência reguladora de mercado da França, que terá de assinar um acordo de regulamentação com o órgão correspondente dos Estados Unidos, a US Securities and Exchange Comission.