Irã: EUA deixaram o acordo nuclear de 2015 e aplicaram severas sanções contra o país (Sergei Karpukhin/Reuters)
EFE
Publicado em 27 de agosto de 2019 às 16h27.
Teerã — O presidente do Irã, Hassan Rohani, exigiu esta terça-feira que os Estados Unidos derrubem todas as punições contra seu país antes de uma reunião com o chefe de governo americano, Donald Trump, com quem disse não querer apenas tirar uma foto oficial.
Com essas palavras, Rohani reduziu as chances de um encontro com Trump, anunciado na véspera pelo presidente da França, Emmanuel Macron, que havia expressado a expectativa de acertar a conversa nas próximas semanas.
"A chave para que ocorram desenvolvimentos positivos nas relações dos dois países está nas mãos de Washington", destacou o presidente iraniano em discurso televisionado, no qual disse ser urgente que os EUA se arrependam das punições.
Por isso, o desbloqueio a qualquer negociação depende que o Governo de Trump dê o primeiro passou, segundo Rohani. "Se a outra parte voltar a seus compromissos do acordo nuclear de 2015, o Irã fará o mesmo e resolverá os problemas de maneira lógica", salientou.
Trump decidiu reimpor sanções econômicas ao Irã no ano passado após se retirar unilateralmente do pacto nuclear assinado em 2015 com o país do Oriente Médio e outras cinco grandes potências: Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha.
Devido às sanções e ao fracasso dos outros governos de segurá-las, as autoridades iranianas deixaram de cumprir alguns dos seus compromissos com o pacto nos últimos meses.
Em julho, o Irã excedeu o limite de armazenamento de urânio e o nível de enriquecimento, e deve, como lembrou Rohani hoje, dar novos passos nessa linha a partir da próxima semana caso não sejam garantidas as suas exportações petrolíferas.
A respeito disso, Macron disse ontem que podem ser dadas compensações econômicas para convencer os iranianos a aceitarem algumas das reivindicações de Trump. O presidente americano afirmou estar disposto a se reunir com Rohani, mas adiantou que qualquer novo acordo nuclear deveria representar que o Irã não tenha acesso a uma bomba atômica nem desenvolva mísseis balísticos "durante muito mais tempo".
As condições não são simples, já que Teerã insistiu que não vai voltar a negociar os termos do acordo nuclear e que os seus sistemas de mísseis balísticos são uma linha vermelha. Além disso, não está confiante que um novo pacto será cumprido no futuro pelos EUA e não quer reuniões midiáticas mas sem resultados evidentes, como as de Trump com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un.
"Se alguém quiser tirar uma foto com Hassan Rohani, isso não será possível a menos que suspenda todas as sanções injustas e respeite os direitos da nação iraniana, o que mudará as regras do jogo", finalizou o chefe de governo do Irã.
Na mesma linha, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohamad Yavad Zarif, declarou nesta terça-feira considerar inimaginável uma reunião entre Trump e Rohani até que Washington cumpra com os seus compromissos do acordo nuclear.
Zarif explicou que a sua visita à cúpula do G7, no último domingo, na cidade francesa de Biarritz, teve como objetivo buscar fórmulas para salvar o acordo, mas deixou claro que esse encontro não aconteceria. "Agora é necessário implementar acordos prévios, e não vimos sinal especial algum nesse sentido", frisou.
A possibilidade de negociações diretas com os Estados Unidos é um tema espinhoso no Irã, onde os setores mais conservadores se opõem a qualquer novo diálogo, algo visto como uma humilhação.
O próprio líder supremo, Ali Jamenei, que tem a última palavra nas decisões do país, rejeitou em várias ocasiões negociar com os americanos, uma opção que chamou de "engano" e de "veneno".
As pressões internas dificultam uma eventual aproximação para diminuir as tensões, que ocorrem não apenas tema nuclear, mas também afetaram a segurança no golfo Pérsico, onde desde maio foram registrados ataques a embarcações e demolição de drones.
"Senhor Rohani, o país progride com trabalho e esforço e não mediante visitas com um ou outro". Essa foi a chamada do jornal "Keyhan", uma das principais vozes dos conservadores na imprensa.
Um deputado dessa corrente, Nasrolá Peymanfar, declarou na sessão do Parlamento que o povo iraniano não permitirá que o presidente do país inicie um novo jogo que, na sua opinião, causa muito prejuízo ao país.
Nos setores moderados próximos a Rohani, também há dúvidas. O ex-vice-presidente e clérigo reformista Mohamad Ali Abtahi considera a eventual reunião uma "armadilha política".
Em mensagem no Twitter, Abtahi advertiu o chefe de governo que alimentar a possibilidade de um encontrou que se mostra impossível colocará em perigo o ambiente interno do país e elevará a pressão no exterior.