Forças de segurança afegãs em patrulha: "Eu não sei o que vai mudar. Já disse isso várias vezes: se 100 mil soldados fracassaram em sua missão, 5 mil ou 6 mil não farão diferença", disse Zamir Kabulov, porta-voz do Kremlin para o Afeganistão (Hamid Shalizi/ Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2015 às 13h57.
Moscou - A Rússia afirmou nesta quinta-feira que a decisão dos Estados Unidos de adiar a retirada de seu contingente militar do Afeganistão não influenciará o curso da guerra entre o exército afegão e os talibãs.
"Eu não sei o que vai mudar. Já disse isso várias vezes: se 100 mil soldados fracassaram em sua missão, 5 mil ou 6 mil não farão diferença", disse Zamir Kabulov, porta-voz do Kremlin para o Afeganistão, à agência oficial "RIA Nóvosti".
Segundo ele, a permanência americana "pode representar um respaldo político e moral para as autoridades afegãs, que, por alguma razão, acham que a presença militar estrangeira lhes facilitará a existência".
"As autoridades e o povo afegão devem em primeiro lugar contar com suas próprias forças", disse, e o Ocidente deve se limitar a instruir os soldados afegãos e fornecer armamento moderno para a luta contra os talibãs.
Em sua opinião, "seria muito mais efetiva a entrega de material do que milhares de soldados norte-americanos que perseguirão os talibãs por todo o Afeganistão".
Washington anunciou hoje que os EUA atrasarão sua retirada militar do Afeganistão e manterão 5.500 soldados até janeiro de 2017.
De acordo com o novo plano que Obama apresentará hoje, 9.800 soldados americanos ficarão no Afeganistão até o final de 2016, e depois o total será reduzido a 5.500 homens, que permanecerão no país até o final de 2017.
Alguns deles continuarão fazendo trabalhos de treinamento do exército afegão, enquanto parte do contingente se dedicará a localizar jihadistas da Al Qaeda, do Estado Islâmico e outras organizações terroristas que operam na região.
Para Kabulov, a decisão dos Estados Unidos é uma reação aos últimos eventos no Afeganistão, como a recente tomada da emblemática cidade de Kunduz pelos insurgentes, que foi reconquistada três dias depois pelas forças governamentais.
"Não existe outra explicação. A decisão de adiar a retirada vem porque a realidade afegã obrigou à Administração americana a mudar de planos", opinou.
O ataque a Kunduz foi a maior conquista militar dos talibãs desde a queda de seu regime em 2001, após a invasão ocidental do Afeganistão depois dos atentados de 11 de setembro.
Na opinião do diplomata russo, Washington teme que outras cidades, exceto Cabul - "que conta com suficientes forças e está por enquanto fora do alcance dos extremistas" - caiam nas mãos dos rebeldes afegãos.
Em dezembro do ano passado, Kabulov tachou de "extremamente inoportuna" a retirada das tropas ocidentais do Afeganistão, e disse que os talibãs voltariam a ser fortes como em 2001.