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Presença de Chavez é dúvida na Cúpula das Américas

Chávez se submete atualmente a um tratamento de radioterapia em Havana contra um câncer recorrente detectado em 2011

Com lágrimas nos olhos, Chávez pediu a Deus, na semana passada, em uma emocionante missa, que desse mais tempo de vida a ele  (©AFP/Arquivo / Ho)

Com lágrimas nos olhos, Chávez pediu a Deus, na semana passada, em uma emocionante missa, que desse mais tempo de vida a ele (©AFP/Arquivo / Ho)

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Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2012 às 16h42.

Caracas - A presença na Cúpula das Américas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que realiza um tratamento de radioterapia contra um câncer, ainda não foi confirmada a poucos dias do começo do encontro na Colômbia, e a influência dele na região diminui, enquanto enfrenta uma complicada reeleição em casa.

Chávez se submete atualmente a um tratamento de radioterapia em Havana contra um câncer recorrente detectado em 2011. Na quarta-feira, encerrará seu terceiro ciclo e até agora não informou se viajará a Cartagena para o encontro continental que começa no sábado.

"Esperamos que o presidente Chávez possa estar presente na cúpula", declarou, em uma entrevista publicada domingo, a chanceler colombiana, María Angela Holguín.

Protagonista inevitável das cúpulas regionais devido a seu discurso franco e duro, o presidente, no poder desde 1999, deu voz a um grupo de governos de esquerda que ele mesmo organizou e que serviram de contrapeso aos Estados Unidos.

Apoiado em uma das maiores reservas mundiais de petróleo, Chávez, de 57 anos, impulsionou assim a criação da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) de integração política e cooperação econômica, ou do grupo Petrocaribe, de subvenção petrolífera.

A realização da VI Cúpula das Américas, contudo, coincide com o ressurgimento de seu câncer, cuja gravidade é desconhecida e com a diminuição de sua poderosa influência regional.


"As dificuldades econômicas internas e a perda de apoio para o projeto bolivariano na própria Venezuela, apesar de ainda ser importante, dificultam a projeção externa" de Chávez, explica à AFP Giorgio Romano, coordenador de Relações Internacionais da brasileira Universidade Federal do ABC.

Apesar de as pesquisas o colocarem em primeiro lugar nas eleições presidenciais de 7 de outubro, Chávez enfrenta, depois de mais de 13 anos no poder, o desgaste de sua "revolução socialista" e uma economia afetada pela grande volatilidade, com a maior inflação da região.

A oposição, unida em apoio a um candidato presidencial único, o governador do estado Miranda (norte), Henrique Capriles Radonski, se encontra em seu melhor momento desde 1999, graças a mais de três milhões de eleitores que votaram em suas inéditas primárias de fevereiro.

A influência de Chávez na região não cresceu "por uma combinação de fatores. O mais importante são os problemas internos", afirma à AFP Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, um 'think tank' com sede em Washignton.

Este especialista também aponta motivos externos, especialmente as últimas mudanças políticas na América Latina, uma região cada vez mais "pragmática e moderada" e menos inclinada a radicalismos.

Chávez "falhou em atrair" novos membros de peso a ALBA, integrada por oito países e, por sua vez, a presidente brasileira, Dilma Rousseff, é "menos entusiasta" que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, em suas relações com o venezuelano, segundo Hakim.


A chegada ao poder de Ollanta Humala no Peru e de Mauricio Funes em El Salvador, apesar de serem esquerdistas, também não permitiu a ele ampliar seu campo de influência, acrescenta a cientista política venezuelana María Teresa Romero.

"Desde o começo, ambos se distanciaram (de Chávez): não queriam que os identificassem com o mesmo projeto político radical", explica à AFP.

Neste contexto, o próprio Chávez moderou seu discurso na região e, por exemplo, com a chegada à Presidência da Colômbia de Juan Manuel Santos, restabeleceu as relações que tinha rompido com seu antecessor, Álvaro Uribe.

Em relação ao presidente americano Barack Obama, embora tenha feito duras críticas a ele, sua chegada à Casa Branca permitiu por panos quentes na tensão que manteve com George W. Bush.

"Chávez reduziu sua própria pretensão de responder por todo o continente. O radicalismo com que se dirigia a situações internas de outros países latinoamericanos diminuiu visivelmente", comenta Romano.

Os analistas concordam que a incerteza que foi gerada em torno do seu câncer também enfraquece sua imagem.

Com lágrimas nos olhos, Chávez pediu a Deus, na semana passada, em uma emocionante missa que desse mais tempo de vida a ele porque, para ele, ainda há coisas a fazer, aumentando os temores sobre a gravidade de sua doença.

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