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Ativista de Belarus e ONGs russa e ucraniana vencem Prêmio Nobel da Paz

Ales Bialiatski ganhou o Prêmio junto com a ONG russa de direitos humanos Memorial e à associação ucraniana de direitos humanos Centro para as Liberdades Civis

Prêmio Nobel: instituição laureia descobertas e contribuições para a humanidade desde 1901. (ANGELA WEISS/Reuters)
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Carlo Cauti

Publicado em 7 de outubro de 2022 às 06h56.

Última atualização em 7 de outubro de 2022 às 08h09.

O ativista bielorrusso Ales Bialiatski ganhou o Prêmio Nobel da Paz junto com a ONG russa de direitos humanos Memorial e à associação ucraniana de direitos humanosCentro para as Liberdades Civis.

Segundo o Comitê para o Nobel, os vencedores são "três excepcionais defensores dos direitos humanos, da democracia e da coexistência pacífica na Bielorrússia, Rússia e Ucrânia".

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“Através de seus esforços consistentes em favor de valores humanistas, do antimilitarismo e do princípios de direito, os vencedores deste ano revitalizaram e honraram a visão de paz e fraternidade entre as nações de Alfred Nobel, uma visão que é cada vez mais necessária no mundo de hoje”, indica a motivação do prêmio.

Quem são os vencedores do Prêmio Nobel da Paz?

Bialiatski, é um dos iniciadores do movimento democrático que surgiu na Bielorrússia em meados da década de 1980, e atualmente está na prisão. No comunicado do Prêmio Nobel, o ativista é descrito como alguém que "dedicou a sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico no seu país de origem", e o documento relembra como "as autoridades governamentais tentaram repetidamente silenciá-lo".

"Foi preso de 2011 a 2014. Após grandes manifestações contra o regime em 2020, foi novamente preso. Ele ainda está detido sem julgamento. Apesar das enormes dificuldades pessoais, Bialiatski não cedeu um centímetro na sua luta pelos direitos humanos e pela democracia na Bielorrússia", salienta o comunicado.

LEIA TAMBÉM: Quem foram os 10 últimos vencedores do Prêmio Nobel da Paz?

A outra vencedora do Nobel da Paz, a ONG russa Memorial, havia sido fechada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, poucos dias após o início da guerra contra a Ucrânia. Criada durante a Perestroika, o processo de mudança iniciado por Mikhail Gorbatchov que levou ao fim da União Soviética, Memorial atuou para documentar os gulags e as vítimas do stalinismo, coletando rostos, nomes, histórias e vasculhando os arquivos assim que foram abertos.

Em março passado, um dos historiadores mais ativos da ONG, Sergej Bondarenko, ficou 15 horas em frente aos escritórios da Memorial junto com colegas, após os locais serem ocupados por funcionários à paisana do FSB, o serviço de inteligência e repressão russo herdeiro do KGB, e do "Centro anti-extremista" do governo russo. Quando os funcionários da Memorial conseguiram entrar na sede, de manhã cedo, encontraram várias "Z" pichadas em portas e paredes.

A ONG Centro para as Liberdades Civis é a terceira vencedora do Nobel da Paz deste ano. Fundada em Kiev em 2007 para promover os direitos humanos e a democracia na Ucrânia, "após a invasão russa, comprometeu-se a identificar e documentar os crimes de guerra russos contra a população civil ucraniana. Em colaboração com parceiros internacionais, o centro desempenha um papel pioneiro na responsabilização dos culpados dos seus crimes".

Prêmio Nobel da Paz entre os mais aguardados este ano

O Nobel da Paz foi talvez o mais esperado deste ano. Entregue 102 vezes, entre 1901 a 2021, já homenageou 137 nomes inscritos no rol de honra: 109 indivíduos (18 mulheres) e 28 organizações. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha foi premiado três vezes (em 1917, 1944 e 1963), enquanto o Alto Comissariado da ONU para Refugiados duas (1954 e 1981).

"Este ano os vencedores representam a sociedade civil em seus países, há muitos anos promovem o direito de criticar o poder e trabalham para proteger os direitos fundamentais dos cidadãos", explicou o comitê do Nobel, "Eles fizeram um esforço extraordinário para documentar crimes de guerra, abusos de direitos humanos e abusos de poder, Juntos demonstram a importância das sociedades civis para a paz e a democracia".

No ano passado, o prêmio foi para Dmitry Muratov e Maria Ressa, dois jornalistas opositores aos governos de seus respectivos países. Muratov é ex-editor-chefe do jornal investigativo russo Novaya Gazeta, onde a jornalista Anna Politkovskaya, morta em 2006, escreveu. Ressa é uma jornalista filipina-americana, cofundadora do site de notícias Rappler, conhecido por suas investigações sobre o governo do presidente filipino Rodrigo Duterte.

Os vencedores do Prêmio Nobel da Paz são muitas vezes considerados como pedras nos sapatos dos regimes autoritários. Por exemplo, no caso da ativista birmanesa Aung San Suu Kyi, premiada em 1991 quando estava presa, e só conseguiu retirar o Prêmio pessoalmente em 2012. Às vezes, governos autoritários chegam a fazer de conta que nada ocorreu quando um opositor de seu país é premiado pelo Comitê do Nobel. Foi, por exemplo, o que aconteceu no ano passado, quando o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, parabenizou publicamente Muratov, elogiando sua coragem e talento.

Como funciona o Prêmio Nobel da Paz

Ao contrário dos outros Prêmios Nobel, o da Paz é concedido na Noruega, e não na Suécia, país onde nasceu Alfred Nobel, o químico, empresário e filantropo conhecido por ser o inventor da dinamite e o criador dos prêmios mais famosos do mundo.

O anúncio e a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz são realizados em Oslo pois, na época da instituição dos prêmios, a Noruega ainda era unida à Suécia, antes da independência de 1905.

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