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Povoado de ex-guerrilheiros das Farc vira comunidade autônoma

Ao todo, 26 comunidades abrigam ex-guerrilheiros que se concentraram antes de deixar as armas graças ao acordo de paz na Colômbia

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Farc: comunidades de ex-guerrilheiros são conhecidas como Espaço Territorial de Capacitação e Reincorporação (John Vizcaino/Reuters)

Farc: comunidades de ex-guerrilheiros são conhecidas como Espaço Territorial de Capacitação e Reincorporação (John Vizcaino/Reuters)

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Jaime Ortega Carrascal, da EFE

Publicado em 19 de dezembro de 2017 às, 06h31.

San José de Oriente, Colômbia - À primeira vista, Tierra Grata parece mais uma aldeia do Caribe colombiano, com casas, decoração de Natal, vegetação nativa e música típica ao fundo, mas o povoado tem algo especial: é habitado por ex-guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e suas famílias.

O lugar é uma das 26 comunidades onde ex-guerrilheiros se concentraram antes de deixar as armas graças ao acordo de paz no país e que são conhecidos como Espaço Territorial de Capacitação e Reincorporação (ETCR).

No topo de um morro da região de San José de Oriente, no município de La Paz, no departamento (estado) de Cesar, Tierra Grata abriga em suas casas de paredes brancas e telhados vermelhos 164 ex-guerrilheiros, muitos deles com família, que têm o desejo de transformá-la em uma cidade.

"Queremos que seja constituída como uma cidade. Nossa ideia é ficar aqui, construir, plantar e criar um novo ambiente para todos", disse à Agência Efe Óscar Alberto Guerrero, que tem 42 anos e passou 29 deles na Frente 29 das Farc, que operava em Sierra Nevada de Santa Marta.

De qualquer ponto da aldeia é possível ter uma vista privilegiada da montanha, com a neve eterna no cume, e da cidade de Valledupar, capital de Cesar, que fica a 40 minutos de carro.

Como qualquer cidadezinha, Tierra Grata tem um pequeno estabelecimento comercial, uma empresa comunitária administrado por Guerrero, no local que é um dos pontos de encontro de moradores, membros do governo e técnicos que visitam o lugar, como fez o alto comissário da Paz, Rodrigo Rivera, no dia último dia 16.

Outro lugar popular é um espaço de recreação com três mesas de sinuca e duas pequenas mesas de tejo -, um esporte colombiano que consiste em explodir pavios de pólvora com um disco metálico lançado à distância -, além de uma área reservada para as reuniões de fim de semana e onde reina o vallenato, um ritmo típico dessa região da Colômbia.

O antigo acampamento guerrilheiro, de ruas empoeiradas e acessível apenas por uma estrada em mau estado, tem eletricidade, lavanderia, área comum para o banho, assim como antenas para TV via satélite, mas não tem água limpa, uma das principais queixas dessa população.

"Aqui não tem água. O governo não trouxe", reivindicou Guerrero, lembrando que o abastecimento é feito pelos Bombeiros de La Paz, mas que quando chove a população fica até três dias sem o fornecimento.

Por enquanto, em pequenas hortas eles plantam aipim, tomate, coentro e cebola, que crescem ao lado de flores.

"Umas das coisas que precisamos é terra. Nós sabemos trabalhar, sabemos cultivar e não conseguimos porque o governo não nos deu terra", acrescentou ele, que reconheceu que a paz trouxe muitos benefícios, como a tranquilidade e a integração das famílias.

Uma opinião parecida à de Cristóbal López, que depois de passar 26 anos nas Farc, considera que há dificuldades, "mas se sente melhor aqui". López, pai de Yaraise, de oito anos, defendeu que o melhor de viver em paz é poder reencontrar os pais, já idosos.

"Tinha, mais ou menos 25 anos que eu não via nem a minha mãe e nem o meu pai. Agora, posso falar e me encontrar com eles. Eles estão felizes por eu estar vivo e com vontade de seguir adiante para ajudá-los", afirmou.

Encostado nas prateleiras da loja, Óscar Guerrero também lembrou que muitas vezes esteve prestes a morrer em combates entre as Farc e o Exército, mas agora disse estar feliz com a paz, apesar de o governo não ter cumprido tudo o que foi acertado.

"Gostaríamos que tudo fosse felicidade, mas infelizmente não é porque ainda existem muitas restrições", conclui.

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