José Sócrates: a renúncia do primeiro-ministro ainda não foi aceita (Antonio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2011 às 16h41.
Lisboa - Portugal sofreu nesta quinta-feira outro revés nos mercados, após reconhecer que o déficit fiscal anunciado há dois meses é muito maior que o previsto devido a uma diferença de critérios contáveis, o que significa um não cumprimento dos compromissos com Bruxelas.
Frente a um desequilíbrio nas finanças do Estado calculado a princípio em 7,3%, Portugal se viu obrigado a somar aos números vermelhos mais de 3 bilhões de euros em perdas de empresas públicas e de um banco naturalizado que elevam o déficit para 8,6%.
O anúncio voltou a disparar os já muito elevados juros da dívida portuguesa, que no caso dos bônus a cinco anos tiveram a maior alta e ultrapassaram 9,5%.
Os títulos de referência a dez anos, que tinham resistido à tendência de alta registrada a curto prazo, aumentaram em três décimos, até 8,33%.
Enquanto isso, o chefe de Estado português, o conservador Aníbal Cavaco Silva, fez nesta quinta-feira a primeira avaliação da gestão pública em quatro dias sobre a crise política suscitada no último dia 23 com a renúncia do primeiro-ministro socialista, José Sócrates.
Cavaco se reuniu com o Conselho de Estado, um organismo formado por personalidades políticas cuja consulta é obrigatória antes da convocação de eleições antecipadas, como pedem os partidos.
Formalmente, o chefe de Estado ainda não aceitou a renúncia de Sócrates, motivada pela rejeição no Parlamento de seu último plano de ajuste econômico, e deve decidir se antecipa as eleições em dois anos e meio ou propõe um novo Governo.
No meio da crise, o anúncio dos novos números do déficit fiscal, realizado pelo ministro de Finanças português, Fernando Teixeira dos Santos, foi amparado com fortes criticas por toda a oposição.
O líder parlamentar do Social Democrata (PSD), Miguel Macedo, acusou o Executivo socialista de "humilhar" Portugal nos mercados e no mundo e ressaltou que, apesar de estar interino, tem "plenos" poderes para pedir um eventual resgate financeiro.
Pouco antes, Teixeira dos Santos e o ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, consideraram que as negociações para pedir ajuda externa superam as competências de um Governo demissionário.
Ambos asseguraram que o gabinete de Sócrates fará o possível para evitar o resgate, mas a evolução dos juros da dívida portuguesa e o súbito agravamento de seu déficit fiscal fazem muitos especialistas pensarem o contrário.