Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, chega a Suprema Corte de Senegal para encontrar com os líderes regionais do judiciário, em Dacar (Jason Reed/Reuters)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2013 às 12h03.
Dacar - Quase quatro séculos depois do começo do envio de africanos como escravos para a América do Norte, o primeiro presidente afrodescendente dos EUA visitará nesta quinta-feira um local tristemente famoso por sua associação àquele período.
Em sua primeira visita prolongada ao continente --e já muito atrasada, na opinião de muitos africanos--, Barack Obama irá abordar principalmente questões políticas e econômicas, mas também irá homenagear um capítulo doloroso na história americana.
No primeiro compromisso dos seus oito dias de viagem, ele leva a família à Casa dos Escravos, um forte construído no final do século 18 na ilha de Gorée, na costa senegalesa. Aquele era um local de trânsito por onde passaram milhões de africanos a caminho da escravidão nas Américas, e hoje funciona como museu.
Muitos africanos sentem um vínculo com Obama, que é filho de um queniano já falecido, mas manifestam frustração com o fato de ele não ter mantido com o continente o mesmo envolvimento que seus antecessores, George W. Bush e Bill Clinton.
Durante seu primeiro mandato, a única visita de Obama à África foi uma parada de um dia em Gana, e muitos africanos estavam impacientes para que ele fizesse uma viagem mais prolongada.
"É um verdadeiro prazer para nós que o mundo tenha avançado a ponto de que um homem negro possa ser presidente dos Estados Unidos", disse o alfaiate Abdoul Azi Signane, que comprava uma camiseta com a imagem de Obama numa loja de Dacar, a capital do Senegal. "Isso nos deixa muito orgulhosos. Por isso vim comprar a camiseta, para poder recepcioná-lo e dizer: ‘Amamos você, Obama, muito'." Ao contrário do que fez Bush, que em 2003 proferiu em Gorée um discurso no qual descreveu a escravidão como pecado, Obama não deve discursar na pequena ilha.
O principal pronunciamento de Obama nessa visita a três países será no domingo, na Universidade da Cidade do Cabo, na África do sul.
Em Gorée, Obama se reunirá com líderes cívicos antes de voltar ao continente e conversar com advogados e juízes, refletindo a ênfase dessa viagem na busca pela estabilidade política e oportunidades econômicas para o continente.
Apesar de todo o simbolismo envolvido na visita a Gorée, há dúvidas sobre a conveniência de um pedido de desculpas presidencial pela escravidão.
"A magnitude da escravidão é inimaginável", disse o historiador Johnson, da Universidade Harvard. "Poderá Obama curar essa ferida com um só discurso e com o extraordinário simbolismo da sua visita como presidente dos EUA, isso vai fechar o círculo? Absolutamente não." Mas um pedido de desculpas parece improvável. Uma admissão soberana de culpa abriria espaço para pedidos de indenização, algo que o governo Obama dificilmente aceitaria ou iniciaria.