Por que Kim Jong-un vai encontrar Putin na Rússia?
O Kremlin e a agência estatal norte-coreana KCMA confirmaram a reunião entre os líderes
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 11 de setembro de 2023 às 11h55.
Última atualização em 11 de setembro de 2023 às 19h19.
O líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, viajou nesta segunda-feira, 11, em um trem para um encontro com o presidente do Rússia, Vladimir Putin. A informação foi divulgada inicialmente pela mídia sul-coreana. Horas depois, o Kremlin e a agência estatal norte-coreana KCMA confirmaram a reunião entre os líderes.
“A convite do presidente russo, Vladimir Putin, o presidente da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Kim Jong Un, fará uma visita oficial à Rússia nos próximos dias”, afirmou o governo russo.
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Segundo o jornal Chosun Ilbo, um dos principais da Coreia do Sul, fontes do governo afirmaram que o trem saiu da capital norte-coreana, Pyongyang, na noite de domingo, 10, e que uma reunião entre os dois líderes deve ocorrer na terça-feira, 12.
O encontro deve ocorrer na cidade de Vladivostok, no leste da Rússia, onde Putin chegou nesta segunda-feira para participar do 8º Fórum Econômico do Leste (EEF) que acontece até quarta-feira, 13, segundo a agência de notícias russa TASS. Kim visitou a Rússia pela última vez em 2019.
A reunião acontece após autoridades norte-americanas divulgarem na semana passada que a Coreia do Norte e a Rússia iriam organizar um encontro entre seus líderes no mês de setembro para discutir cooperação militar. Os russos e norte-coreanos não informaram quais assuntos serão tratados no encontro.
Segundo a agência Reuters, os americanos acreditam que Putin busca mais armas e munições para reabastecer suas reservas em declínio, em meio a contraofensiva da Ucrânia. Analistas estimam que os norte-coreanos possuem milhões de projéteis de artilharia e foguetes baseados em projetos soviéticos que poderiam potencialmente dar um enorme impulso ao exército russo. O acordo, se concretizado, pode prolongar ainda mais o conflito que já dura mais de 17 meses.
Em junho deste ano, após o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, realizar visita à Coreia do Norte, quando Kim Jong-un o convidou para uma exposição de armas e um enorme desfile militar em Pyongiang, os Estados Unidos acusaram os norte-coreanos de fornecer armas aos russos, incluindo artilharia ao grupo mercenário Wagner. Autoridades russas e norte-coreanas negaram as acusações.
Em troca do possível apoio militar, Kim exigiria de Putin ajuda energética, alimentar e de tecnologias para armas avançadas, de acordo com a Reuters. Nos últimos meses, Pyongyang tem lançado testes de mísseis balísticos intercontinentais no mar. Apesar da possibilidade aventada, o Kremlin tem histórico de não realizar grandes transferências de tecnologia para aliados. Por isso, a visita pode ter mais um fator simbólico do que de cooperação militar.
Jon Finer, vice-conselheiro-chefe de segurança nacional do presidente dos EUA, Joe Biden, disse a repórteres no domingo que a Coreia do Norte “pode ser a melhor e a única opção” da Rússia para comprar armas em meio a guerra na Ucrânia. “Temos sérias preocupações sobre a possibilidade de a Coreia do Norte vender potencialmente armas aos militares russos. É interessante refletir por um minuto sobre a mensagem que isso passa quando a Rússia dá a volta ao mundo à procura de parceiros que a possam ajudar e termina na Coreia do Norte”, disse Finer a bordo de um avião que transportava Biden da Índia para o Vietnã.
Relação entre Rússia e Coreia do Norte
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, o Kremlin se aproximou da Coreia do Norte. O país é o único, além da Rússia e da Síria, a reconhecer a independência de duas regiões separatistas apoiadas pela Rússia no leste da Ucrânia - Donetsk e Luhansk. Os norte-coreanos também culpam os americanos pelo conflito, alegando que a “política hegemônica” do Ocidente justificava uma ofensiva russa na Ucrânia para se proteger.
A principal relação comercial entre Rússia e Coreia do Norte está baseada na exportação do petróleo de Moscou para Pyongyang. Segundo informações da ONU, os primeiros envios deste tipo foram registrados em 2020, apesar das sanções internacionais. Recentemente, autoridades russas e norte-coreanos disseram que vão discutir acordos políticos para empregar até 50 mil trabalhadores norte-coreanos. A ideia é que essas pessoas trabalhem na construção civil para reconstruir áreas devastadas pela guerra.