Por que a Rússia considera a Otan um perigo para a sua existência
Desde 2014, a ampliação da OTAN é considerada entre as “principais ameaças externas” da doutrina militar russa, documento que determina a política de defesa do país.
Agência de notícias
Publicado em 11 de julho de 2023 às 13h48.
Última atualização em 11 de julho de 2023 às 13h51.
A OTAN, que desde o fim da União Soviética incorporou 15 países europeus, é considerada uma ameaça existencial para a Rússia, ao ponto de servir de justificativa de sua ofensiva contra a Ucrânia. O pesadelo de Moscou - que a Ucrânia, o antigo "país irmão", se junte à Aliança - pode se tornar realidade.
Kiev reivindica uma "mensagem clara e positiva" sobre suas perspectivas de adesão na cúpula da OTAN que acontece nesta terça e quarta-feiras em Vilnius (Lituânia). Se a Rússia lançou uma ofensiva na Ucrânia, em fevereiro de 2022, foi, alegadamente, em grande medida para impedir que o país se tornasse parte da organização.
- Recorde de frio: cidade de SP registra a menor temperatura do ano nesta terça; veja previsão
- Suíça se junta à iniciativa europeia de escudo aéreo em resposta a ataques russos na Ucrânia
- Ucrânia e Otan: os principais pontos de uma relação cada vez mais estreita
- Coreia do Sul revela detalhes do satélite espião norte-coreano que caiu no mar
- Âmbar cinza de R$ 2,6 milhões, o 'ouro flutuante' é encontrado em baleia morta nas Ilhas Canárias
- 4 de julho nos Estados Unidos: Entenda a origem e tradições do feriado americano
Desde 2014, a ampliação da OTAN é considerada entre as “principais ameaças externas” da doutrina militar russa, documento que determina a política de defesa do país.
"A implantação de infraestruturas militares da OTAN perto das fronteiras russas é percebida em Moscou como uma ameaça real à segurança do país", disse à AFP o cientista político Georgi Bovt.
O ponto de inflexão na relação da Rússia com a OTAN foi a intervenção da Aliança no conflito iugoslavo em 1999, que levou o Kremlin a pensar que, “se no passado bombardearam Belgrado, podem bombardear Smolensk no futuro", afirma o especialista.
As relações começaram de forma distendida, quando, após o fim da Guerra Fria, a Rússia aderiu em 1994 à chamada Parceria para a Paz, programa da OTAN que oferece colaboração militar aos países do antigo bloco do Leste Europeu.
Quatro países da Otan fazem fronteira com a Rússia
Quase três décadas depois, a Aliança tem contingentes militares em oito países do Leste Europeu, quatro deles na fronteira com a Rússia.
Moscou considera essa expansão uma traição à promessa que lhe foi feita pelos países ocidentais após a queda da URSS de não expandir a Aliança - algo que o presidente russo, Vladimir Putin, vem repetindo há anos. Nesse sentido, Moscou monitora de perto a possível adesão da Ucrânia à OTAN.
Mesmo que o encontro na Lituânia não leve a uma integração acelerada, "será dado um novo passo rumo à adesão", afirma Georgi Bovt.
Segundo o especialista, a Rússia "não tem nenhum motivo para pôr fim às suas operações militares" e, no sentido contrário, "enquanto a guerra continuar, a Ucrânia não será aceita na OTAN".
A Finlândia aderiu à OTAN em abril, praticamente dobrando a fronteira comum da Rússia com a Aliança, agora de mais de 2.500 quilômetros.
Já a Suécia deve aderir à Aliança logo após o sinal verde de Hungria e Turquia, próxima da Rússia, uma decisão que poderá complicar as relações de Ancara com Moscou.
O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, destacou hoje que a Turquia está "mais orientada para o Ocidente do que para a Rússia" e pediu às autoridades turcas que tirem "os óculos cor de rosa" porque, segundo ele, "ninguém quer a Turquia na Europa".
A adesão da Ucrânia à OTAN é a principal preocupação em Moscou, que viu com bons olhos o fato de sua vizinha não ter recebido um convite oficial, nem um calendário preciso para aderir à Aliança, durante a cúpula da Lituânia.
A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse, ironicamente, que a cúpula da OTAN na Lituânia é um "espetáculo pitoresco", onde serão ouvidos "solos de violoncelo para apoiar a Ucrânia", mas sem oferecer a Kiev qualquer perspectiva real de integração.