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Político de extrema direita descobre raízes judaicas

Nos últimos anos, Szegedi sustentou de forma reiterada em seus discursos e entrevistas que Israel e os judeus "compram a Hungria"


	Crianças imigrantes passam em frente a sinagoga: após confrontar suas origens, Szegedi se reuniu com um rabino, que em comunicado informou que o político se desculpou
 (Uriel Sinai/Getty Images)

Crianças imigrantes passam em frente a sinagoga: após confrontar suas origens, Szegedi se reuniu com um rabino, que em comunicado informou que o político se desculpou (Uriel Sinai/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de agosto de 2012 às 15h27.

Budapeste - Csanád Szegedi, ex-membro do partido húngaro de extrema direita Jobbik e que durante anos criticou os judeus e Israel, enfrenta uma nova realidade após descobrir suas origens judaicas.

O político radical, que segundo um rabino húngaro atravessa um "caminho de aprendizagem", anunciou recentemente que visitará os campos de concentração de Auschwitz, onde esteve sua avó no final da Segunda Guerra Mundial.

Nos últimos anos, Szegedi, como eurodeputado e uma das figuras destacadas do Jobbik, sustentou de forma reiterada em seus discursos e entrevistas que Israel e os judeus "compram a Hungria" e que "os artistas judeus difamam os símbolos nacionais do país".

O político descobriu há pouco tempo suas origens judaicas e que sua avó materna foi deportada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial aos campos de Auschwitz e Dachau.

Desde junho circularam na imprensa húngara rumores sobre as origens judaicas de Szegedi, supostamente por causa de informações que começaram a serem publicadas como consequência dos conflitos internos do partido.

O político primeiro negou tudo, mas em julho um blog revelou uma gravação de 2010 na qual Szegedi prometeu fundos e um emprego na União Europeia (UE) a um indíviduo chamado Zoltán Ambrus, que supostamente o havia chantageado com a ameaça de publicar os dados que provariam sua origem judaica.

Apesar de Szegedi ter assegurado que a fita foi manipulada, os dirigentes do partido, como Elöd Novák, que segundo a imprensa local têm uma relação conflituosa com o eurodeputado, pediram que renunciasse, pois opinam que é difícil crer que o político desconhecia suas origens.

O Jobbik pediu que Szegedi devolva sua cadeira no Parlamento Europeu, algo que o político se negou a fazer, embora tenha deixado o partido em cuja lista conseguiu chegar à Eurocâmara.


"Me sentei com minha avó e tivemos uma longa conversa, na qual soube que é judia. Também me contou que a deportaram e que esteve em Auschwitz e em Dachau", relatou em entrevista ao canal "HírTv".

Agora Szegedi reconhece que tem antecedentes judeus, mas se considera "100% húngaro".

O político foi em 2007 um dos fundadores do braço paramilitar do Jobbik, a Guarda Húngara, ilegalizada dois anos depois por atemorizar ciganos e outras minorias.

Após confrontar suas origens, Szegedi se reuniu com o rabino Slomó Köves, que em comunicado informou que o político se desculpou.

Segundo a religião judia, todos têm direito ao livre arbítrio e podem corrigir seus erros, lembrou o rabino, acrescentando que Szegedi se encontra em um "difícil processo de aprendizagem", que deve terminar de forma positiva.

Segundo o jornal "Népszabadság", neste encontro o político extremista disse que pede perdão por possíveis declarações que tenham ofendido à comunidade judaica.

Entre outras, em novembro de 2010 afirmou em uma manifestação organizada contra a UE, que "Israel tem mais deputados no Parlamento húngaro que no Knesset", o Parlamento israelense.

Em entrevista à televisão pública assegurou que "os judeus estão comprando todo o país" e acrescentou que "artistas judeus" difamaram os símbolos da Hungria, como a coroa.

Szegedi promete agora viajar este ano ao campo de concentração de Auschwitz (Polônia), onde morreu a maioria dos judeus húngaros deportados em 1944.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas mataram mais de meio milhão dos então 800 mil judeus que viviam na Hungria, dos quais a maioria foi deportada e assassinada em campos de extermínio na Áustria, Alemanha e Polônia, principalmente em Auschwitz. 

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