Parlamento britânico vota para descartar um Brexit sem acordo
Votação ocorrerá depois da segunda derrota sofrida por proposta de May para saída do Reino Unido da União Europeia
AFP
Publicado em 13 de março de 2019 às 10h12.
Última atualização em 13 de março de 2019 às 10h38.
Os deputados britânicos votam nesta quarta-feira a favor ou contra um divórcio da União Europeia sem acordo e com consequências econômicas e sociais dramáticas depois de infligir na véspera uma segunda derrota ao acordo do Brexit da primeira-ministra Theresa May .
"Em longo prazo, poderemos acabar transformando um Brexit sem acordo em um sucesso, mas haverá uma reviravolta econômica significativa em curto prazo", declarou May ao parlamento na terça-feira. Ela garantiu que continuará trabalhando para garantir que o Brexit seja implementado com um acordo.
Depois de cinco horas de debates, os deputados, que em janeiro já haviam rejeitado o acordo Brexit alcançado pela primeira-ministra britânica com a União Europeia (UE), voltaram a derrubar o texto com 391 votos contra 242.
Theresa May havia prometido em fevereiro que, se os deputados rejeitassem o acordo novamente, ela organizaria uma nova votação no dia seguinte para deixar claro se eles eram a favor ou contra um Brexit sem um acordo.
May tentou salvar o texto, um calhamaço de 585 páginas, fruto de um ano e meio de negociações árduas, literalmente até o último minuto.
Mas o líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, disse após a votação que o destino do tratado negociado por May foi selado.
"Seu acordo, sua proposta, o que a primeira-ministra apresentou, está claramente morto", afirmou Corbyn.
Para o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a nova rejeição do acordo de divórcio negociado entre Londres e Bruxelas, aumentou "significativamente a probabilidade de um Brexit sem acordo" faltando apenas 17 dias para a data prevista para a ruptura.
May comentou hoje que a União Europeia já deixou claro que não haverá um período de transição se o país deixar o bloco sem um acordo.
May afirmou que o governo britânico já disponibilizou recursos para um eventual Brexit sem acordo.
A derrota representa um novo revés histórico ao tratado que devia pôr fim a 46 anos de integração britânica no bloco europeu, embora tenha sido menor que a derrota humilhante que May sofreu em janeiro, quando 432 deputados votaram contra e 202 a favor de seu projeto.
Para o Banco da Inglaterra, este cenário, o mais temido pelos ambientes empresariais, mergulharia o país em uma grave crise econômica, com um aumento do desemprego e da inflação, queda da libra e do preço da habitação e quase 10% de redução do PIB.
Um adiamento da separação também poderá resultar na organização de um segundo referendo, após o de junho de 2016, que terminou com 52% de votos a favor do Brexit e iniciou todo este processo.
A opção enfrenta o repúdio frontal do governo, mas tem cada vez mais adeptos entre os deputados britânicos que gostariam de anular o Brexit simplesmente.
Por que prorrogar?
Para o negociador europeu, Michel Barnier, o Reino Unido deve decidir que tipo de relação futura pós-Brexit deseja com os 27 sócios europeus antes de solicitar uma eventual prorrogação da data de saída.
"Prolongar esta negociação para quê? A negociação do Artigo 50 (sobre um acordo de divórcio) terminou", disse Barnier no plenário da Eurocâmara em Estrasburgo (França).
Barnier afirmou que após as votações desta quinta, o governo de Theresa May deve informar a UE sobre "como deseja continuar".
"É responsabilidade do Reino Unido nos dizer o que deseja para nossa relação futura, qual é sua escolha, qual é a sua linha clara", afirmou o negociador europeu.
Para o ex-ministro francês e ex-comissário europeu, esta é a questão que precisa de uma resposta, "inclusive antes de uma decisão sobre uma eventual prorrogação".