Para analistas, drones americanos são contraproducentes
Os bombardeios de aviões teleguiados no Paquistão alimentam o sentimento antiamericano, segundo relatório de duas universidades dos EUA
Da Redação
Publicado em 26 de setembro de 2012 às 13h59.
Os incessantes bombardeios de aviões teleguiados americanos na região noroeste do Paquistão , reduto dos talibãs e da Al-Qaeda, assustam a população e são contraproducentes, pois alimentam o sentimento antiamericano, segundo analistas dos Estados Unidos.
Um relatório elaborado por duas universidades americanas, a Stanford Law School e a New York University School of Law, considera equivocada a visão dos Estados Unidos de que a campanha de aviões teleguiados é "eficaz e de precisão cirúrgica, além de reforçar a segurança dos Estados Unidos", e pediu a Washington que reconsidere a estratégia.
O documento, com o título "A vida sob os drones", afirma, assim como Washington, que a grande maioria das milhares de pessoas mortas nos ataques, iniciados em junho de 2004, nas zonas tribais paquistanesas eram combatentes islamitas.
No entanto, o relatório insiste nas graves consequências sociais e psicológicas dos bombardeios na população.
"Os drones sobrevoam as localidades do noroeste 24 horas por dia, atacam veículos, casas e espaços públicos sem aviso prévio. Sua presença aterroriza os homens, mulheres e crianças, criando um trauma psicológico", denuncia.
"Os habitantes vivem sob o temor constante de serem atingidos a qualquer momento por um bombardeio mortal, conscientes de que não têm nenhum meio de proteção", completa o texto.
Em consequência do temor de bombardeios sucessivos, as comunidades locais evitam reuniões, não enviam os filhos para a escola e hesitam antes de socorrer os feridos de um primeiro ataque, destaca o relatório iniciado pela ONG Reprieve, com sede no Reino Unido e que faz campanha contra os aviões teleguiados.
Os disparos a partir dos drones viraram nos últimos anos um dos principais instrumentos da estratégia militar internacional de Washington.
A campanha dos aviões teleguiados no Paquistão, iniciada sem o consentimento oficial das autoridades locais e muito impopular entre os paquistaneses, alimenta as tensões entre Washington e Islamabad.
O relatório é baseado principalmente em entrevistas com moradores do Waziristão do Norte, principal reduto dos talibãs paquistaneses e da Al-Qaeda na região e zona tribal que é o principal alvo dos drones.
"Antes dos disparos de drones, não sabíamos nada dos americanos. Hoje, quase todos os odeiam", afirmou um habitante.
Outro residente adverte: "Não esqueceremos o sangue derramado. Sejam 200 anos, 2000 anos ou 5000 anos, nos vingaremos dos ataques de drones".
Em última instância, os disparos ilegais são contraproducentes, pois a fúria que provocam facilitam o recrutamento de combatentes islamitas antiocidentais na região, ressalta o documento.
Para completar, o texto cita uma informação da CNN de que apenas 2% das pessoas assassinadas pelos aviões teleguiados são alvos islamitas "de alto nível".
Entre junho de 2004 e setembro de 2012, entre 2.562 e 3.325 pessoas morreram na região em ataques dos drones americanos, incluindo de 474 a 881 que eram civis, afirma o relatório.