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Para analistas, cessar-fogo das Farc não é verificável

Segunda-feira, na aberura das negociações em Cuba, as Farc prometeram respeitar uma trégua unilateral de dois meses

Guerrilheiros das Farc são vistos em Caquetá, na Colômbia: para o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, "as organizações terroristas dizem uma coisa e fazem outra" (©AFP / Luis Acosta)

Guerrilheiros das Farc são vistos em Caquetá, na Colômbia: para o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, "as organizações terroristas dizem uma coisa e fazem outra" (©AFP / Luis Acosta)

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Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2012 às 15h33.

Bogotá - O cessar-fogo declarado pela guerrilha colombiana das Farc durante as negociações de paz com o governo será impossível de verificar, na ausência de mecanismos de monitoramento externo, em um país com forte presença de grupos armados ainda ativos, consideram especialistas.

Segunda-feira, na aberura das negociações em Cuba, as Farc prometeram respeitar uma trégua unilateral de dois meses, mas especialistas acreditam que o gesto pode ter pouco efeito.

"A trégua é absolutamente inverificável no terreno, porque não há um organismo de controle", declarou Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia, um centro de estudos sobre a violência na Colômbia.

"Quando houver confrontos, não poderemos saber se é uma ação ofensiva da guerrilha, ou uma resposta defensiva a um ataque das forças militares do governo", que se comprometeu a manter suas operações contra as Farc, acrescenta o analista.

Nunca existiram medidas de verificação internacional sobre o conflito colombiano, responsável pela morte de centenas de milhares de pessoas em quase meio século.

A falta de mecanismos de controle externo é citada como responsável pelo fracasso de um cessar-fogo bilateral em 1980, o primeiro de três tentativas frustradas de alcançar a paz. Nenhum dos lados respeitou a trégua e cada um culpou o outro pela violência que varreu o país, segundo Rangel.

As negociações de paz muito aguardadas em Cuba, após o início de um diálogo na Noruega há um mês, aumentaram as esperanças de uma solução duradoura para este que é um dos conflitos mais longos na América Latina.

Para o cientista político colombiano Alejo Vergara, a obtenção de um cessar-fogo é "tão complexa quanto o acordo (de paz) final".


"Isso depende de um sistema de verificação e, provavelmente, da localização das forças", já que as Farc dificilmente estariam dispostas a revelar o localização de seus membros.

"O cessar-fogo é uma ótima novidade, mas será muito difícil verificar o seu funcionamento", admite Javier Ciurlizza, diretor do programa International Crisis Group, acrescentando que os únicos métodos existentes para medir um cessar-fogo são as informações da imprensa e as declarações dos próprios envolvidos.

Segundo Ciurlizza, os melhores testemunhos são obtidos por agências humanitárias, que têm acesso às áreas de conflito, mas, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), não podem tomar uma posição oficial.

Resta a possibilidade de uma instância de controle internacional, como é o caso da Organização dos Estados Americanos (OEA), muitas vezes utilizada como mediadora em crises na América Latina.

Mas as autoridades colombianas estão determinadas a não afrouxar a pressão sobre os guerrilheiros espalhados pelas regiões rurais do país, com tropas estimadas em 9.200 combatentes, metade do número de dez anos atrás.

Oficiais do Exército já denunciaram que as Farc não respeitaram a trégua nos últimos dias, principalmente na província de Cauca, no sul do país.

"Por um lado, eles agitam uma bandeira branca, do outro, eles continuam a espalhar minas contra os soldados", disse à AFP o general Jorge Humberto Jerez, comandante da Força Apolo, que opera nesta região montanhosa estratégica para a entrega de drogas.

Para o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, "as organizações terroristas dizem uma coisa e fazem outra".

A presença de outros grupos armados também contribui para comprometer os planos, principalmente nas regiões de fronteira com a Venezuela e Equador.

"Em muitas regiões, há alianças entre grupos armados. Nos casos de violência, é difícil determinar quem realmente é o autor", observa Rangel.

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