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Paquistão prende gangue que roubava líquido que protege o cérebro

Estima-se que 90 mulheres tenham sido vítimas dos traficantes. País é um dos maiores pólos do tráfico de órgãos humanos, prática criminalizada em 2010

Cérebro humano: (Matt Cardy/Getty Images)

Cérebro humano: (Matt Cardy/Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 17 de fevereiro de 2018 às 12h18.

Última atualização em 17 de fevereiro de 2018 às 12h25.

São Paulo – A polícia do Paquistão prendeu nesta semana um grupo de homens que teriam extraído o líquido cefalorraquiano de várias mulheres e adolescentes na cidade de Hafizbad, que fica em Punjab, uma das províncias mais prósperas do país. A gangue desejava revender o fluído no mercado paralelo, embora ainda não se saiba exatamente com qual finalidade.

A informação foi divulgada pelo jornal paquistanês Pakistan Times e repercutida especialmente na imprensa britânica, por veículos como os jornais The Guardian e The Independent, bem como pela rede de notícias BBC. “Este foi um dos casos mais bizarros que já me deparei durante minha carreira”, disse um dos investigadores ao The Guardian.

Essa remoção teria sido realizada sem o consentimento dessas pessoas e o fluído seria vendido no comércio ilegal. O líquido cefalorraquiano envolve o cérebro e a medula espinhal. Sua extração geralmente se dá por meio de punção na região da lombar e a sua análise pode ajudar no diagnóstico de doenças como câncer e meningite.

Caso

A polícia chegou aos criminosos depois da denúncia de familiares de uma adolescente que foi vítima dos traficantes. De acordo com o The Guardian, os homens se identificaram oficiais do governo e disseram que estavam conduzindo uma pesquisa médica. Disseram, ainda, que pagariam uma taxa mensal pelo consentimento para o que chamaram de “testes sanguíneos”.

Percebendo que a menina apresentava sinais de fraqueza logo após o procedimento, o pai a conduziu para um hospital. Inicialmente, acreditava-se que os homens pudessem ter extraído a medula óssea da jovem, o que foi negado pelos médicos que detectaram a punção do fluído.

A família buscou a polícia e fez a denúncia. Pouco tempo depois, autoridades encontraram o local onde tudo aconteceu e prendeu os suspeitos. Segundo o Pakistan Times, os policiais avaliam que ao menos 90 mulheres tenham sido vítimas desse golpe e já conseguiram deter um homem acusado de ser um dos principais compradores da gangue.

O Paquistão criminalizou o tráfico de órgãos humanos nos idos de 2010. Desde então, os envolvidos nesse tipo de prática (médicos, intermediários, recipientes e doadores) podem ser condenados a até 10 anos de prisão. Apesar da medida, a prática segue a todo vapor, especialmente impulsionada pela pobreza que assola o país.

São frequentes os casos em que a polícia resgata vítimas dos traficantes, que as enganam com a promessas de trabalho, por exemplo. No final de outubro passado, noticiou a BBC, 24 pessoas foram encontradas reféns em Rawalpindi, também na província de Punjab. Estavam há três meses em cativeiro, aguardando a remoção forçada de seus rins.

De acordo com a agência Reuters, um rim pode ser vendido por até mil dólares no mercado paralelo. Estima-se que mil pessoas sejam vítimas desse crime todos os anos no país e, até pouco tempo atrás, 85% de todos os casos de tráfico de órgãos humanos foram registrados justamente no Paquistão.

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