Soldados patrulham os arredores do esconderijo de Osama bin Laden, em Abbottabad, Paquistão (Aamir Qureshi/AFP)
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2011 às 21h24.
Abbottabad, Paquistão - A morte de Osama bin Laden em Abbottabad, cidade militar a duas horas de Islamabad, em um ataque de um comando americano, deixou em posição incômoda o governo do Paquistão, suspeito de falta de determinação na luta contra a Al-Qaeda e acusado de dar refúgio a terroristas.
Durante anos, os ocidentais acreditaram que o homem mais procurado do mundo estava escondido nas regiões tribais inexpugnáveis do noroeste do Paquistão, na fronteira com o Afeganistão, bastião dos talibãs paquistaneses aliados da Al-Qaeda.
No entanto, ao invés de se esconder em uma gruta distante das cidades, bin Laden estava - desde quando? - em uma mansão, cerca de 80 km a noroeste da Islamabad, próximo de uma bela cidade turística, Abbottabad, sede de uma academia militar.
O presidente americano Barack Obama elogiou a ajuda do Paquistão e indicou que havia ligado para seu colega Asif Ali Zardari para dizer que era um momento "histórico" para ambos os países.
Mas, ao que parece, os Estados Unidos executaram a operação sem advertir as autoridades paquistanesas, que não foram informadas da operação, justificando a violação da soberania do Paquistão pela "obrigação legal e moral de agir", afirmou um alto funcionário da administração Obama.
"Osama bin Laden morreu na periferia de Abbottabad" pouco depois da meia-noite, indicou um comunicado do Ministério paquistanês das Relações Exteriores.
"A operação foi desenvolvida pelas forças americanas em virtude de sua política, segundo a qual Osama bin Laden seria eliminado em uma operação direta das forças americanas em qualquer parte do mundo", acrescentou o ministério no comunicado, sem confirmar abertamente que o Paquistão não tinha sido avisado da operação.
"Este fato mostra nossa preocupação de que terroristas que pertencem a diversas organizações encontram refúgio no Paquistão", disse nesta segunda-feira o ministro do Interior da Índia, P. Chidambaram.
Os analistas consideram que o Paquistão corre o risco de represálias por parte dos talibãs paquistaneses, aliados da Al-Qaeda. Para muitos, pode haver uma intensificação da onda de atentados que foram desencadeados em 2007 devido ao apoio do governo paquistanês concedeu à "guerra contra o terrorismo" travada pelos Estados Unidos.
Mais de 4.200 paquistaneses morreram em cerca de 450 atentados -em sua maioria suicidas- nos últimos três anos.
O primeiro-ministro paquistanês, Yusuf Raza Gilani, classificou a operação de "grande vitória" contra o "terrorismo", mas admitiu que não sabia os detalhes.
As relações entre os serviços secretos americanos e paquistaneses passaram por um momento conturbado após a detenção por várias semanas de um agente da CIA que tinha matado dois paquistaneses no começo de 2011.
Em meados de abril, o militar americano de mais alta patente, o almirante Mike Mullen, acusou os integrantes dos serviços secretos paquistaneses de manter relações com a rede Haqqani dos talibãs afegãos, cuja retaguarda está nas zonas tribais.
Autoridades americanas acusam o aparato militar e os serviços de inteligência de fazer "jogo duplo" com os islamitas.
O site Stratford Global Intelligence se perguntava nesta segunda-feira se o Paquistão sabia que bin Laden estava escondido em Abbottabad.
"Abbottabad é uma cidade de guarnição com uma academia militar. As pessoas vão perguntar o que bin Laden fez para estar lá", disse o jornalista paquistanês Rahimullah Yusufzai, um dos maiores especialistas dos talibãs e da Al-Qaeda.
"Isso pode aumentar a pressão sobre o Paquistão e suscitar investigações sobre o número dois e outros altos membros da Al-Qaeda, que também poderão se esconder" no Paquistão, disse Yusufzai à AFP.
Abbottabad, batizada em homenagem a seu fundador, o major James Abbott, mantém características arquitetônicas de seu passado colonial, como o cemitério, a igreja e o clube de cavaleiros ingleses.