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Papa vai a Mianmar e Bangladesh em plena crise com rohingyas

Desde sexta-feira, milhares de civis da minoria muçulmana tentam fugir do conflito no Mianmar, mas são rejeitados pelo vizinho Bangladesh

Papa: durante a visita, Francisco se reunirá com a líder do governo e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi (Franco Origlia/Getty Images)
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AFP

Publicado em 28 de agosto de 2017 às 11h46.

O Papa Francisco visitará Mianmar no final de novembro, em uma viagem inédita a terras budistas, cenário de um violento conflito com a minoria muçulmana rohingya, que passou a ser defendida pelo líder da Igreja Católica.

De 27 a 30 de novembro, o pontífice visitará a capital birmanesa, Rangum, e a cidade de Nay Pyi Taw. Depois viajará até a capital de Bangladesh, Dacca, onde permanecerá até 2 de dezembro, anunciou o Vaticano nesta segunda-feira.

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A conferência episcopal católica de Mianmar celebrou a visita e disse esperar que "sua presença permita a paz e a harmonia entre todos".

A viagem do papa acontece em um momento de grande tensão em Mianmar, com mais de 100 mortos desde sexta-feira em confrontos entre rohingyas e as forças de segurança. Milhares de civis da minoria muçulmana fugiram para o vizinho Bangladesh, e muitos foram rejeitados.

Durante a visita, Francisco se reunirá com a líder do governo e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, muito criticada no exterior pela maneira como trata a questão dos rohingyas.

A tensão aumentou nesta segunda-feira, quando Suu Kyi acusou os "terroristas" rohingyas, que executam ataques no oeste do país, de usarem meninos-soldado e de incendiar cidades.

Os rebeldes rohingyas do Arakan Rohingya Salvation Army (ARSA) negam e acusam o Exército birmanês de "estar acompanhado de extremistas" budistas e "incendiar casas".

No domingo, durante o Angelus, o papa expressou preocupação com os rohingyas e pediu respeito a seus direitos.

Francisco citou a "perseguição da minoria religiosa dos nossos irmãos rohingyas", correndo o risco de transformar sua visita em algo malvisto pelos budistas extremistas de Mianmar, onde a própria palavra "rohingya" é tabu.

Apátridas e excluídos

Considerados estrangeiros em Mianmar - país com mais de 90% de budistas -, os rohingyas são apátridas, mesmo no caso das famílias que moram no país há várias gerações. Não têm acesso ao mercado de trabalho, às escolas, hospitais e emergências. Nos últimos anos, o nacionalismo budista estimulou a hostilidade e provocou vários confrontos.

Em fevereiro, o papa denunciou o tratamento reservado aos rohingyas, "torturados e assassinados por suas tradições e por sua fé", em Mianmar.

Recentemente, uma comissão internacional liderada pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan estimulou o governo a dar mais direitos aos rohingyas, para evitar uma "radicalização".

Nesse contexto, a visita do papa não será fácil, já que os budistas extremistas estão dispostos a tomar as ruas e enfrentar os que assumem a defesa dos rohingyas.

Esta será a segunda visita de um papa a Bangladesh, depois da viagem de João Paulo II em 1986, e a primeira de um pontífice a Mianmar.

Em 4 de maio, a Santa Sé e Mianmar estabeleceram relações diplomáticas após uma audiência no Vaticano entre o papa e Aung San Suu Kyi.

Em Bangladesh, país de maioria muçulmana, e em Mianmar, de maioria budista, os cristãos representam um percentual muito pequeno da população, ao qual Francisco dá muita atenção. Recentemente, designou os dois primeiros cardeais bengaleses da história: Patrick D'Rozario e Charles Bo.

Outro tema da visita papal será o desenvolvimento do catolicismo na Ásia, onde representa menos de 3% da população.

Desde sua eleição em 2013, Francisco já viajou para Coreia do Sul, Sri Lanka e Filipinas.

Antes da viagem a Mianmar e a Bangladesh, o papa viajará para a Colômbia, de 6 a 11 de setembro. Depois, visitará Chile e Peru, de 15 a 21 de janeiro de 2018.

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