O papa Francisco: ele pediu por uma mudança do estilo de vida nos países ricos de uma cultura de consumo "descartável" (REUTERS/Angelo Carconi/Pool)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2015 às 09h47.
Cidade do Vaticano - O papa Francisco cobrou nesta quinta-feira uma ação rápida para salvar o planeta da ruína ambiental, fazendo um apelo aos líderes mundiais para ouvirem "o grito da terra e o grito dos pobres" e colocando a Igreja Católica no meio das controvérsias políticas sobre as mudanças climáticas.
No primeiro documento papal dedicado ao meio ambiente, o papa pede por uma "ação decisiva, aqui e agora" para deter a degradação ambiental e o aquecimento global, diretamente apoiando cientistas que dizem ser provocado principalmente pela ação humana.
Na encíclica "Laudato Si (Seja Louvado), Sobre o Cuidado da Casa Comum", Francisco pede uma mudança do estilo de vida nos países ricos de uma cultura de consumo "descartável" e o fim de "atitudes obstrucionistas" que às vezes colocam o lucro acima do bem comum.
O pronunciamento papal mais controverso em meio século já atraiu a ira dos conservadores, incluindo vários candidatos presidenciais republicanos dos Estados Unidos, que repreenderam Francisco por se aprofundar em ciência e política.
Mas o primeiro papa da América Latina, que escolheu seu nome tomando como referência São Francisco de Assis, o patrono da ecologia, diz que proteger o planeta é um “imperativo” moral e ético para os fiéis e não fiéis, que deveria suplantar interesses políticos e econômicos.
No chamado ao rebanho católico, de 1,2 bilhão de pessoas no mundo, o documento papal mais polêmico desde a encíclica Humanae Vitae, do Papa Paulo 6º, em 1968, que defendeu a proibição da contracepção, poderia estimular católicos do mundo a pressionarem as autoridades políticas sobre questões de meio ambiente e mudanças climáticas.
O pontífice, de 78 anos, nascido na Argentina, denuncia na encíclica que a "miopia da política de poder" adiou medidas ambientais de longo alcance e diz que "muitos daqueles que possuem mais recursos e poder econômico ou político parecem mais preocupados em mascarar os problemas ou esconder seus sintomas".
Após o papa dizer que deseja influenciar a decisiva cúpula do clima da ONU deste ano, em Paris, a encíclica consolida ainda mais o seu papel como um interlocutor na diplomacia mundial, depois da mediação que levou Cuba e Estados Unidos à mesa de negociações do ano passado.
Francisco contesta aqueles que argumentam que "a tecnologia vai resolver todos os problemas ambientais (e que) a fome e a pobreza serão solucionadas simplesmente com o crescimento do mercado".
O tempo está se esgotando para salvar um planeta que "começa a parecer mais e mais como uma imensa pilha de sujeira" e que podia ver "uma destruição sem precedentes dos ecossistemas" neste século, diz o texto.
"Uma vez mais, temos de rejeitar uma concepção mágica do mercado, que poderia sugerir que os problemas podem ser resolvidos simplesmente por um aumento nos lucros de empresas ou indivíduos."
Texto atualizado às 9h46