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Pandemia provoca retorno de 100 mil venezuelanos ao país

Na volta para casa, refugiados encontram um cenário de caos: inflação acima de 4.000%, 96% da população na pobreza e salário mínimo de US$ 3

Fronteira entre Brasil e Venezuela: o governo de Nicolás Maduro tem restringido cada vez a entrada pelos corredores humanitários (Bruno Kelly/Reuters)

Fronteira entre Brasil e Venezuela: o governo de Nicolás Maduro tem restringido cada vez a entrada pelos corredores humanitários (Bruno Kelly/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de setembro de 2020 às 10h02.

Última atualização em 6 de setembro de 2020 às 10h05.

Inflação acima de 4.000%, 96% da população na pobreza, salário mínimo abaixo de US$ 3 e uma crise sanitária que se agrava num país onde 58% dos hospitais não têm água e 63% reportam falta de energia elétrica constante. É para essa Venezuela que 100 mil venezuelanos decidiram voltar, deixando diferentes cidades colombianas em razão da pandemia.

No Terminal do Norte de Bogotá, dezenas de venezuelanos esperam todos os dias com a esperança de entrar num ônibus e ir até a região da fronteira, passar por um dos corredores humanitários e seguir para a Venezuela. A estação agora está equipada com banheiros, chuveiros e controles epidemiológicos. Só entra no local quem possuir o bilhete da viagem, que custa 180 mil pesos (R$ 265).

Os ônibus fornecidos pela Migração Colômbia saem para Cúcuta (a mais de 500 quilômetros da capital, Bogotá) ou para Arauca (a 700 km), mas não passam diariamente no terminal.

Segundo a entidade do governo colombiano, desde o dia 14 de março, 100 mil venezuelanos retornaram e 40 mil aguardam para voltar ao país de origem. A fronteira entre Colômbia e Venezuela que tem 2.200 quilômetros, está fechada desde a declaração da pandemia da covid-19 e o retorno dos venezuelanos depende da negociação entre autoridades migratórias dos dois países.

O governo de Nicolás Maduro tem restringido cada vez a entrada pelos corredores humanitários: passou de 500 pessoas por dia para 300 e até 100, no ponto que existe em Arauca.

 

Pressão

Para o professor da Universidade Simón Bolívar Erik del Bufalo, o impacto do retorno desses venezuelanos será forte nas questões sanitária e econômica. O sistema de saúde venezuelano está sobrecarregado e desde o início da crise do novo coronavírus, autoridades sanitárias alertam para um possível colapso.

Com a crise econômica e a perda de poder de compra, que piora desde 2014, a diáspora venezuelana chegou a 5 milhões de pessoas - a pior migração forçada da América Latina na história moderna. E muitos desses venezuelanos viviam em situação precária nos países vizinhos, trabalhavam na informalidade e tinham pouco acesso a programas de saúde, por exemplo.

Com o isolamento social imposto para conter a propagação do vírus, os migrantes perderam a condição de sobrevivência e precisaram regressar à Venezuela, como mostra um relatório do Centro de Justiça e Paz (Cepal). Entre março e maio, quase 65 mil venezuelanos haviam deixado a Colômbia.

Mas esses venezuelanos voltam para enfrentar um cenário de incerteza: durante o mês de abril, 43% dos residentes na Venezuela informaram que não podiam mais trabalhar ou haviam perdido parte da renda. Em agosto, o número de lares que recebem ingressos vindos de parentes no exterior passou de 9% para 5%.

"Essas pessoas (que retornam) estavam desempregadas, trabalhavam na economia informal ou para o Estado, por isso não veremos um impacto em números muito alto, mas a pressão sobre os sistemas de saúde e social será grande", explica Del Búfalo.

"Os indicadores econômicos devem piorar, cria uma situação social mais complicada e isso, do ponto de vista político, dá uma certa munição para a oposição, principalmente a (Juan) Guaidó", diz o coordenador de relações internacionais da Fesp-SP Moisés Marques.

Outra área que sente as consequências da crise sanitária - e também será um desafio aos que regressam à Venezuela - é a educação: a cobertura educacional para os jovens entre 18 e 24 anos caiu pela metade, ou seja, 2,2 milhões de jovens não estão estudando no país.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

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