Pandemia e desigualdade roubam a cena em homenagem a Nelson Mandela
António Guterres, secretário-geral da ONU, fala sobre o líder sul-africano que lutou contra a segregação racial e a pobreza
Ernesto Yoshida
Publicado em 17 de julho de 2020 às 07h38.
Última atualização em 17 de julho de 2020 às 07h39.
Todos os anos, no dia 18 de julho, o mundo celebra o Dia Internacional Nelson Mandela , data instituída pela Organização das Nações Unidas em 2009 para lembrar o nascimento do líder sul-africano que se tornou o maior símbolo da luta contra o regime segregacionista do apartheid.A data adquire um significado especial neste ano por causa do movimento antirracista que ganhou força em vários países após a morte do negro George Floyd por um policial branco, nos Estados Unidos, e também pelo avanço do coronavírus na África do Sul, o sexto país do mundo com maior número de pessoas infectadas com a covid-19.
“No aniversário de Nelson Mandela, homenageamos um defensor global extraordinário da igualdade, da dignidade e da solidariedade”, declarou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que realiza amanhã em Nova York uma palestra virtual para marcar a data.O evento será transmitido pelo site da Fundação Nelson Mandela ( www.nelsonmandela.org ) às 8h da manhã (horário de Brasília) e tratará sobre como a pandemia da covid-19 está exacerbando a desigualdade no mundo.
Mandela foi uma das figuras que ajudaram a eternizar o gesto de braço erguido com o punho fechado, numa demonstração de protesto, resistência ou triunfo. Ele fez esse gesto ao ser condenado à prisão perpétua, em 1964, por liderar a resistência ao apartheid, e também ao ser libertado, em 1990.
Repetiu o gesto místico quando foi a Oslo receber o Prêmio Nobel da Paz, em 1993, e ao se eleger o primeiro presidente negro da África do Sul, em 1994, ano em que o apartheid chegou oficialmente ao fim no país.
Durante seu governo e depois de deixar o poder, Mandela ajudou a promover a igualdade entre as raças, a luta contra a pobreza, a defesa dos direitos humanos, o direito das crianças e de outros grupos vulneráveis. O líder sul-africano morreu em 2013, aos 95 anos.
Seu país agora é a maior economia do continente africano, mas muito aquém de seus parceiros do Brics, o grupo das nações emergentes do qual também faz parte o Brasil. A pobreza diminuiu, mas ainda atinge mais da metade da população, e a África do Sul continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Os negros, que representam 80% da população, são 93% dos pobres.
Desde o último trimestre de 2019, a África do Sul está em recessão, e o quadro tende a se agravar com a pandemia do coronavírus. Até ontem, o país tinha cerca de 324.00 casos confirmados de covid-19 e 4.700 mortos. Alguns estudos indicam que a pandemia deve atingir o pico no país no final de julho, mas, em algumas províncias, isso poderá ocorrer somente no fim de setembro.
Com a economia se deteriorando por causa da pandemia, a previsão do Fundo Monetário Internacional é que o PIB da África do Sul tenha uma contração de 8% neste ano. Segundo a Câmara de Comércio e Indústria do país, a taxa de desemprego, que era de 30% no primeiro trimestre, poderá atingir 50% nos próximos meses.