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É fato: países com líderes mulheres vão melhor contra a covid-19. Por quê?

Artigo de pesquisadoras da Inglaterra comparou resposta à covid-19 entre líderes homens e mulheres em países de população e nível socioeconômico parecidos

Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia: fatores que costumam fazer mulheres se destacarem em cargos de liderança, como boa comunicação, podem ser diferenciais na crise, diz estudo (Hagen Hopkins/Getty Images)
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Carolina Riveira

Publicado em 27 de julho de 2020 às 08h42.

Última atualização em 27 de julho de 2020 às 11h15.

Os dez países mais afetados pela pandemia do novo coronavírus são liderados por homens. O fato fez a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, dizer na semana passada que mulheres "tendem a fazer um trabalho melhor" em posições de liderança política do que homens e que isso se mantinha na resposta ao coronavírus de países governados por elas. Lagarde brincou que essa era sua visão "enviesada", mas que se provou verdadeira ao longo dos anos.

Há diferenças socioeconômicas e populacionais entre os diferentes países -- além da baixa presença de mulheres em cargos de liderança política -- que explicam parcialmente os números. Mas um novo estudo que comparou dados de países com populações semelhantes na luta contra o coronavírus reforça o ponto de Lagarde.

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O artigo é assinado pelas pesquisadoras e professoras de economia Supriya Garikipati, da Universidade de Liverpool, e Uma Kambhampati, da Universidade de Reading, ambas na Inglaterra.

As pesquisadoras comparam países como Irlanda e Nova Zelândia e Reino Unido e Alemanha para apontar evidências de que os locais governados por mulheres tiveram menos mortes e casos de coronavírus até agora (veja abaixo exemplos de países comparados).

Um dos pontos levantados no artigo é que estes lugares entraram em lockdown (bloqueio total das atividades) ou quarentena rigorosa mais cedo e quando ainda havia menos casos de covid-19, na comparação com as localidades de perfil semelhante governadas por homens.

Christine Lagarde, do Banco Central Europeu: presidente parabenizou mulheres por ações na pandemia e disse que "tendem a fazer um trabalho melhor" (Kai Pfaffenbach/Reuters)

Perfis diferentes de gestão

Para as pesquisadoras, há alguns pontos na literatura acadêmica que mostram que mulheres tendem a ter maior aversão ao risco, mesmo em posições de liderança. Estudos anteriores citados pelas autoras também apontam para diferenças neurológicas e comportamentais que mostram que mulheres tendem a ter mais empatia, o que também auxiliou no combate à pandemia.

Na literatura de gestão, segundo as autoras, evidências apontam ainda que o estilo de liderança de homens e mulheres é diferente e que os fatores que as levam a ser escolhidas líderes (como boa comunicação e liderança mais participativa com os membros da equipe) são, neste caso, diferenciais para lidar com crises.

Na outra ponta, ainda há poucos países governados por mulheres que permitam uma análise mais ampla -- menos de 10% dos países são liderados por mulheres. Assim, a maioria dos países mais populosos do mundo e com mais casos de coronavírus, como Brasil, Índia e Estados Unidos, são governados por homens, tornando o desafio mais difícil nessas localidades do que em países menores, com menos desigualdade e maior nível socioeconômico.

Mas olhar para os desafios da pandemia e as características de gestão que podem ser bem usadas neste momento podem trazer lições -- para países, empresas e cidadãos.

"Nossas descobertas mostram que os resultados da covid-19 são sistematicamente e significativamente melhroes em países liderados por mulheres e, em alguma extensão, isso pode ser explicado pelas políticas proativas que elas adotaram. Mesmo levando em conta contextos institucionais e outros controles, ser liderado por mulheres foi uma vantagem para alguns países na crise atual", escrevem as autoras.

Irlanda vs. Nova Zelândia

Um dos exemplos usados pelas pesquisadoras é a comparação entre a Irlanda e a Nova Zelândia, ambos países com pouco menos de 5 milhões de habitantes. A Irlanda tem mais de 25.000 casos e mais de 1.700 mortes. A Nova Zelândia tem mais de 1.500 casos e 22 mortes.

A Nova Zelândia é comandada por Jacinda Ardern, cuja popularidade levou seu partido liberal ao poder em 2017 após décadas fora do governo. A Irlanda era comandada até o fim de junho pelo primeiro-ministro Leo Varadkar, de centro-direita, e, após uma nova coalizão entre os partidos, passou às mãos de Micheál Martin.

Reino Unido vs. Alemanha

Na comparação entre Alemanha e Reino Unido, no grupo com menos de 100 milhões de habitantes, a Alemanha tem mais de 206.000 casos e mais de 9.000 mortes. O Reino Unido tem mais de 301.000 casos e 45.000 mortes.

Em números absolutos, a Alemanha tem, inclusive, mais de 10 milhões de habitantes a mais do que o Reino Unido (mais de 83 milhões contra 68 milhões).

Os alemães são governados pela chanceler Angela Merkel, e o Reino Unido, pelo primeiro-ministro Boris Johnson, ambos de partidos conservadores.

Ana Brnabic (à esq.), premiê da Sérvia, e Angela Merkel, da Alemanha: liderança elogiada na pandemia (Carsten Koall/Getty Images)

Israel vs. Sérvia

Na comparação entre Israel e Sérvia, ambos têm população pouco abaixo dos 9 milhões de habitantes. Enquanto Israel tem mais de 61.000 casos do novo coronavírus, a Sérvia tem mais de 27.000.

No momento do estudo, a Sérvia tinha menos de 100 mortes devido a medidas de lockdown feitas cedo na pandemia, mas uma leva recente de casos no país fez o número de mortes aumentar. Atualmente, Israel tem 470 mortes, ante 534 óbitos na Sérvia.

Os israelenses são governados pelo premiê Benjamin Netanyahu, do partido conservador Likud, no cargo desde a década de 90. A Sérvia tem como premiê desde 2017 Ana Brnabić, primeira mulher gay a assumir o cargo e também de um partido conservador, o Serbian Progressive Party.

Paquistão vs. Bangladesh

Outro exemplo citado pelas pesquisadoras é Bangladesh, que tem mais de 223.000 casos, ante 274.000 do Paquistão. A maior diferença percentual está ainda no número de mortes: mais de 2.900 mortes em Bangladesh ante mais de 5.800 no Paquistão.

A primeira-ministra de Bangladesh é Sheikh Hasina, no cargo desde 2009. Ela faz parte do maior partido do país, a AL, e transita entre o centro e a centro-esquerda. O premiê do Paquistão desde 2018 é Imran Khan, ex-jogador de críquete e do partido PTI, de centro.

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