Moçambicana com pinturas típicas: país deve crescer quase tanto como a China (Getty/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 10 de novembro de 2020 às 17h52.
Última atualização em 10 de novembro de 2020 às 20h49.
Durante muito tempo, Moçambique foi muito mais conhecido pela sua natureza exuberante e as reservas de animais selvagens do que por sua economia. Este ano, no entanto, esse cenário começou a mudar.
O país já recebeu investimentos da ordem de 65 bilhões de dólares em razão das amplas reservas de gás natural descobertas em seu litoral, próximas ao continente. Multinacionais como a francesa Total e a americana ExxonMobil respondem por grande parte dos aportes bilioários.
Bancos internacionais como o Standard Bank, com sede na África do Sul, também estão realizando aportes. As imensas reservas de gás natural deverão garantir o crescimento do país para os próximos anos.
Enquanto o PIB da maioria dos países deverá ter uma queda significativa este ano, em função da pandemia do coronavírus, a economia de Moçambique, na África, deverá crescer 1,3% este ano, segundo o Banco Mundial. Em 2021, o crescimento esperado é de 3.6%.
Poucos países deverão registrar uma expansão econômica dessa magnitude em 2020. O aumento do PIB de Moçambique só deverá ser comparável ao da China (1,9%), o segundo país mais rico do mundo. Nos Estados Unidos, a queda projetada do PIB é de 4,3%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Alguns países europeus deverão sofrer um tombo ainda maior na economia. A expectativa é de uma retração de quase 10% na França e no Reino Unido, países fortemente atingidos pela segunda onda do coronavírus.
“O país está recebendo um influxo de riquezas inédito com os investimentos internacionais na captação de gás natural”, diz Natalia Dias, presidente do Standard Bank no Brasil.
A expectativa é que o PIB do país, hoje na casa de 15 bilhões de dólares, um dos mais baixos do mundo, cresça cinco vez nos próximos anos. Só há um problema. O pas vem sendo vítima de atentados terroristas, praticados por grupos ligados ao Estado Islâmico, que vem estendendo seu poder na África.
O governo de Moçambique reforçou o patrulhamento dos gasodutos, que tem sido alvos de ataques. O país também está intensificando os esforços para conter a onda de insurgência de grupos supostamente ligados ao islamismo radical.
A província de Cabo Delgado, onde se encontram as reservas de gás natural, tem estado na mira dos terroristas.
Colonizado por Portugal, Moçambique só conquistou a independência em 1975. Até pouco tempo atrás, a economia do país se baseava na agricultura. A exploração de gás natural deverá impactar fortemente o mercado de trabalho e a geração de riquezas.
Mas, mesmo assim, boa parte da população acredita que os royalties do gás natural não devem se converter em benefícios concretos para o país.
O governo sustenta o contrário. De todo modo, uma coisa é certa: enquanto a economia da maioria dos países deverá apresentar resultados negativos este ano, Moçambique segue em crescimento.