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Os mais pobres passam fome no Sri Lanka com a alta dos preços

Desencadeados pela pandemia, os problemas econômicos desta ilha do Oceano Índico foram agravados pela má gestão governamental

Homem observa deslizamentos de terra durante missão de resgate em Kalutara, no Sri Lanka (Dinuka Liyanawatte/Reuters)
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AFP

Publicado em 18 de julho de 2022 às 09h20.

Última atualização em 18 de julho de 2022 às 10h56.

O cabelo está bem penteado, mas suas bochechas estão fundas e veias visíveis correm por seu corpo esquelético. Como muitos cingaleses, Milton Pereira e sua família não conseguem comprar comida suficiente.

Enquanto o país enfrenta sua pior crise econômica e uma inflação em espiral, que provocou uma onda de protestos que derrubaram o presidente na semana passada, os cingaleses compram, comem e trabalham menos.

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"É muito difícil viver, até o pão está caro", confessou Pereira à AFP, do lado de fora de sua modesta casa em Slave Island, um bairro pobre da capital Colombo. "Se comemos uma refeição, pulamos a outra", diz o homem de 74 anos, cuja família inclui seis filhos.

"Como não temos muito dinheiro, damos o peixe para as crianças" e para os adultos "nos contentamos com o molho", conta.

Desencadeados pela pandemia de covid-19, os problemas econômicos desta ilha do Oceano Índico foram agravados pela má gestão governamental, segundo os opositores.

O pior

"Esse aumento dos preços é o pior que já enfrentei", diz o filho de Pereira, B.G. Rajitkumar, um eletricista que está desempregado há meses. "Os preços dos alimentos sobem a cada dia", lamenta.

A inflação de alimentos no Sri Lanka atingiu 80,1% ano a ano em junho, de acordo com dados oficiais. Segundo o Programa Alimentar Mundial, quase cinco milhões de pessoas, 22% da população, precisam de assistência alimentar e mais de cinco em cada seis famílias pulam refeições, comem menos ou compram alimentos de qualidade inferior.

O principal mercado atacadista de vegetais de New Manning, em Colombo, estava movimentado no domingo, com compradores e vendedores se acotovelando com suas sacolas de comida. No entanto, os comerciantes dizem que os negócios caíram mais da metade desde março.

"Os preços de tudo mais que dobraram", disse um vendedor, que estima que suas vendas caíram 70%. "Alguns dos vegetais não vendidos acabam no lixo e muitas pessoas pobres vêm buscá-los todos os dias depois que o mercado fecha", acrescentou.

Batatas, cebolas e alho continuam sendo importados da Índia, Paquistão e China, segundo Ashley Jennycloss, corretora de importação e exportação.

"A oferta de alimentos não é um problema, mas como não há combustível, isso dificulta e tudo fica mais caro", afirma Jeeva, outro comerciante.

Algumas pessoas viajam longas distâncias para este mercado logo de manhã para comprar pequenas quantidades de vegetais para a cozinha a preços de atacado.

"Não tenho escolha a não ser caminhar 10 quilômetros até este mercado, porque a comida é mais barata do que nas lojas perto da minha casa", admite Howzy, de 50 anos.

Na sede do movimento de protesto que levou à renúncia do ex-presidente Gotabaya Rajapaksa, um ex-funcionário, Theodore Rajapakse, ensina os moradores a cultivar verduras em pequenos lotes perto de suas casas.

"Meu país está com problemas", diz ele, acrescentando que ensinou suas técnicas agrícolas para cerca de 3.000 manifestantes desde que se juntou aos protestos.

As perspectivas de melhora imediata são limitadas e o mais provável sucessor do presidente, o ex-primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe, é rejeitado pelos manifestantes, que o veem como um aliado de Rajapaksa.

Na Ilha dos Escravos, Pereira tem poucas esperanças. "Gota se foi, mas não há candidato que possa nos tirar dessa situação terrível", suspira.

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