Um jornal calculou que, no primeiro turno, de cada 100 egípcios, 18 votaram "sim", 13 "não", e o restante não participou, reforçando alegações de que Mursi não conseguiu apoio real (Khaled Abdullah/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de dezembro de 2012 às 11h57.
Cairo - A oposição do Egito convocou protestos nacionais contra a Constituição apoiada pelo presidente Mohamed Mursi, após uma votação que expôs divisões profundas que poderiam minar os esforços para criar um consenso para duras medidas econômicas.
O líder islâmico ganhou 57 por cento de votos "sim" para a constituição em uma primeira rodada de um referendo no fim de semana, de acordo com a mídia estatal, uma margem que foi inferior ao que o seu partido esperava e que deve encorajar a oposição.
A segunda rodada, que será realizada no sábado, deve receber outro "sim", já que a votação será nos distritos vistos como mais favoráveis aos islâmicos, o que significaria que a Constituição deve ser aprovada.
A Frente de Salvação Nacional, da oposição, pediu aos organizadores do referendo para investigar o que disse serem violações generalizadas de voto e garantir que a segunda rodada de votação seja devidamente supervisionada.
A Frente convocou protestos em todo o Egito na terça-feira "para acabar com a falsificação e derrubar o projeto inválido de Constituição", e pediu aos organizadores para consideram refazer o primeiro turno de votação.
O político da oposição Mohamed ElBaradei, ganhador do prêmio Nobel, usou seu perfil no Twitter para pedir "o cancelamento do referendo notório e entrar com diálogo para consertar a rixa".
A proximidade da contagem da primeira rodada e o baixo comparecimento nas urnas deu a Mursi pouco conforto, à medida que ele busca reunir apoio para reformas econômicas difíceis para reduzir o déficit orçamentário.
Um jornal calculou que, no primeiro turno, de cada 100 egípcios, 18 votaram "sim", 13 votaram "não", e o restante não participou, reforçando alegações da oposição de que Mursi não conseguiu garantir apoio real.
Construindo consenso
Simon Kitchen, estrategista do banco de investimentos egípcio EFG-Hermes, disse que tudo vai depender se Mursi viu o resultado como "um endosso a suas políticas... ou se ele vai reconhecer que pode precisar gastar mais tempo construindo consenso antes de grandes mudanças políticas".
No entanto, alguns analistas disseram que ficaram preocupados com os padrões de votação que pareciam mostrar uma divisão sectária se aprofundando, notadamente em Alexandria, segunda cidade do Egito, onde tensões entre cristãos e muçulmanos conservadores são altas.
O resultado da primeira rodada de votação levanta dúvidas sérias sobre a credibilidade da Constituição, disse Mustapha Kamal Al-Sayyid, professor de ciência política na Universidade do Cairo.
"Esse percentual... vai fortalecer o lado da Frente de Salvação Nacional e os líderes desta Frente declararam que vão continuar essa luta para desacreditar a Constituição", afirmou.
Se a Constituição for aprovada, as eleições nacionais podem ocorrer no início do próximo ano, algo que muitos esperam que traga a estabilidade que o Egito não tem desde a queda de Hosni Mubarak há quase dois anos.
Economistas disseram que o calendário das eleições parlamentares poderia afetar o calendário de reformas do governo, incentivando Mursi a adiar medidas mais duras para evitar assustar os eleitores.
Para conter um déficit orçamentário enorme, o governo precisa aumentar as receitas com elevação de impostos e cortar os subsídios sobre os combustíveis, um dos maiores vilões dos cofres do Estado.