Síria: a reconquista de Aleppo seria a maior vitória do governo contra os rebeldes desde o início da guerra na Síria em 2011 (Omar Sanadiki/Reuters)
AFP
Publicado em 12 de dezembro de 2016 às 17h40.
A segunda cidade da Síria, Aleppo (norte), estava a ponto de cair totalmente nas mãos do governo e seus aliados nesta segunda-feira, no que se considera a "fase final" de uma ofensiva sem trégua contra os rebeldes, que já dura quatro semanas.
Estes se retiraram na segunda-feira de outros seis bairros importantes da antiga capital econômica do país diante do avanço do exército e permanecem apenas em um pequeno setor da segunda cidade do país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"Há um desmantelamento total dos rebeldes (...), a batalha de Aleppo se aproxima do fim", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH, destacando que tinham se retirado dos bairros de Bustan Al Qasr, um dos mais fortificados, Ferdus e Kallase.
"Só é questão de tempo" antes de Aleppo cair totalmente sob o controle do regime de Bashar Al Assad, já que os rebeldes apenas conservam dois bairros importantes, Sukkari e Al Machad.
Em Al Machad, algumas testemunhas contaram que quem fugiu das zonas conquistadas pelo exército, inclusive várias crianças, dormem nas calçadas ou em barracas. Muitos têm fome e não conseguiram levar nada consigo.
Nos bairros abandonados pelos rebeldes, "há cadáveres nas ruas", assegurou Rahman.
Esta retirada maciça ocorre horas depois da queda dos bairros de Sheij Said e Salhin.
A reconquista de Aleppo, dividida desde 2012 entre os bairros ao leste, controlados pelos rebeldes, e o setor oeste, nas mãos do regime, seria a maior vitória do governo contra os primeiros desde o início da guerra na Síria em 2011.
A ofensiva fulminante do exército de Damasco foi lançada no dia 15 de novembro com o apoio de combatentes iranianos e do Hezbollah libanês, e apoiada por bombardeios aéreos e de artilharia russos.
Um correspondente da AFP em campo havia dito nesta segunda-feira que os ataques, que podiam ser ouvidos desde o setor ocidental, eram os mais intensos em vários dias.
Mais de 10.000 civis fugiram dos bairros rebeldes nas últimas 24 horas para alcançar os setores sob controle governamental, segundo o OSDH.
No total, 130.000 civis abandonaram os bairros da oposição desde 15 de novembro, em cálculos da mesma fonte.
Entretanto, o grupo Estado Islâmico (EI) lançou uma ofensiva no deserto da província central de Homs, capturando campos petrolíferos e posições governamentais.
O Observatório indicou que os extremistas avançavam nesta segunda-feira ao sul e a oeste da cidade contra o exército de Damasco perto da cidade de Al Qaryatain, enquanto os aviões russos prosseguiam atacando-os a partir do ar.
Em Palmira, cidade que o grupo extremista voltou a retomar nove meses depois de ter sido expulso pelas forças de Damasco, nesta segunda-feira executou oito combatentes pró-regime, segundo o OSDH.
Também nesta segunda-feira, ao menos 53 civis, incluindo 15 crianças, perderam a vida em uma série de bombardeios aéreos em localidades controladas pelo EI na província de Hama, no centro do país, indicou a ONG.
O conflito na Síria, desencadeado em 2011 pela sangrenta repressão às manifestações pacíficas pró-democracia no país, se transformou em uma complexa guerra que envolve muitos atores sírios e estrangeiros.
Em cinco anos, o enfrentamento deixou mais de 300.000 mortos e deslocou a metade da população.
Segundo o OSDH, 415 civis morreram em Aleppo pela ofensiva do regime e 130 por disparos rebeldes.