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ONU: 70% das vítimas globais de tráfico humano são mulheres

Segundo um relatório que analisa 24 mil casos em 142 países, a exploração sexual é o crime mais frequente da escravidão no século XX

Nadia Murad: ativista iraquiana foi vítima da escravidão sexual e, recentemente, recebeu o prêmio Nobel da Paz (Alkis Konstantinidis/File Photo/Reuters)
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EFE

Publicado em 7 de janeiro de 2019 às 11h36.

Última atualização em 7 de janeiro de 2019 às 13h45.

Viena - A ONU alertou nesta segunda-feira que grupos armados em zonas de conflito utilizam com mais frequência o tráfico humano para conseguirem recursos e atrair novos recrutas, com a promessa, por exemplo, de recompensá-los com mulheres exploradas como escravas sexuais.

O Relatório Global sobre Tráfico Humano 2018, apresentado hoje em Viena, na Áustria, analisa cerca de 24 mil casos documentados em 2016 em 142 países, e a exploração sexual (59%) continua sendo o crime mais frequente desta escravidão "do século XXI", seguido pelo trabalho forçado (34%).

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Os números do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) são apenas a ponta do iceberg, já que muitas das vítimas não são detectadas e nem todos os Estados contam com o mecanismo adequado para combater este crime.

Segundo o estudo, mais de 70% das vítimas globais de tráfico humano são do sexo feminino.

Quase metade das vítimas totais são mulheres adultas (49%), enquanto as menores de idade representam 23% e seu número está crescendo.

Os homens representam 21% das vítimas documentadas e os meninos 7%.

Enquanto a maioria das vítimas de exploração sexual são do sexo feminino, os homens formam o maior grupo nos casos de trabalho forçado.

Apesar de a forma mais conhecida de tráfico humano ser a exploração sexual, milhares de vítimas também trabalham em condições de escravidão em serviços domésticos e em setores como mineração, pesca e, até mesmo, são utilizadas para a mendicância infantil e o tráfico de órgãos humanos.

O tráfico humano consiste em transferir e reter uma pessoa através da força ou da coerção, a fim de explorá-la para fins sexuais, trabalhos forçados e outras atividades.

Entre os menores de idade também existem diferenças por gênero: 72% das meninas são exploradas sexualmente e 21% são submetidas a trabalhos forçados, enquanto 50% dos meninos sofre com a escravidão e 27% são explorados sexualmente.

O restante das vítimas menores de idade cai em outras formas de exploração, como a mendicância, as crianças-soldado, atividades criminosas em benefício de terceiros e casamentos forçados.

A maior parte dos casos são detectados nos países de origem das vítimas, mas os Estados ricos costumam ser destinos frequentes de pessoas que caem na rede de tráfico humano transnacional depois de serem enganadas por organizações criminosas que oferecem falsas oportunidades de trabalho.

Os grupos criminosos se beneficiam da situação de vulnerabilidade das vítimas, que é maior nas zonas de conflito devido ao desmoronamento do Estado, ao deslocamento da população, à fragmentação familiar e à necessidade de bens básicos.

"O tráfico de pessoas em conflitos armados alcançou proporções terríveis, com crianças-soldado, trabalhos forçados e escravidão sexual", denuncia Yuri Fedotov, diretor-executivo do UNODC.

Em zonas de conflito na África Subsaariana e no Oriente Médio, grupos armados transformam meninas e mulheres em escravas sexuais "para promover o recrutamento e recompensar seus combatentes", diz o texto.

A ONU lembra que esse foi o destino de Nadia Murad, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2018 e embaixadora do UNODC contra o tráfico, antes de ser resgatada.

A concessão do Nobel a Murad é considerada por Fedotov um símbolo na luta contra o tráfico humano e o uso da violência sexual como arma de guerra, e ele defende uma atuação mais contundente da comunidade internacional para combater essas ações.

O relatório afirma que os grupos armados utilizam também o tráfico humano como ferramenta para difundir o terror entre a população e assim facilitar sua obediência.

O UNODC não oferece dados sobre o número de vítimas totais em zonas de guerra, mas afirma que milícias e grupos criminosos tentaram explorar a população deslocada pelos conflitos de Síria, Iraque e Afeganistão, assim como a minoria rohingya em Mianmar.

Além da exploração sexual e laboral, alguns grupos armados utilizam o tráfico humano para fortalecer suas fileiras. Assim, o relatório lembra que metade dos combatentes do grupo jihadista somali Al Shabab é formada por menores de idade.

O documento também lembra que algumas milícias controlam na Líbia centros de detenção para migrantes, que são explorados de diversas formas.

O estudo afirma que o número de vítimas documentadas em escala global aumentou, mas que isso também pode ser devido ao fato de os países contarem com mais meios para detectá-las.

O UNODC lembra que, em 2009, apenas 26 países contavam com instituições específicas que recolhiam dados sobre tráfico humano, enquanto agora já são 65.

Em qualquer caso, o UNODC critica que em grandes partes da África e da Ásia quase não há detecção de vítimas e condenação de traficantes de pessoas, e pede mais esforços aos países desses continentes para aplicar a legislação internacional.

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