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ONU reconhece crise de fome na Somália

Segundo a organização, duas regiões do sul do país são afetadas pela seca

Mulheres e crianças somalis aguardam a distribuição de comida em um campo de refugiados da seca: as pessoas diretamente afetadas pela fome são cerca de 350 mil (Abdurashid Abikar/AFP)

Mulheres e crianças somalis aguardam a distribuição de comida em um campo de refugiados da seca: as pessoas diretamente afetadas pela fome são cerca de 350 mil (Abdurashid Abikar/AFP)

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Da Redação

Publicado em 20 de julho de 2011 às 10h53.

Nairobi - Duas regiões do sul da Somália sob controle de rebeldes islamitas shebab e afetadas por uma gravíssima seca sofrem com uma crise de fome, anunciou nesta quarta-feira a ONU em Nairóbi.

"As Nações Unidas declararam hoje que existe fome em duas regiões do sul da Somália: o sul de Bakool e Lower Shabelle", segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) na Somália.

"Se não agirmos agora, a fome se estenderá às oito regiões do sul da Somália nos próximos dois meses, devido às más colheitas e ao aparecimento de doenças infecciosas", advertiu Mark Bowden, coordenador humanitário das Nações Unidas para a Somália.

A Ocha acredita que quase a metade da população somali, ou seja, 3,7 milhões de pessoas, das quais 2,8 milhões vivem no sul, se encontram em situação crítica.

O governo somali expressou sua esperança de que "o reconhecimento da gravidade da situação nestas regiões ajude a limitar as carências", acelerando os envios de alimentos e material médico.

As pessoas diretamente afetadas pela fome são cerca de 350 mil, mas a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), com sede em Roma, estimou que cerca de 12 milhões requerem assistência de emergência em toda a região e avaliou em 120 milhões de dólares (84 milhões de euros) as contribuições necessárias da comunidade internacional para garantir esta ajuda.

Bakool e Lower Shabelle estão controladas pelos insurgentes Shebab, que afirmam ser próximos da rede Al-Qaeda.


Estas milícias expulsaram há dois anos as organizações internacionais de ajuda humanitária, acusando-as de ser espiãs ocidentais e cruzados cristãos, mas recentemente anunciaram ter levantado algumas restrições e a ONU enviou na semana passada material humanitário por avião.

"Várias secas afetaram o país nos últimos anos, e o conflito (com os islamitas) dificultou enormemente as atividades das agências (humanitárias) e o acesso às comunidades no sul do país", afirmou a Ocha em um comunicado.

Segundo a ONU, a crise alimentar na região - que inclui Djibuti, Etiópia, Quênia e Uganda - é a pior em duas décadas.

"Dada a combinação da gravidade e da extensão geográfica, esta é a pior crise de segurança alimentar na África desde a fome de 1991-92 na Somália", disse a entidade da ONU.

Os índices de mortalidade e desnutrição na região são equiparáveis ou inclusive superiores aos das recentes crises do Níger em 2005, Etiópica em 2001 e Sudão em 1998, acrescentou.

O estado de fome é declarado quando ao menos 20% dos lares de uma região sofrem com carências alimentares extremas com capacidades escassas de enfrentá-las, assim como desnutrição aguda de 30% da população e uma média de dois mortos em dez mil habitantes por dia, de acordo com a definição da ONU.

Os índices de desnutrição na Somália são atualmente os piores do mundo, e chegam a 50% em algumas regiões do sul, afirmou Bowden.

"Cada dia de atraso na assistência é literalmente uma questão de vida ou morte para crianças e para suas famílias nas zonas afetadas", insistiu Bowden.

Cerca de 78 mil somalis deixaram suas terras e se refugiaram na Etiópia e Quênia nos últimos dois meses.

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