Mundo

ONU apoia integridade da Ucrânia e não valida referendo

Assembleia aprovou resolução que apoia integridade territorial da Ucrânia, destaca que referendo da Crimeia não é válido e pede solução pacífica para a crise


	Assembleia da ONU: "afirmamos nosso compromisso com a soberania, independência política, unidade e integridade territorial da Ucrânia", diz resolução
 (Wikimedia Commons)

Assembleia da ONU: "afirmamos nosso compromisso com a soberania, independência política, unidade e integridade territorial da Ucrânia", diz resolução (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de março de 2014 às 14h23.

A Assembleia geral da ONU aprovou nesta quinta-feira uma resolução que apoia a integridade territorial da Ucrânia, destaca que o referendo da Crimeia "não é válido" e pede uma solução pacífica para a crise gerada após sua anexação à Rússia.

Em um texto não vinculativo aprovado por 100 votos a favor, 11 contra e 58 abstenções, a Assembleia ressaltou que a consulta popular do último dia 16 na península da Crimeia "não tem validade" porque "não foi autorizada" pelo governo de Kiev.

"Afirmamos nosso compromisso com a soberania, com a independência política, com a unidade e integridade territorial da Ucrânia a partir de suas fronteiras reconhecidas internacionalmente", disse a Assembleia geral em uma resolução.

Por isso, a Assembleia geral faz uma convocação à comunidade internacional, aos estados, às organizações internacionais e às agências especializadas, para que não reconheçam a anexação da Crimeia à Federação russa.

A resolução, que não pode ser vetada ao contrário dos textos do Conselho, pede às partes a exercer "moderação", se abster de "ações unilaterais" e "retórica incendiária" e encontrar uma solução pacífica através de um diálogo político "direto".

Por último, e sem mencionar diretamente a Rússia, chamou os países a desistir de ações que busquem "quebrar" a integridade territorial da Ucrânia, "incluindo qualquer tentativa de modificar suas fronteiras sob a ameaça do uso da força".

"O que aconteceu no meu país é uma violação direta da Carta da ONU (...) e aconteceu no coração da Europa em pleno século XXI", disse o ministro ucraniano de Relações Exteriores interino, Andriy Deshchystsya, ao apresentar a resolução.

Durante o debate antes da votação, criticou que seu país tenha sido privado de parte de seu território por um estado, Rússia, que é um membro permanente do Conselho de Segurança e que, segundo disse, "tinha garantido a integridade territorial" da Ucrânia.

Para Deshchystsya, os debates das últimas semanas no Conselho evidenciaram "quão isolada está a Rússia", país que exerceu seu direito de veto para impedir a aprovação de resoluções sobre a crise ucraniana.


Por sua vez, o embaixador russo, Vitaly Chrurkin, lembrou que a Crimeia aprovou por "arrasadora" maioria se reintegrar à Rússia, país que "não pode recusar o desejo de autodeterminação" dos crimeanos "porque durante séculos foram parte integral" de seu país.

Chrurkin, que disse que só uma "decisão arbitrária" da direção da antiga União Soviética entregou Crimeia à Ucrânia, denunciou que "funcionários da Embaixada americana" participaram da organização de protestos contra o governo ucraniano anterior.

"Em vez de um governo de união nacional apareceu um governo de vencedores, com um partido racista, antissemita e xenófobo", acrescentou o embaixador russo, que disse que a primeira decisão do novo governo ucraniano foi "revogar a situação da língua russa".

A embaixadora americana, Samantha Power, destacou durante seu discurso que a resolução procura mostrar o compromisso com a soberania e integridade territorial da Ucrânia da comunidade internacional, que defende uma solução pacífica à crise.

"As fronteiras não são meras sugestões", afirmou Power, que reconheceu que a Rússia tem interesses "legítimos" na Ucrânia e disse que o direito à livre autodeterminação é um valor a defender, mas pediu que não se reconheça o referendo da Crimeia.

Por sua vez, o representante da União Europeia, Thomas Mayr-Harting, disse que no século XXI não pode haver lugar para o uso da força ou a coerção para mudar as fronteiras na Europa ou em qualquer outro lugar do mundo.

Assim, após pedir para Moscou dar passos para acabar com a crise e retirar suas forças militares da Crimeia, defendeu as sanções aprovadas e reiterou o compromisso da União Europeia de seguir apoiando a unidade e a integridade territorial da Ucrânia.

No debate se mostraram contrários à resolução países como a Nicarágua, que também condenou as sanções econômicas contra a Rússia impostas pelos EUA e pela UE, e Cuba, que criticou "o dois pesos e duas medidas e a hipocrisia" da posição da Otan no conflito.

A favor da resolução aprovada hoje se pronunciaram Espanha e outros países da América Latina como o Chile, a Colômbia, a Costa Rica, a República Dominicana, a Guatemala, o Haiti, Honduras, o México, o Panamá e o Peru.

Com a Rússia, também votaram contra: Armênia, Belarus, Bolívia, Coreia do Norte, Cuba, Nicarágua, Sudão, Síria, Venezuela e Zimbábue, enquanto China, Índia e Brasil, além de outros latino-americanos como a Argentina, o Equador e o Uruguai se abstiveram. 

*Atualizada às 14h23 do dia 27/03/2014

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaCrimeiaEuropaONURússiaUcrânia

Mais de Mundo

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda, vence eleições no Uruguai, segundo projeções

Mercosul precisa de "injeção de dinamismo", diz opositor Orsi após votar no Uruguai

Governista Álvaro Delgado diz querer unidade nacional no Uruguai: "Presidente de todos"

Equipe de Trump já quer começar a trabalhar em 'acordo' sobre a Ucrânia