O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon: ele alertou para os perigos de um processo eleitoral na Síria agora (Fabrice Coffrini/AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de abril de 2014 às 16h00.
Nova York - O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, e o mediador internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, advertiram nesta segunda-feira que a convocação de eleições presidenciais no país representa um obstáculo para as negociações de paz.
"Os dois avisaram várias vezes que a realização de eleições nas atuais circunstâncias, com um conflito em curso e deslocamentos maciços, prejudicará o processo político e dificultará as perspectivas de uma solução política", declarou hoje perante a imprensa o porta-voz de Ban, Stephane Dujarric.
Ele ressaltou que as eleições são "incompatíveis com a Convenção de Genebra", que dão base as conversas de paz entre governo e oposição.
"Em todo caso, continuaremos buscando e trabalhando com qualquer possibilidade de solucionar a tragédia na Síria", acrescentou.
Brahimi já tinha alertado no mês passado que uma convocação eleitoral na atual situação poderia terminar com o incipiente processo de diálogo entre as partes. Apesar das advertências internacionais, o presidente do parlamento sírio, Mohammad al Laham, anunciou hoje que a votação acontecerá em 3 de junho, e que o registro de candidatos poderá ser feito a partir de amanhã.
Imediatamente a Coalizão Nacional Síria (CNFROS), principal aliança política opositora, rejeitou a convocação e declarou que "não as reconhecerá". Por telefone, o dirigente da CNFROS, Monzer Akbik, disse à Agência Efe que o presidente sírio, Bashar al-Assad, "está em um estado de negação e separação total da realidade".
"Estas eleições serão um teatro", sentenciou Akbik, que é assistente do presidente da CNFROS, Ahmed Yarba.
As eleições já estavam previstas para este ano, embora não esperadas para o último trimestre. O mandato de Bashar al-Assad termina em 17 de julho e, conforme a Carta Magna, as eleições deveriam ocorrer entre 60 e 90 dias depois.
Em 17 de março, o parlamento sírio concluiu a aprovação da nova Lei Eleitoral. Pela primeira vez em décadas será permitida a apresentação de vários candidatos ao pleito presidenciais.
Mesmo assim, a norma estipula que os aspirantes devem ter residido na Síria durante dez anos consecutivos contando a data de registro como candidatos e não podem ter uma segunda nacionalidade, fato que dificulta a concorrência de muitos opositores que estão exilados.
Bashar al-Assad chegou ao poder em 17 de julho de 2000, uma semana depois da morte do antecessor, seu pai, Hafez al-Assad. Em 2007, foi reeleito em um referendo.
Desde que Hafez al-Assad assumiu a presidência em 1971, quase todas as eleições presidenciais na Síria foram realizadas somente com um candidato. A nova Constituição aprovada em 2012 permite o multipartidarismo e mais de um aspirante presidencial. EFE