Mundo

OMS vê 'explosão' do zika; Américas podem ter 4 mi de casos

4 milhões de pessoas podem ser contaminadas nas Américas ainda neste ano, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas)


	Aedes aegypti, mosquito transmissor do zika vírus: 4 milhões de pessoas podem ser contaminadas nas Américas ainda neste ano, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas)
 (Luis Robayo/AFP/AFP)

Aedes aegypti, mosquito transmissor do zika vírus: 4 milhões de pessoas podem ser contaminadas nas Américas ainda neste ano, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) (Luis Robayo/AFP/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de janeiro de 2016 às 08h30.

Genebra - Com meses de atraso e sob pressão, a Organização Mundial da Saúde (OMS) soou o alerta sobre o zika vírus, apontou para uma proliferação "explosiva" e pode declarar emergência internacional no início da semana que vem.

No total, 4 milhões de pessoas podem ser contaminadas nas Américas ainda neste ano, de acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). O cálculo tem como base a previsão de que o Brasil chegue a 1,5 milhão de infectados até dezembro.

A diretora da entidade, Margaret Chan, anunciou a convocação de uma reunião de especialistas para segunda-feira com a meta de definir uma estratégia e sinalização de mudança de posição de sua entidade.

Caso seja declarado como emergência, o surto seria o quarto na história a ganhar tal status - após H1N1, pólio e Ebola.

A reportagem apurou, em Brasília, que a situação preocupa o Itamaraty e já estaria havendo uma pressão do governo brasileiro para que, em caso de emissão de um alerta mundial, não seja incluída a recomendação para que as pessoas não visitem o Brasil durante os próximos meses (com carnaval e Olimpíada no Rio).

Procurado oficialmente, o Ministério das Relações Exteriores não se pronunciou.

Mas, em Genebra, a OMS também já se mobilizava para tentar blindar o Brasil de um impacto econômico internacional negativo, impedindo restrições de viagens ou de comércio.

Mudança de tom

Depois de meses em silêncio, na quinta-feira, Margaret Chan adotou um tom forte sobre o surto. "Há uma proliferação explosiva. Estamos profundamente preocupados. O nível de alerta é extremamente alto, principalmente diante da possibilidade de uma ligação com microcefalia. A relação ainda não foi estabelecida (mais informações nesta página). Mas há uma forte suspeita e essa relação mudou o perfil de risco. Estamos falando de proporções alarmantes", disse.

"O nível de preocupação é alto, assim como a incerteza. Precisamos rapidamente de respostas."

Agora, os cientistas da OMS vão examinar a progressão do vírus e determinar o que deve ser feito.

Além de declarar a emergência, eles podem exigir que governos de todo o mundo coloquem medidas para identificar o vírus e recomendações sobre viagens poderão ser feitas. Outra medida que será anunciada é sobre os setores de pesquisa que terão prioridade.

À reportagem, Margaret explicou que um dos principais motivos da reunião é a proliferação de recomendações que governos começam a fazer sobre viajar ou não ao Brasil.

A estratégia de evitar um isolamento do País foi revelada pela alta cúpula da agência da ONU com exclusividade à reportagem, depois de receber sinais concretos de que governos na Europa e América do Norte estariam preparando recomendações mais duras.

"As respostas precisam ser proporcionais", disse, afastando qualquer possibilidade de uma recomendação para que turistas evitem o Brasil. "Como é que faríamos isso? Teríamos de adotar até restrições internas de viagens", disse.

Para ela, uma das principais funções da reunião de segunda-feira é a de padronizar as recomendações, justamente para evitar "medidas excessivas e inapropriadas". "Diante de tanta incerteza, temos de ter cuidado com as recomendações", afirmou.

Nos Estados Unidos, as mulheres grávidas ou que estiverem pensando em engravidar já são orientadas a adiar viagens ao Brasil. O diretor do Departamento de Surtos da OMS, Bruce Aylward, que coordenou o combate ao ebola, prefere não se pronunciar a respeito.

"A decisão por enquanto é de cada país", disse Aylward. "Obviamente, todas precisam agir com cautela, da mesma forma que deveriam pensar na dengue", ressaltou.

Demora

Para cientistas e ONGs, a OMS está repetindo com o Brasil os mesmos erros no combate ao ebola. No caso da doença na África, a entidade só reagiu em março de 2014, quatro meses depois da descoberta do surto. Para parar a doença, a comunidade internacional gastou US$ 1,8 bilhão.

Para Lawrence Gostin, da Georgetown University, em Washington, a demora da OMS pode ainda trazer consequências. "Às vésperas dos Jogos Olímpicos no Rio, esse vírus certamente tem um potencial de pandemia", alertou. "A resposta tem sido fraca e tardia."

Aylward rejeitou qualquer crítica. "A palavra certa para usarmos é ‘preocupação’. Dizer que estamos alarmados não seria correto", insistiu. Ele se recusou até mesmo a reconhecer os números da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), que declarou que sua previsão era de que o vírus atingiria 4 milhões de pessoas até o fim do ano apenas nas Américas.

"Nós não falamos isso. No ano que vem, o número do Brasil vai cair. Houve uma transmissão intensa em 2015 e a tendência agora é de cair por ter um número menor de pessoas vulneráveis ao vírus", contestou.

Já na avaliação do diretor da Opas, Marcos Espinal, a proliferação "vai continuar, vai sair das Américas e vai para todos os lugares". "Estimamos até 4 milhões de casos até o fim do ano."

Sylvan Aldighieri, outro especialista da Opas, explicou que o cálculo foi feito depois que 2 milhões de pessoas foram afetadas pela dengue em 2015 na região.

"No caso do zika, sem imunidade para cerca de 500 milhões de pessoas, acreditamos que teremos entre 3 milhões e 4 milhões de afetados", disse.

Acompanhe tudo sobre:DoençasEpidemiasOMS (Organização Mundial da Saúde)SaúdeZika

Mais de Mundo

Social-democratas nomeiam Scholz como candidato a chanceler nas eleições antecipadas

Musk critica caças tripulados como o F-35 — e exalta uso de drones para guerras

Líder supremo do Irã pede sentença de morte contra Netanyahu

Hezbollah coloca Tel Aviv entre seus alvos em meio a negociações de cessar-fogo