Ebola: doença tornou-se emergência de saúde mundial (Baz Ratner/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de julho de 2019 às 20h32.
Última atualização em 15 de agosto de 2019 às 17h59.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta quarta-feira (17) a epidemia de ebola uma "emergência de saúde pública de interesse internacional", três dias depois do surgimento de um caso em uma cidade na fronteira do leste da República Democrática do Congo (RDC).
"É hora de que o mundo tome conhecimento", disse em um comunicado o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que aceitou o conselho de sua junta assessora de invocar as disposições de emergência utilizadas pelo organismo de saúde da ONU apenas em quatro ocasiões precedentes.
As anteriores foram a gripe H1N1, em 2009, a propagação do vírus da pólio em 2014, a epidemia de ebola que afetou grande parte da África Ocidental (Libéria, Guiné e Serra Leoa, em particular) entre 2014 e 2016, assim como o vírus Zika, também em 2016.
Tedros pediu à comunidade internacional que "redobre os esforços": "Necessitamos trabalhar juntos com a RDC para pôr fim a esta epidemia e construir um sistema de saúde melhor".
A epidemia de ebola tirou a vida de 1.668 pessoas em zonas remotas do Kivu do Norte desde que foi declarada no país, há quase um ano.
Este procedimento significa que a situação é "grave, repentina, incomum ou inesperada", com consequências sanitárias "além das fronteiras nacionais do Estado afetado", o que "pode exigir uma ação internacional imediata", segundo os critérios do Regulamento Sanitário Internacional.
Mas o surgimento de um caso na capital de Kivu do Norte, Goma, na fronteira com Ruanda, que acabou com a morte do paciente, aumentou a gravidade da crise.
Goma é uma cidade fronteiriça de aproximadamente um milhão de habitantes situada na margem norte do lago Kivu, junto com a cidade ruandesa de Gisenyi.
Tem um porto que conecta com Bukavu e com a província de Kivu do Sul e um aeroporto com voos para Kinshasa, a capital de Uganda, Entebbe, e Adis Abeba, a capital de Etiópia.
O paciente de Goma foi descrito como um pregador evangélico que havia viajado da cidade até Butembo, um dos povoados mais afetados pelo ebola.
Segundo foi informado, havia tocado em vários pacientes de ebola e ocultado sua identidade para evitar os controles de saúde enquanto se dirigia a Goma.
"O risco de propagação do ebola na região continua sendo elevado, mas é baixo fora" dela, advertiu Tedros.
A OMS havia planejado declarar a emergência sanitária em junho, quando a epidemia atingiu a vizinha Uganda, onde morreram dois pacientes.
Na quarta à noite, as autoridades da Uganda procuravam pessoas que tivessem estado em contato com um caso confirmado de ebola originário da RDC.
"É fundamental que os Estados não utilizem o status de emergência global como desculpa para impor restrições comerciais e de traslados que poderiam ter um impacto negativo sobre a resposta (de saúde) e sobre a vida da população na região", ressaltou o professor Robert Steffen, chefe do Comitê de Urgência da OMS.
"Temos que mudar de método" na luta contra o ebola, reagiu Médicos Sem Fronteiras (MSF) em um comunicado.
"Em um contexto onde a busca dos casos de contatos (com o portador do vírus) não é totalmente eficaz e onde todas as pessoas afetadas não são detectadas, uma abordagem de maior envergadura é indispensável para a prevenção da epidemia", alertou a organização.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha e da Meia-Lua Vermelha (IFRC) destacou que "acolhe com grande satisfação" esta decisão.
"Embora isto não mude a realidade sobre o terreno para as pessoas afetadas (...) esperamos que atraia a atenção internacional que esta crise merece", apontou a IFRC em um comunicado.
Os especialistas do Comitê de Urgência da OMS expressaram, por outro lado, sua "decepção pelos atrasos na ajuda" econômica.
O Comitê reconheceu que havia escassez de vacinas, consideradas eficazes para frear a epidemia, e aconselhou à OMS pedir apoio aos Estados e aos laboratórios.