Obama quer que Congresso faça governo funcionar para muitos
Discurso do Estado da União teve como foco a justiça econômica para a classe média, num momento em que o democrata busca dar um viés mais assertivo ao seu segundo mandato
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2013 às 08h38.
Washington - O presidente dos EUA , Barack Obama, desafiou na terça-feira um dividido Congresso a elevar o salário mínimo e fazer o governo trabalhar "para muitos", em um discurso do Estado da União que teve como foco a justiça econômica para a classe média, num momento em que o democrata busca dar um viés mais assertivo ao seu segundo mandato.
Em busca de aproveitar o impulso da sua reeleição conquistada em novembro, Obama prometeu voltar suas atenções para problemas econômicos como o desemprego de 7,9 por cento, questão que assombrou os primeiros quatro anos do seu governo.
Sem oferecer concessões aos republicanos em suas reivindicações de cortes nos gastos públicos, Obama reiterou apoio a uma elevação de impostos para os mais ricos e a um plano de gastos de 50 bilhões de dólares para gerar empregos por meio da reconstrução de pontes e estradas degradas.
Foi a segunda vez em poucas semanas que Obama usou uma ocasião importante para mostrar um novo lado, mais ousado. A primeira foi no seu discurso de posse no segundo mandato, quando defendeu enfaticamente os direitos dos homossexuais e colocou a questão climática de volta na pauta.
Na terça-feira, Obama anunciou planos para retirar 34 mil dos 66 mil soldados do Afeganistão ao longo do próximo ano, e voltou a defender a realização de uma reforma imigratória.
O discurso durou uma hora, e no momento mais emotivo ele conclamou o Congresso a proibir armas de assalto e adotar outras medidas de controle de armas de fogo. Vítimas de recentes ataques a tiros --inclusive de uma chacina de crianças em Connecticut-- estavam na plateia, e algumas foram às lágrimas.
Mas a ênfase central do seu discurso foi na "construção de novas escadas de oportunidade" para a classe média.
"É nossa tarefa inconclusa assegurar que este governo trabalhe em nome de muitos, e não apenas de alguns poucos", disse Obama no plenário da Câmara dos Deputados, diante de centenas de parlamentares, funcionários do Executivo e dignitários.
Seu pronunciamento ao Congresso reunido ocorreu em meio a mais uma disputa acirrada com os republicanos por causa de impostos e gastos públicos. Enquanto ele ainda discursava, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, o acusava de oferecer "pouco mais do que as mesmas políticas de estímulos que já foram incapazes de consertar nossa economia e colocar os norte-americanos de volta ao trabalho".
As declarações foram feitas em nota divulgada enquanto Obama ainda fazia o discurso, e o presidente da Câmara estava sentado atrás dele, lançando eventuais olhares de reprovação. "O presidente teve uma oportunidade de oferecer uma solução esta noite, e a deixou escapar", disse Boehner na nota.
Oportunidades escassa
Obama agora corre contra o tempo. Ele tem cerca de um ano para aprovar suas prioridades legislativas antes que os norte-americanos voltem suas atenções para as eleições parlamentares de 2014.
As palavras mais duras do discurso foram num apelo de Obama para que os congressistas cheguem a um acordo que evite o contingenciamento de gastos públicos previsto para entrar em vigor ao final deste mês.
Os norte-americanos, disse ele, não esperam que o governo resolva todos os problemas, mas "esperam que coloquemos os interesses da nação à frente do partido. Esperam que forjemos compromissos razoáveis onde pudermos".
Muitas das suas propostas podem esbarrar em dificuldades no Congresso. Ele propôs elevar o salário mínimo dos EUA de 7,25 para 9 dólares por hora. Os republicanos geralmente se opõem a elevações do salário mínimo, por temerem que isso leve as empresas a demitirem pessoal.
Obama também apoia um programa de 50 bilhões de dólares para financiar obras em pontes e outras infraestruturas, mas muitos republicanos rejeitam isso, argumentando que os 87 bilhões de dólares gastos em estímulos econômicos no primeiro mandato de Obama não levaram a uma reversão dramática da taxa de desemprego.
"Nossa economia está agregando empregos, mas muita gente ainda não consegue encontrar um emprego em tempo integral", disse ele. "Os lucros corporativos dispararam para recordes históricos, mas há mais de uma década os salários e a renda mal se movem." Obama disse que, para compensar os cortes, ele gostaria de elevar a arrecadação em 800 bilhões de dólares, eliminando lacunas tributárias aproveitadas por muitos norte-americanos ricos.
É uma proposta que Boehner apoiava até aceitar relutantemente uma alíquota maior para o imposto de renda, como parte do pacote que evitou uma crise fiscal no final de 2012. Agora, os republicanos não se mostram dispostos a novos aumentos tributários, preferindo que o governo corte gastos.
Num aceno a essas preocupações dos republicanos, que acusam o governo de gastar descontroladamente em programas para idosos e pobres, Obama disse que apoiará esforços para reduzir os gastos com saúde ao longo da próxima década, no mesmo valor proposto por uma comissão bipartidária cujas recomendações haviam sido rejeitadas pela Casa Branca.
Apesar disso, o senador Marco Rubio, estrela em ascensão no Partido Republicano e possível candidato presidencial em 2016, acusou Obama de ser muito apegado ao governo grande.
"Espero que o presidente abandone sua obsessão com elevar impostos e, em vez disso, colabore conosco para alcançarmos o crescimento real da nossa economia", disse Rubio na resposta oficial dos republicanos ao discurso de Obama.
Obama também cobrou dos parlamentares uma rápida revisão das leis imigratórias, de modo a oferecer uma chance de legalização para cerca de 11 milhões de imigrantes irregulares nos EUA. Os republicanos, que foram castigados pelo eleitorado hispânico nas urnas em novembro, estão agora mais dispostos a aceitar essa reforma, mas antes disso querem a adoção de medidas que torne a fronteira com o México menos permeável.
O presidente também impôs um ultimato ao Congresso para agir na questão climática, e lembrou que os 12 anos mais quentes já registrados ocorreram nos últimos 15 anos. O presidente disse que, se não houver uma ação legislativa nesse quesito, ele vai recorrer a ordens executivas.
Levando o discurso para um final emotivo, Obama pediu ao Congresso que vote medidas para ampliar as verificações de antecedentes na compra de armas, para coibir o tráfico de armas, para banir as armas de assalto e para limitar o tamanho dos cartuchos de munição. Acrescentou que agir assim seria honrar as vítimas de massacres em lugares cujos nomes ele citou: Newtown, Aurora, Oak Creek, Tucson, Blacksburg. "Eles merecem um voto", afirmou.
Obama e seu vice, Joe Biden, vêm tentando construir apoio popular ao controle de armas, depois da morte de 20 crianças numa escola em Newtown, em dezembro, num dia que Obama descreveu como o pior do seu governo.
Mas eles enfrentam uma árdua batalha contra o poderoso lobby pró-armas e contra a forte tradição norte-americana ligada à caça e à posse de armas. O direito ao porte de armas está assegurado na Constituição dos EUA.
Washington - O presidente dos EUA , Barack Obama, desafiou na terça-feira um dividido Congresso a elevar o salário mínimo e fazer o governo trabalhar "para muitos", em um discurso do Estado da União que teve como foco a justiça econômica para a classe média, num momento em que o democrata busca dar um viés mais assertivo ao seu segundo mandato.
Em busca de aproveitar o impulso da sua reeleição conquistada em novembro, Obama prometeu voltar suas atenções para problemas econômicos como o desemprego de 7,9 por cento, questão que assombrou os primeiros quatro anos do seu governo.
Sem oferecer concessões aos republicanos em suas reivindicações de cortes nos gastos públicos, Obama reiterou apoio a uma elevação de impostos para os mais ricos e a um plano de gastos de 50 bilhões de dólares para gerar empregos por meio da reconstrução de pontes e estradas degradas.
Foi a segunda vez em poucas semanas que Obama usou uma ocasião importante para mostrar um novo lado, mais ousado. A primeira foi no seu discurso de posse no segundo mandato, quando defendeu enfaticamente os direitos dos homossexuais e colocou a questão climática de volta na pauta.
Na terça-feira, Obama anunciou planos para retirar 34 mil dos 66 mil soldados do Afeganistão ao longo do próximo ano, e voltou a defender a realização de uma reforma imigratória.
O discurso durou uma hora, e no momento mais emotivo ele conclamou o Congresso a proibir armas de assalto e adotar outras medidas de controle de armas de fogo. Vítimas de recentes ataques a tiros --inclusive de uma chacina de crianças em Connecticut-- estavam na plateia, e algumas foram às lágrimas.
Mas a ênfase central do seu discurso foi na "construção de novas escadas de oportunidade" para a classe média.
"É nossa tarefa inconclusa assegurar que este governo trabalhe em nome de muitos, e não apenas de alguns poucos", disse Obama no plenário da Câmara dos Deputados, diante de centenas de parlamentares, funcionários do Executivo e dignitários.
Seu pronunciamento ao Congresso reunido ocorreu em meio a mais uma disputa acirrada com os republicanos por causa de impostos e gastos públicos. Enquanto ele ainda discursava, o presidente da Câmara, o republicano John Boehner, o acusava de oferecer "pouco mais do que as mesmas políticas de estímulos que já foram incapazes de consertar nossa economia e colocar os norte-americanos de volta ao trabalho".
As declarações foram feitas em nota divulgada enquanto Obama ainda fazia o discurso, e o presidente da Câmara estava sentado atrás dele, lançando eventuais olhares de reprovação. "O presidente teve uma oportunidade de oferecer uma solução esta noite, e a deixou escapar", disse Boehner na nota.
Oportunidades escassa
Obama agora corre contra o tempo. Ele tem cerca de um ano para aprovar suas prioridades legislativas antes que os norte-americanos voltem suas atenções para as eleições parlamentares de 2014.
As palavras mais duras do discurso foram num apelo de Obama para que os congressistas cheguem a um acordo que evite o contingenciamento de gastos públicos previsto para entrar em vigor ao final deste mês.
Os norte-americanos, disse ele, não esperam que o governo resolva todos os problemas, mas "esperam que coloquemos os interesses da nação à frente do partido. Esperam que forjemos compromissos razoáveis onde pudermos".
Muitas das suas propostas podem esbarrar em dificuldades no Congresso. Ele propôs elevar o salário mínimo dos EUA de 7,25 para 9 dólares por hora. Os republicanos geralmente se opõem a elevações do salário mínimo, por temerem que isso leve as empresas a demitirem pessoal.
Obama também apoia um programa de 50 bilhões de dólares para financiar obras em pontes e outras infraestruturas, mas muitos republicanos rejeitam isso, argumentando que os 87 bilhões de dólares gastos em estímulos econômicos no primeiro mandato de Obama não levaram a uma reversão dramática da taxa de desemprego.
"Nossa economia está agregando empregos, mas muita gente ainda não consegue encontrar um emprego em tempo integral", disse ele. "Os lucros corporativos dispararam para recordes históricos, mas há mais de uma década os salários e a renda mal se movem." Obama disse que, para compensar os cortes, ele gostaria de elevar a arrecadação em 800 bilhões de dólares, eliminando lacunas tributárias aproveitadas por muitos norte-americanos ricos.
É uma proposta que Boehner apoiava até aceitar relutantemente uma alíquota maior para o imposto de renda, como parte do pacote que evitou uma crise fiscal no final de 2012. Agora, os republicanos não se mostram dispostos a novos aumentos tributários, preferindo que o governo corte gastos.
Num aceno a essas preocupações dos republicanos, que acusam o governo de gastar descontroladamente em programas para idosos e pobres, Obama disse que apoiará esforços para reduzir os gastos com saúde ao longo da próxima década, no mesmo valor proposto por uma comissão bipartidária cujas recomendações haviam sido rejeitadas pela Casa Branca.
Apesar disso, o senador Marco Rubio, estrela em ascensão no Partido Republicano e possível candidato presidencial em 2016, acusou Obama de ser muito apegado ao governo grande.
"Espero que o presidente abandone sua obsessão com elevar impostos e, em vez disso, colabore conosco para alcançarmos o crescimento real da nossa economia", disse Rubio na resposta oficial dos republicanos ao discurso de Obama.
Obama também cobrou dos parlamentares uma rápida revisão das leis imigratórias, de modo a oferecer uma chance de legalização para cerca de 11 milhões de imigrantes irregulares nos EUA. Os republicanos, que foram castigados pelo eleitorado hispânico nas urnas em novembro, estão agora mais dispostos a aceitar essa reforma, mas antes disso querem a adoção de medidas que torne a fronteira com o México menos permeável.
O presidente também impôs um ultimato ao Congresso para agir na questão climática, e lembrou que os 12 anos mais quentes já registrados ocorreram nos últimos 15 anos. O presidente disse que, se não houver uma ação legislativa nesse quesito, ele vai recorrer a ordens executivas.
Levando o discurso para um final emotivo, Obama pediu ao Congresso que vote medidas para ampliar as verificações de antecedentes na compra de armas, para coibir o tráfico de armas, para banir as armas de assalto e para limitar o tamanho dos cartuchos de munição. Acrescentou que agir assim seria honrar as vítimas de massacres em lugares cujos nomes ele citou: Newtown, Aurora, Oak Creek, Tucson, Blacksburg. "Eles merecem um voto", afirmou.
Obama e seu vice, Joe Biden, vêm tentando construir apoio popular ao controle de armas, depois da morte de 20 crianças numa escola em Newtown, em dezembro, num dia que Obama descreveu como o pior do seu governo.
Mas eles enfrentam uma árdua batalha contra o poderoso lobby pró-armas e contra a forte tradição norte-americana ligada à caça e à posse de armas. O direito ao porte de armas está assegurado na Constituição dos EUA.