Tiroteio em San Bernardino, Califórnia: "A esse ponto, não sabemos por que aconteceu. Não sabemos a extensão dos planos deles" (Mario Anzuoni/Reuters)
Da Redação
Publicado em 3 de dezembro de 2015 às 13h49.
Autoridades americanas procuravam nesta quinta-feira identificar as motivações de um casal que matou 14 pessoas no dia anterior na Califórnia, em um tiroteio atípico, que se assemelha a um acesso de raiva contra colegas de trabalho ou a um ataque terrorista.
O presidente Barack Obama afirmou nesta quinta-feira que a motivação do tiroteio da véspera na Califórnia ainda não é conhecida, mas um ataque terrorista não está descartado.
"A esse ponto, não sabemos por que aconteceu. Não sabemos a extensão dos planos deles. Não conhecemos suas motivações".
"É possível que tenha a ver com terrorismo. Mas não sabemos. E também é possível que esteja relacionado com o ambiente de trabalho", acrescentou.
Obama também ordenou que as bandeiras fiquem a meio mastro em função do tiroteio na Califórnia.
Por que Syed Farook e sua esposa Tashfeen Malik invadiram, com toda a pompa de um comando, um prédio do serviço social de San Bernardino, onde acontecia uma festa de fim de ano, depois de deixar o seu bebê com a avó?
Os dois, fortemente armados, abriram fogo contra colegas de Farook, fazendo outros 17 feridos. O pior massacre nos Estados Unidos nos últimos três anos.
O casal foi morto pela polícia após várias horas de perseguição em uma operação gigantesca que mobilizou centenas de agentes locais, do FBI e unidades de elite da SWAT.
O homem e a mulher, com 28 e 27 anos respectivamente, pareciam viver o "sonho americano" e tinham uma filha de apenas seis meses, entregue à mãe de Syed Farook no início do dia com o pretexto de uma consulta médica, de acordo com um irmão do jovem.
Farook, um cidadão americano, havia trabalhado como especialista sanitário para os serviços de saúde de San Bernardino, a leste da cidade de Los Angeles.
Farook compareceu durante a manhã à festa de Natal que o condado de San Bernardino organizou para os funcionários no Centro Regional Inland, que atende pacientes com deficiência mental.
Na festa, ele teria se desentendido com colegas e deixado o local, retornando mais tarde com sua esposa para perpetrar o massacre.
Acesso de raiva
Mas a hipótese de "um acesso de raiva" casa mal com um ataque aparentemente planejado e organizado, por autores que a polícia tem classificado de "determinados".
"Eu não acredito que eles tenham simplesmente pegado seu equipamento paramilitar e suas armas por um momento de raiva", considerou o chefe da polícia local, Jarrod Burguan.
O ataque "supõe um grau de preparação", acrescentou.
A polícia de San Bernardino, assim como o FBI, recusa-se a confirmar ou descartar a pista terrorista, evocando um ato similar a "um tipo de terrorismo doméstico".
Os investigadores concentravam seus esforços nesta quinta-feira a decifrar as personalidades de Syed Farook e Tashfeen Malik.
O primeiro era um muçulmano devoto, segundo seu pai, cuja família é originária do Paquistão.
A mulher, também muçulmana, nasceu no Paquistão e viveu na Arábia Saudita, onde foi apresentada a Farook.
"A família parecia praticar uma religião moderada, de maneira séria, mas sem mostrar sinais de fanatismo, extremismo, do que eu posso dizer depois de ter encontrado alguns de seus membros", declarou à rádio pública NPR Hussam Ayloush, um funcionário do Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR) em Los Angeles.
Casado há dois anos, o casal parecia desfrutar uma vida estável, tendo Farook uma boa situação profissional.
Embora não tenha sido estabelecida nenhuma relação do ataque com uma ideologia ou crença religiosa, a comunidade muçulmana da Califórnia condenou firmemente o ataque em uma coletiva de imprensa improvisada.
Frustração
O cunhado de Farook, Farhan Khan, afirmou em uma entrevista na sede do Conselho de Relações Americano-Islâmicas (CAIR) em Anaheim, ao sul de Los Angeles, "não ter ideia de por quê ele fez isto". "Eu estou chocado", acrescentou.
As investigações também se concentram nas circunstâncias do ataque.
"Sob certo ângulo, parece se tratar de um funcionário frustrado, que foi a uma festa e enlouqueceu", comenta Shawn Henry, um ex-oficial do FBI.
"De outra perspectiva, é de impressionar os sinais que lembram o terrorismo". E explicar: "quando nos perguntamos se é ou não é um ato de terrorismo, precisamos analisar a operação. Aqui eles tinham rifles de assalto, tinham coletes à prova de balas e explosivos. são elementos sintomáticos".
Até 27 de novembro, os Estados Unidos foram palco de 351 tiroteios de massa em 2015, mais de um por dia, de acordo com o site Shootingtracker, que contabiliza todos os incidentes deste tipo.
Texto atualizado às 14h49.