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O vice de Trump: saída pela direita

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York Donald Trump anunciou Mike Pence, governador do estado de Indiana, como seu candidato a vice nas eleições presidenciais americanas em novembro. O nome do companheiro de chapa, um dos movimentos mais aguardados depois da confirmação da vitória do empresário nas primárias, é um sinal de que Trump está disposto […]

PENCE E TRUMP: o candidato a vice disse que proibir imigrantes muçulmanos era uma proposta “ofensiva e inconstitucional” / John Sommers II/Reuters
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Da Redação

Publicado em 15 de julho de 2016 às 17h09.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h58.

Sérgio Teixeira Jr., de Nova York

Donald Trump anunciou Mike Pence, governador do estado de Indiana, como seu candidato a vice nas eleições presidenciais americanas em novembro. O nome do companheiro de chapa, um dos movimentos mais aguardados depois da confirmação da vitória do empresário nas primárias, é um sinal de que Trump está disposto a fazer uma concessão à política partidária, especialmente aos conservadores sociais republicanos. Nascido e criado em Nova York, o bilionário do setor imobiliário apoiou no passado candidaturas democratas e na atual campanha tem passado longe de alguns dos temas mais caros à ala direitista do Grand Old Party (ou GOP, como também é conhecido o Partido Republicano), como aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo. Pence, de 57 anos, é próximo da ala cristã dos republicanos. Os analistas leem na indicação uma tentativa de construir pontes com setores do partido que prefeririam uma vitória do ultraconservador Ted Cruz.

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Trump não perde uma oportunidade de falar diante das câmeras, mas o anúncio foi feito em sua conta do Twitter. A expectativa era que ele o fizesse num evento de imprensa, mas foi cancelado por causa do atentado que deixou 84 mortos em Nice, na Riviera Francesa. No entanto, a notícia não podia esperar: Pence, que governa Indiana desde 2013, tinha de anunciar até o meio-dia de sexta-feira se concorreria à reeleição no estado. Uma entrevista coletiva está prevista para o próximo sábado em Nova York, e no domingo deve ser exibida uma entrevista dos companheiros de chapa no prestigioso programa 60 Minutes, da rede CBS.

A aparição na TV será observada com atenção. Embora Pence fosse considerado o favorito, até meados desta semana Trump não tinha certeza da escolha. Em entrevista à rede de TV Fox News na noite de ontem, ele disse que ainda não tinha tomado uma “decisão final, final”. Trump gosta de se cercar de pessoas de seu círculo, familiares ou amigos. Seu genro, Jared Kushner, é considerado uma das eminências pardas de sua campanha (se é que é possível ficar na sombra perto de um candidato que tem tamanha paixão pelos holofotes). Sua assessora de imprensa é uma jovem de 27 anos que não tinha nenhuma experiência em política — como Kushner e vários de seus outros principais assessores. Segundo a imprensa americana, Trump e Pence não são amigos.

O vice-presidente na chapa, é claro, tem um papel muito mais importante do que o de melhor amigo. Tipicamente, o candidato escolhe um nome que venha de um Estado de peso no colégio eleitoral americano ou, pelo menos, abra caminhos numa parcela do eleitorado ainda por conquistar. Igualmente, o vice costuma ser uma figura relevante dentro do partido. No caso de Trump, esse traço era essencial, pois, em mais de um ano de campanha, o empresário dedicou-se a construir uma imagem anti-establishment. Pence pode não ter um nome reconhecido do grande público, mas isso importa menos do que o fato de ele ser considerado um republicano tradicional e “previsível”, segundo o The New York Times.

“Cristão, conservador e republicano”

Previsíveis também é sua posição em relação aos temas sociais. Apesar de estarem em segundo plano na campanha até aqui, aborto e casamento de pessoas do mesmo sexo são assuntos obrigatórios nas eleições americanas. Pence já se declarou a favor do corte de recursos para a organização de defesa do planejamento familiar Planned Parenthood e aprovou em março uma lei que limitou severamente o tipo de aborto considerado legal em seu estado. Ex-coroinha criado numa família católica, Pence converteu-se evangélico e costuma se descrever como “cristão, conservador e republicano, nesta ordem”.

Nos 12 anos que passou no Congresso, o vice da chapa de Trump foi um opositor implacável dos direitos da comunidade LGBT, muitas vezes sob o argumento de que elas violam os direitos religiosos de parte da população. No ano 2000, ele declarou ser contra o financiamento federal para pessoas infectadas com o vírus HIV, a menos que fossem cortados os repasses para programas “que celebram e incentivam os tipos de comportamento que facilitam a disseminação do vírus HIV”. Em 2007, Pence se opôs a um projeto de lei que protegia homossexuais de discriminação no ambiente de trabalho, afirmando que ela poderia ser usada para discriminar os cristãos.

Na questão do controle de armas, tópico que está nas manchetes depois dos recentes ataques armados de terroristas e dos casos de violência policial, Pence tem posição parecida com a de Trump: ele é contra qualquer nova regra na compra de armas de fogo. A National Rifle Association, organização que faz lobby em nome da indústria de armas, contribuiu para suas campanhas e conferiu-lhe nota A por sua atuação política.

O único tema em que Pence parece ser mais moderado que Trump — pelo menos até sua indicação para vice na chapa — é a imigração. Ele é contra a anistia a imigrantes que entraram ilegalmente no país e defende o endurecimento do controle das fronteiras. Mas, quando Trump defendeu a proibição temporária da entrada de imigrantes muçulmanos (depois dos atentados de Paris e da Califórnia), Pence disse que a proposta era “ofensiva e inconstitucional”. Por outro lado, Pence impediu uma família de refugiados sírios de se estabelecer em Indiana, alegando temor de que eles fossem terroristas.

Trump apoiou o direito ao aborto até 2011 e contribuiu para entidades que atuavam no combate à aids no auge da doença nos Estados Unidos, três décadas atrás. Mas, como tem sido corriqueiro em sua campanha até aqui, mudar de ideia não é um problema para o empresário — especialmente agora, que a corrida começa para valer e cada voto republicano, seja ele socialmente liberal ou ultraconservador, terá de ser conquistado até o dia 8 de novembro.

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