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O silencioso genocídio de uma etnia em Mianmar

A situação desesperadora da minoria étnica de muçulmanos rohingya empurrou milhares deles para o mar em busca de um futuro longe de suas terras

Muçulmanos da etnia rohingya vivem em um campo de refugiados, nos arredores de Sittwe, em Mianmar (Soe Zeya Tun/Reuters/Reuters)

Muçulmanos da etnia rohingya vivem em um campo de refugiados, nos arredores de Sittwe, em Mianmar (Soe Zeya Tun/Reuters/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2014 às 09h17.

Bangcoc - A situação desesperadora da minoria étnica de muçulmanos rohingya, que habita há gerações o noroeste de Mianmar, empurrou milhares deles para o mar em busca de um futuro longe de suas terras.

Um êxodo de mais de 20 mil pessoas, segundo as estimativas da Associação de Rohingyas Birmaneses na Tailândia (BRAT), zarparam nas últimas semanas para a Tailândia, onde esperam escondidos na selva e em campos de borracha pelos traficantes que os ajudam a atravessar até a Malásia, seu destino final.

Desde que explodiu no início de 2012 o último episódio de violência sectária entre budistas e muçulmanos, o conflito tem sido particularmente cruel com os 1,1 milhão de rohingyas que habitam o país.

Atualmente 140 mil rohingyas, segundo os números oficiais, vivem amontoados em condições deploráveis em dezenas de campos de refugiados internos assentados ao longo do estado de Arakan.

"Nossas contas indicam que são mais de 200 mil pessoas, já que muitas não estão registradas. Eles vivem em pequenas tendas com tetos de plástico e solos úmidos, que os expõem às doenças. Nos campos vivem desnutridos, sem acesso a saúde ou educação e sem possibilidade de emprego", afirmou Maung Kyaw Nu, presidente da BRAT.

As águas tranquilas e a pausa do período das chuvas de monções que costumam coincidir entre final de setembro e o princípio de novembro permitem que milhares de pessoas tentem a sorte na tentativa de abandonar a "perseguição à qual estão sendo submetidos em seu país", destacou Maung desde Bangcoc.

Nações Unidas, União Europeia e Estados Unidos protestaram timidamente e algumas poucas vezes contra a perseguição das autoridades locais contra esta minoria, acusada de serem "imigrantes ilegais" de Bangladesh e que as organizações internacionais qualificam como "apátrida".

"Primeiro mataram quase 200 pessoas em tumultos violentos. E agora nos amontoam em campos em condições deploráveis. É como um genocídio silencioso. As pessoas morrem, crianças, idosos, mulheres grávidas. Os guardas espancam os homens e estupram as mulheres. Nos impõem medidas de controle de natalidade para que a população diminua. Estão nos fazendo desaparecer", denunciou o presidente da associação rohingya.

Segundo Maung, os interesses comerciais na região que tradicionalmente habitam, rica em recursos naturais e pesca, é um dos motivos ocultos para o assédio.

"Planificaram um genocídio para ficar com as áreas economicamente estratégicas", enfatizou o ativista.

Apesar do reforço policial das autoridades e das patrulhas de guarda-costeira ordenado pelo governo central da Birmânia, mais de cem mil pessoas conseguiram fugir do país no que é só o começo de uma odisseia.

"Na Tailândia muitos caem nas redes das máfias de tráfico de pessoas que exigem resgates de seus familiares. Um rohingya pode chegar a custar US$ 1 mil e, se ninguém paga pela sua liberdade, são vendidos como escravos nas fazendas tailandesas ou em navios de pesca. Na Malásia também enfrentam problemas por não terem documentos e costumam terminar na prisão", contou Maung.

O vazamento do chamado Rakhine Action Plan, que o governo birmanês avalia aplicar, indicou que para conseguir cidadania os rohingya terão que aceitar serem definidos como "bengalis" e entregar uma série de certificados que muitos perderam.

Uma resolução que poderia deixar dezenas de milhares de rohingya deslocados pelo resto da vida.

Ao contrário de muitas das minorias birmanesas, os rohingya não possuem um exército próprio que defenda seus interesses.

"Somos gente pacífica. Não queremos lutar. Só queremos que nos devolvam nossa vida, nossos direitos. Talvez, embora eu não compartilhe a ideia, tenhamos que começar a nos defender nós mesmos porque estão nos massacrando", sentenciou o ativista, que foi guerrilheiro durante a juventude.

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