O que se sabe sobre a "preocupante" arma espacial russa
Informação foi tornada pública, primeiramente, em um anúncio enigmático na última quarta-feira pelo congressista Michael R. Turner
Redatora
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 06h15.
Uma série de pronunciamentos misteriosos de autoridades norte-americanas na última semana colocou uma possível arma espacial russa no centro das atenções.
A informação foi tornada pública, primeiramente, em um anúncio enigmático na última quarta-feira pelo congressista Michael R. Turner, republicano de Ohio e presidente do Comitê de Inteligência da Câmara. Ele disse que havia uma "grave ameaça à segurança, vinda da Rússia", mas sem dar detalhes sobre o assunto.
O presidente Joe Biden posteriormente afirmou que o Kremlin vem desenvolvendo uma arma espacial antissatélite que não representa uma ameaça direta às vidas humanas.
Já o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby disse que a Rússia tem uma nova arma antissatélite "preocupante". Segundo informações da Bloomberg, a arma ainda não está em operação, mas o Kremlin teria planos de colocá-la em funcionamento ainda este ano.
Kirby não deixou claro se a arma é capaz de transportar arsenal nuclear, mas disse que essa possibilidade significa violação do Tratado do Espaço Sideral Internacional de 1967, assinado por mais de 130 países, inclusive pela Rússia. No entanto, segundo fontes da Bloomberg, se trataria, de fato, de uma arma nuclear.
O acordo proíbe a implantação de "armas nucleares ou qualquer outro tipo de armas de destruição em massa" em órbita ou o posicionamento de "armas no espaço de qualquer outra maneira".
Segundo o jornal New York Times, a Casa Branca também teria feito um alerta sobre o assunto ao Congresso e seus aliados europeus. De acordo com o NYT, a nova arma russa seria destinada a destruir satélites, colocando em risco comunicações civis, vigilância espacial e operações de comando e controle militar dos EUA e de seus aliados.
De acordo com um ex-funcionário do governo ouvido pelo jornal, os Estados Unidos não têm hoje a capacidade de neutralizar tal arma e defender seus satélites.
O que diz a Rússia?
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou que Moscou não tem intenção de implantar armas nucleares no espaço, durante uma reunião televisionada com o ministro da defesa, Sergei Shoigu, Putinna última terça-feira, 20.
"Nossa posição é bastante clara e transparente: sempre fomos e continuamos categoricamente contra o implante de armas nucleares no espaço", disse Putin. "Pelo contrário, estamos instando todos a aderir a todos os acordos existentes nesta esfera."
Ele chamou as acusações de parte de um "alarido levantado no Ocidente" e disse que a Rússia desenvolveu apenas capacidades espaciais que "outras nações, incluindo os EUA, têm". "E eles sabem disso", disse ele.
"Nós não implantamos armas nucleares no espaço ou quaisquer elementos deles para usar contra satélites ou criar campos onde os satélites não possam funcionar eficientemente", disse o ministro Shoigu.
Shoigu alegou que a Casa Branca poderia ter feito as alegações de uma nova capacidade espacial russa para forçar o Congresso a apoiar ajuda para a Ucrânia e também encorajar Moscou a voltar às negociações de controle de armas nucleares que a Rússia suspendeu em meio às tensões com os EUA sobre a Ucrânia.
Putin não descartou possíveis contatos futuros com os EUA, mas reafirmou sua opinião de que o esforço de Washington pela derrota da Rússia na Ucrânia torna tal cenário impossível por enquanto.
"Os EUA e o Ocidente, por um lado, estão pedindo a derrota estratégica da Rússia, enquanto, por outro lado, gostariam de ter um diálogo sobre estabilidade estratégica, fingindo que essas coisas não estão conectadas", disse ele. "Não vai funcionar."
Possíveis consequências
Mesmo que a Rússia não tenha planos de detonar a arma espacial, há risco de acidentes, segundo a Bloomberg, e uma explosão nuclear poderia potencialmente afetar cerca de um terço dos satélites e causar estragos nos sistemas de comunicação na Terra, disseram elas.
Outro fator que determinaria as consequências potenciais é a altitude em que ocorresse qualquer explosão. A maioria dos satélites comerciais está em órbita terrestre baixa, a menos de 2.000 quilômetros da superfície.
Especialistas disseram à Bloomberg que o dano causado por uma arma nuclear explodindo em órbita terrestre baixa poderia afetar satélites por centenas de quilômetros e que a radiação resultante poderia causar danos cumulativos por meses. Os eletrônicos das espaçonaves também correriam risco de falha como resultado da explosão.
O impacto de qualquer explosão dependeria do tamanho da ogiva e os efeitos não necessariamente significariam a destruição dos satélites, mas poderiam significar interrupções que exigiriam correções de erro, de acordo com uma pessoa familiarizada com armas espaciais.
Até abril do ano passado, havia quase 7.800 satélites operacionais em órbita da Terra, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral.
Nova Guerra Fria?
A suposta ambição do Kremlin destaca a crescente competição entre os EUA, Rússia e China para desenvolver capacidades de ataque em órbita. Essa nova corrida espacial contrasta com a da Guerra Fria, quando as duas superpotências negociaram uma série de acordos de controle de armas destinados a evitar a militarização do espaço.
No entanto, a Rússia tem recorrido repetidamente ao jogo de ameaças nucleares conforme suas forças têm vacilado desde a invasão da Ucrânia há dois anos. Putin suspendeu a observação de seu país ao tratado Novo START em 2023, o último acordo que limitava o tamanho dos arsenais nucleares dos EUA e da Rússia.
Os Estados Unidos e seus aliados estão trabalhando para dissuadir a Rússia de implantar a nova capacidade, especialmente por meio do envolvimento com China e Índia, que são vistas como tendo mais influência em Moscou, disseram as pessoas.
O site de notícias Politico relatou na última quinta-feira que altos funcionários de inteligência e da administração tentaram entrar em contato com Moscou para convencê-la a interromper o projeto há semanas.