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O que esperar da próxima cúpula do G7 (e de Donald Trump)

Pela primeira vez, encontro deve terminar sem um documento final sobre o comércio internacional devido às divergências acentuadas pela presidência de Trump

Encontro do G7, em 2018: países são as sete maiores economias do mundo (Bundesregierung /Jesco Denzel/Handout/Reuters)

Encontro do G7, em 2018: países são as sete maiores economias do mundo (Bundesregierung /Jesco Denzel/Handout/Reuters)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 20 de agosto de 2019 às 13h18.

No momento em que se multiplicam os temas de discórdia entre os Estados Unidos e os demais países ricos, há grandes chances de que o presidente Donald Trump seja, mais uma vez, o desmancha-prazeres na cúpula do G7 do próximo fim de semana em Biarritz, na França.

Segundo analistas, os principais aliados do presidente americano podem esperar, de novo, pelo pior.

Os chefes de Estado e de Governo dos sete países mais industrializados do mundo (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) estavam acostumados a aprazíveis encontros anuais entre os membros daquilo que eventualmente chamam de "clube das democracias" — sobretudo, depois que a Rússia de Vladimir Putin deixou de ser convidada a participar e compor o G8.

Mas isso foi até a chegada de Donald Trump e de sua interpretação muito peculiar das relações internacionais.

Depois da divergência em 2017 na Itália sobre o aquecimento global, o G7 de Quebec no ano passado foi palco de rupturas inéditas.

O presidente dos Estados Unidos subverteu o roteiro milimetricamente preparado para estes grandes encontros internacionais, chamando o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, de "desonesto" em um quadro de tensões comerciais e se recusou a assinar a declaração final da cúpula.

A expectativa é que ele volte a ser um "elefante numa loja de cristais", afirma Robert Guttman, da Johns Hopkins University.

"Trump não vai como homem de Estado, mas como homem político que briga para ser reeleito" em novembro de 2020 e que se dirige "apenas à sua base", acrescentou o especialista.

Além disso, pode ser difícil acomodar seu principal slogan, "America First", com o tema escolhido para esta edição do G7 pelo presidente anfitrião, o francês Emmanuel Macron: a luta contra a desigualdade mundial.

Isso sem falar do clima, outro tema da ordem do dia, mas sobre o qual os demais países-membros abriram um abismo insuperável com o magnata republicano.

Com esse histórico, tudo foi feito para evitar um confronto. Uma fonte diplomática francesa insiste no aspecto informal que Paris pretende dar aos debates, deixando de lado qualquer ambição de um comunicado final exaustivo.

Seria a primeira vez que uma cúpula do G7 terminaria sem um comunicado desde o início das reuniões em 1975, ressaltando o rompimento que a política comercial do presidente norte-americano Donald Trump criou entre as economias do G7.

"É crucial que todos criem um entendimento comum através de um debate aprofundado. Mas é difícil passar mensagens para o resto do mundo quando um comunicado conjunto não será emitido", disse à Reuters uma fonte do governo japonês.

"Não há dúvida de que o G7 discutirá o impacto que os atritos comerciais podem ter sobre a economia global", disse o funcionário à Reuters sob condição de anonimato porque não está autorizado a falar com a imprensa.

O G7 compreende os Estados Unidos, França, Reino Unido, Japão, Alemanha, Itália, Canadá e União Europeia.

A 'estupidez de Macron'

Mesmo com todos os cuidados, há muitos temas passíveis de provocar atritos. A começar por aqueles que afastam o anfitrião e o atual inquilino da Casa Branca, como o meio ambiente.

No fim de julho, Trump criticou a "estupidez de Macron" em relação à tarifa francesa sobre os gigantes americanos da Internet e ameaçou retaliar, taxando o vinho do país europeu. O presidente francês espera pôr um fim a esse imbróglio, assim como obter um gesto de boa vontade do colega dos EUA sobre a questão nuclear iraniana.

Se Trump quiser um novo acordo com Teerã - como ele diz querer -, a pressão não será suficiente, confidencia uma fonte diplomática francesa. Para isso, será necessário que os Estados Unidos deem uma margem de manobra para que se possa oferecer algo aos iranianos em troca de uma negociação.

A França pede a Washington que faça uma pausa nas sanções, aceitando, por exemplo, que Teerã possa exportar uma parte de seu petróleo.

Um tuíte matador de Trump antecipa que essa negociação continuará não sendo fácil. "Ninguém fala pelos Estados Unidos, a não ser os próprios Estados Unidos", advertiu Trump, que acusa os franceses de contribuírem para trazer confusão à mensagem americana ao Irã.

Outro ponto de potencial conflito na cúpula do G7 pode ser sobre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), com o presidente Trump alfinetando a chanceler Angela Merkel, mais uma vez, pelos gastos militares insuficientes de Berlim. Sem falar no possível atrito com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, por sua disputa com a Coreia do Sul.

Neste momento, o presidente americano deve ter pelo menos um aliado: o novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que precisa do apoio de Washington diante de um Brexit sem acordo. Os dois se falaram por telefone na segunda-feira para tratar de Brexit e de economia.

Em relação aos demais colegas do G7, apesar de tudo, são obrigados a conviver com Donald Trump, se quiserem enfrentar Rússia e China na competição estratégica entre potências mundiais.

A União Europeia (UE) "não conseguiu se tornar uma superpotência e ainda precisa contar com os Estados Unidos", explica James Roberts, do "think tank" conservador Heritage Foundation.

"Eles não gostam do estilo do presidente Trump, mas não podem mudar os fatos apenas porque não gostam do mensageiro", completou.

E o polêmico presidente continuará sendo inescapável por algum tempo: será o anfitrião da próxima cúpula do G7, em 2020.

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