O que é o Congresso do Partido Comunista Chinês — e por que traz nova era para Xi Jinping
Congresso do Partido Comunista Chinês começa neste domingo, 16 de outubro
Da Redação
Publicado em 14 de outubro de 2022 às 06h00.
Começa neste domingo, 16 de outubro, um dos eventos mais importantes da China nos últimos anos. É o Congresso do Partido Comunista Chinês (PCCh), que chega a sua 20ª edição. Dentre os destaques, o evento oficializará um novo mandato para o atual presidente, Xi Jinping, além de traçar as diretrizes para o futuro da economia chinesa.
Os congressos do PCCh são momentos sempre marcantes para os rumos da China, país que é hoje a segunda maior economia do mundo e que caminha para ultrapassar os Estados Unidos já na próxima década. Pela importância econômica da China na economia de uma série de países ( incluindo o Brasil ), as decisões no Congresso serão observadas de perto em todo o mundo. Veja abaixo os principais destaques.
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Quem está no Congresso do Partido Comunista
O Congresso do PCCh é aberto no domingo e continua ao longo da próxima semana, sendo encerrado com o anúncio da nova liderança máxima do partido. Neste ano, o líder será novamente Xi Jinping, no cargo desde 2012 e que chega a um terceiro mandato.
Além da escolha da liderança máxima, o Congresso votará também para escolher um comitê central e os sete membros do Politburo, organismo que, ao lado do líder máximo do partido, detém grande poder nas decisões do governo.
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Nos dias de reunião ao longo da próxima semana, os políticos votarão ainda sobre temas centrais, como a política econômica e prioridades no planejamento para os próximos anos.
O Partido Comunista é único na China, mas há grupos e dissidências internas, que terminam refletidos em eventos como o Congresso. Sozinho, o partido tem mais de 90 milhões de membros, maior do que a população de muitos países.
Todas essas decisões são tomadas pelas principais lideranças, que vão ao Congresso como representantes dos demais membros do partido. Neste ano, a estimativa é que serão 2,3 mil delegados de todo o país no encontro.
Por que Xi Jinping seguirá no cargo
As particularidades neste ano estão sobretudo na escolha da liderança. Nas últimas décadas, o encontro costumava marcar uma transição de poder a cada dois ciclos (isto é, dez anos), com mudança no diretor-geral do partido, cargo que é também o do presidente do país.
No entanto, o atual presidente Xi será desta vez reconduzido ao cargo, marcando o início de seu terceiro mandato, após as regras terem sido reescritas em 2018 para permitir sua continuidade pelo resto da vida se assim o partido desejar.
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Na prática, embora o PCCh governe em modelo de partido único, a recondução de Xi ao cargo faz com que a China entre em uma era de indefinição sobre quando, e se, o mandatário deixará o poder, o que não ocorreu com líderes anteriores.
Xi é descrito como o líder mais centralizador do Partido Comunista Chinês desde o próprio Mao Tsé-Tung, que liderou a revolução comunista que levou o PCCh ao poder, em 1949.
Os desafios da China
Além da discussão sobre a liderança, neste ano, o Congresso ocorre em meio a uma reviravolta no mundo com a guerra na Ucrânia, conflito em que a China tem tido papel determinante ao ser destino de exportações russas em meio ao boicote de países do Ocidente.
A China vive também renovado embate com a ilha de Taiwan, que já fez parte do território chinês e hoje tem status autônomo, em um conflito que data desde a ascensão dos comunistas ao poder em 1949. A questão ganhou com força os holofotes neste ano após a visita a Taiwan da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (a primeira desse escalão a ir à ilha desde os anos 1970), que irritou Pequim.
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Em tempo, a guerra comercial com os EUA, intensificada no governo do americano Donald Trump mas permanente na gestão do opositor Joe Biden, também seguirá sendo tema central: a tendência é que a China siga intensificando investimentos em tecnologias-chave, como fabricação de chips.
Dentro de casa, paralelamente, o governo Xi não deixa de sofrer questionamentos, em especial sobre a política de covid zero e lockdowns no país que continuam apesar de mais de 80% da população vacinada. Nesta quinta-feira, 13, a China teria sido palco de um raro protesto contra a liderança do Partido Comunista e Xi, com faixas críticas ao lockdown penduradas em Pequim, segundo imagens divulgadas por redes sociais. (A CNN reportou as evidências dos protestos, mas não conseguiu confirmar de forma independente a veracidade das imagens.)
Enquanto isso, os lockdowns neste ano foram também um sinal de alerta para a economia em todo o mundo, com gargalos na cadeia de suprimento e desaceleração da demanda chinesa - pontos que impactam inclusive o Brasil, que tem na China seu maior parceiro comercial.
Tudo indica que, com a soma de fechamentos das atividades e inflação global, a China deva mostrar crescimento mais lento do que nos últimos anos. Após crescer 8,1% em 2021, a economia chinesa desacelerou neste ano e o Fundo Monetário Internacional cortou a projeção de alta para 3,2% em 2022.
Qual é a história do Partido Comunista Chinês?
O PCCh completou 100 anos em 2021, após ser fundado em 1921 e chegar ao poder em 1949, com Mao tse-Tung. Desde então, os comunistas governam a China, mas, como a EXAME mostrou em reportagem especial sobre o aniversário do partido, a longevidade da legenda vem em parte de certa "flexibilidade", com mecanismos de dissidência interna e votações.
A continuidade de Xi coloca em risco esse histórico, disseram especialistas à EXAME na época do centenário do partido.
Com seus 91 milhões de membros, o PCCh é uma organização única no mundo. Uma das particularidades é que, embora o partido seja obcecado pelo que especialistas chamam de “unidade de pensamento” e as principais diretrizes venham do comando central, o PCCh também possui mecanismos de ouvidoria para dar voz aos filiados — e, por tabela, aos dilemas contemporâneos que acabam sendo carregados para dentro pelos milhões de membros.
A economia também desempenhou papel onipresente para a manutenção do sistema nas últimas décadas na China. Desde o fim dos anos 1970, após a morte de Mao e quando Deng Xiaoping começou a fazer reformas de abertura da economia no país, o PIB chinês subiu incríveis 9.000%.
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Além de um processo de reconciliação com as elites pós-Deng, o país paralelamente tirou 800 milhões de pessoas da pobreza em 40 anos, com ampliação do acesso àeducaçãoe àsaúde. A coroação veio em 2021, ano do centenário do partido, quando Xi foi à mídia estatal anunciar o fim da extrema pobreza na China.
Apesar disso, o país vive agora dilemas de um crescimento menor com a crise global, população envelhecendo e o embate crescente com os EUA. Durante o planejamento para os próximos cinco anos a ser iniciado neste domingo, os desafios não serão poucos.